apesar de já ter colocado uma das cenas mais escabrosas (!!!) do filme multiple maniacs no post anterior, ainda não falei dele. nem preciso falar muito porque, com este filme, só a experiência de vê-lo vale por si. não é um filme, digamos, convencional, com um argumento lógico, com representações que enchem o olho (se exceptuarmos divine, brilhante no seu papel de travesti assassina). é, acima de tudo, um filme sujo, amador, experimental, surrealista. os seus defeitos são talvez os defeitos de muitos filmes que apareceram nos anos 60 e 70: querem ser tão explosivos, tão chocantes, tão sujos que exageram um pouco. e este então...
a carreira de john waters depois continuou com muito mais sucesso em pink flamingos, cry baby, cecil b. demented e hairspray, mas este fica como um filme relevante, apesar de tudo. a força de divine e a força da ousadia nas imagens.
(a célebre cena da crucificação de cristo, misturada com sexo e ... - vai muito mais longe do que qualquer deep throat que se preze e torna outros filmes como brincadeiras de crianças)
durante os anos 60, assistiu-se nos estados unidos a uma autêntica revolução cultural: os direitos civis, a emancipação progressiva da mulher, a tremenda influência dos beatles, a "flower power" e, acima de tudo, a revolução sexual: tudo podia ser experimentado, sentido, vivido. a nível do cinema, o filme que mais sofreu essa influência foi a obra de gerard damiano deep throat (em português garganta funda), que foi o filme que mais aproximou o cinema pornográfico das grandes audiências. foi feito numa altura onde a liberdade era um valor máximo a respeitar, em que as pessoas perguntavam: "se há liberdade neste país, porque é que eu não tenho o direito de ver dirty pictures?, em que se discutia, opinava, em que a pornografia era um fenómeno de moda: o perído chamado porno chic.
com o fenómeno do vídeo, porém, muitos dos realizadores de porno deixaram de acreditar na indústria porque achavam que o vídeo estava a massificar um género que, embora sujo, podia ser altamente criativo. era o chamado amor à arte (ou à carne por detrás da arte, digo eu). essa idade de ouro dos filmes pornográficos está bem representada no filme de paul thomas anderson, boogie nights, que constitui o grito de anjo da era clássica dos filmes para adultos (1). a partir daí, tudo começou a piorar.
no entanto, pode-se perguntar uma coisa: passados mais de trinta anos, o que realmente mudou no cinema para adultos? serão os filmes da era clássica realmente tão inovadores? no que toca a deep throat, acho que não. apesar de ter achado que tinha um argumento mais consistente do que os poucos que vi (pelo menos, os actores tentam representar), a premissa continua a ser a mesma: mostrar, mostrar, mostrar. saber se queria aproximar o cinema para adultos do mainstream é irrelevante: o filme continua a ser pornográfico. e ponto.
foi preciso haver uma virginie despentes, um nagisa oshima, uma catherine breillat para afastar o estigma dos filmes para adultos. mas esses eram diferentes: eram artistas e tinham uma visão diferente de encarar o cinema. ficou-nos, no entanto, de deep throat, a excelente música (uma espécie de mistura entre a banda sonora do shaft e sexo) e a polémica que causou.
se me perguntarem qual dos autores "sujos" que prefiro, respondo: John Waters!!!! Não é pornográfico, mas é um doido do caraças. Ah, e não esquecer a minha querida Rollergirl!!!!
jorge vicente
(1) paul thomas anderson realizou, entre outros filmes, magnolia, com phillip seymour hoffman e tom cruise. boogie nights tem como principais protagonistas Mark Wahlberg, Burt Reynolds e Heather Graham.
(imagem de multiple maniacs, de john waters. the freakiest sex scene in history!!!)
(qualquer dia, dizem-me que estou a meter o livro todo aqui, mas não importa. estes escritos têm de ser partilhados).
(dedico este post à Patrícia e a todos os médicos)
(quadro de félix edouard vallotton, "the piano player", 1896)
"Continuava a debater-me entre continuar como cirurgião e desperdiçar a aprendizagem de meia vida para ingressar noutra especialidade. Pensei na psiquiatria, onde podia ajudar as pessoas sem as cortar. Então um dos meus pacientes de cancro, um pianista chamado Mark, ajudou-me a perceber que podia ser feliz sem mudar de profissão. Ao registar melhoras, todos os amigos lhe disseram que devia regressar ao palco, mas ele dizia que sabia que já lá não tinha lugar. Descobrira que se sentia mais feliz a tocar piano apenas em casa. Continuava a fazer o que gostava, mas tinha mudado o contexto para o adaptar às suas necessidades. Percebi que tinha de fazer o mesmo.
Tentei «sair de detrás da secretária» e abrir tanto as portas do meu coração como a do consultório. Agora tenho, literalmente, a secretária encostada à parede para que o doente e eu estejamos na posição de nos encararmos de frente como iguais. Um trabalhador dos telefones, um carpinteiro e um estudante de medicina disseram que o meu consultório está todo mal porque a secretária deixou de estar a meio. Tive de explicar que quero ver o meu paciente sem nenhum obstáculo entre nós, em vez de nos relacionarmos como especialista e fracasso.
Comecei a encorajar os doentes a tratarem-me pelo nome próprio. De início era um bocado assustador ser apenas Bernie e não o Dr. Siegel - conhecer os outros como pessoa e não como um rótulo. Significava que tinha de gostar de mim próprio e merecer respeito pelo que fazia e não pelo que tinha aprendido na faculdade. Mas a mudança valeu bem a pena. É uma forma simples mas eficaz de derrubar a barreira entre médico e paciente.
Mudar a secretária e passar ao tratamento pelo nome próprio eram apenas sintomas de uma mudança maior. Cometi o pecado cardeal do clínico: «envolvi-me» com os meus doentes. Pela primeira vez, comecei entender integralmente o que significa viver com um cancro, conhecendo o medo de que esteja a alastrar enquanto se fala com o médico, se lava a loiça, brinca com os miúdo, dorme ou faz amor. Como é difícil manter-se a integridade como ser humano sabendo isso!
(...)
(quadro de mary cassatt, "bill lying on his mother's lap", circa 1889)
Primeiro comecei a abraçar os doentes, imaginando que precisassem que os tranquilizasse. Mais tarde, dei por mim a dizer «preciso de o abraçar», para poder continuar. E mesmo que estivessem ligados a ventiladores, os doentes esticavam-se para me ajudar com um toque ou um beijo, e a minha culpa, a fadiga e o desespero evaporavam-se. Estavam a salvar-me.
Em face de tanta coragem, desejei vezes sem conta poder fazer qualquer coisa para facilitar a passagem. Comecei a sentir que os métodos para tentar prolongar a vida e curar doenças utilizados na minha profissão, entre os objectivos mais nobres da nossa civilização, eram por vezes mais cruéis que o estado selvagem, onde a doença grave é prontamente aliviada pela morte. Diz-se que ninguém pode conceber verdadeiramente a própria morte, mas tenho a certeza de que alguns o fazem quando têm de pesar o fardo das horas, dias ou meses que faltam. Os idosos perguntam-se muitas vezes porque viveram tanto tempo só para sofrer tanta infelicidade e humilhação adiadas. Acho que devíamos poder fazer mais para ajudar uma pessoa a abandonar-se e acabar facilmente com a vida quando desaparece o valor de cada dia. (Falo de meios naturais de abandono, ao dispor de todos nós quando a morte não é considerada um fracasso.)" (1)
(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pgs. 35-38.
(quadro de pierre bonnard, "nu accroupi au tub", 1914)
(peço desculpa por tantos excertos de bernie siegel, mas adoro este homem. e os textos são motivadores)
"Uma das maiores dificuldades é ter tão pouco tempo para passar com a família. O atleta pode tomar duche e ir para casa a seguir ao jogo mas, para os médicos, o dia de trabalho frequentemente não tem fim. Tive de me habituar à ideia de que estar e casa ao fim-de-semana era um bónus e não algo com que pudesse contar. Para além disso, sofria de culpa em dois sentidos: tirando umas horas de folga sentia-me como se roubasse tempo aos meus doentes, mas os dias de dezasseis horas afiguravam-se como um roubo de tempo à minha mulher e aos meus filhos. Não sabia como reagir à culpa nem como uniformizar a minha vida. Muitas noites sentia-me demasiado cansado para tirar partido da família depois de chegar a casa. Uma vez, estava tão exausto que, ao levar a babysittter a casa, tomei automaticamente o caminho do hospital. Provavelmente terá pensado que a estava a raptar.
Mesmo o tempo que conseguia passar em casa era sempre interrompido. Os miúdos estavam sempre a perguntar: «Estás de serviço esta noite?» Toda a gente se enervava quando eu estava de serviço, na certeza de que o serão em família não duraria muito. Para a maioria das pessoas o toque do telefone é um som amigável. Para nós significava ansiedade e separação.
Uma das provações mais duras de um clínico deve-se ao facto de a morte surgir mais vezes durante a noite do que a qualquer outra hora, algo que agora compreendo. Não se pode deixar de sentir um lampejo de fúria quando um paciente que esteve dias em coma morre às duas da manhã e o médico e a família têm de acordar com a notícia. Pensamos: «Porque é que os mortos não hão-de ter algum respeito pelos vivos?» Poucos de nós mencionamos esta hostilidade. Limitamo-nos a sentir-nos culpados por isso. Depois há o fardo adicional de ter de estar bem-disposto e despero no bloco cirúrgico às sete da manhã, apesar dos problemas familiares e de duas ou três chamadas a meio da noite." (1)
bernie s. siegel
(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 33, 34.
de referir que bernie siegel, depois de tanta frustração e tantas dúvidas em relação à sua profissão, verificou que o problema da maior parte dos clínicos se resumia ao seguinte: lidavam com casos, gráficos, doenças, remédios, etc. e não com pessoas. vários anos depois de ter proposto um novo modelo de assistência, o seu exemplo e a sua experiência são uma inspiração para muitos.
(quadro de andré derain, "buste de femme au châle", 1925)
"No início dos anos 70, após mais de uma década de exercício de cirurgia, achava o meu trabalho muito doloroso. Não era um caso típico de esgotamento; conseguia lidar com os problemas infindáveis, a intensidade do trabalho e as decisões constantes de vida ou de morte. Mas tinha sido treinado para pensar que toda a minha tarefa era fazer coisas de uma forma mecânica às pessoas para que elas melhorassem, para lhes salvar a vida. É assim que é definido o sucesso de um médico." (1)
bernie s. siegel
(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 31.
(hal holbrook e emile hirsch, into the wild (2007) de sean penn)
a felicidade só é real quando é partilhada. foi essa dura verdade que christopher mccandless só aprendeu quando estava às portas da morte, devorado por essa força tão dura quanto bela e majestosa que é a vida selvagem. "The wild that cannot be beated by any man who dares to confronts it".
foi esta dura lição que christopher aprendeu mas, apesar de todo o pretenso egoísmo que possa ter tido, provavelmente nasceu para isso, para nos mostrar que o verdadeiro caminho não se faz na fuga, mas sim no encontro, na partilha e no caminhar. a imprudência e um certo egoísmo são importantes para nos revelarmos e crescermos. para descobrirmos e vivermos a verdadeira Vida.
e que desejo tenho de conhecer uma verdadeira comunidade hippie...
(brian dierker e catherine keener, em into the wild (2007))
e, agora, o trailer:
e uma música que não aparece no filme, mas que simboliza muito para mim:
(quadro de andré derain, "les champs-elysées", 1907-1908)
"Way back when I was a kid my mother, she always said there are those who will do you wrong to make you feel as if you don't belong
Way back when I was a kid my father, he always said be sure to speak your mind just be prepared to pay
Be prepared nothing comes without expense be prepared to face up to the consequence Not everybody feels the same as you There are those who will oppose what you say and what you do
Now that I'm away and fully grown now that I'm out and living on my own i have discovered that they we're right i am thankful for their advice
I just do just what I do even at the risk of upsetting you first, I must satisfy myself before I can please anybody else" (1)
snfu
(1) retirado do cd dos snfu, something green & leafy this way comes (1993) e daqui.
(quadro de luigi loir, "midnight mass", circa 1890)
2.
ontem, matei um homem. nada mais do que isso. nenhuma cintilação dos ossos. nenhuma ânsia em experimentar o que quer que fosse. apenas o desejo íntimo de incriar através do sangue. toda a morte é uma procriação ao contrário. vive-se e entra-se de novo na vida. a vida de dentro.
nenhum poema escrito dará a entender o que quer que seja. nenhuma palavra cortada às fatias, como se de sílabas fosse feito o corte. e o sangue. apenas um homem. e a história milenar de todos os homens que habitaram dentro dele. para quê a vida se todos os outros se poderiam libertar.
nada, mas mesmo nada é deixado ao acaso. a sombra é o reflexo do astro. e o astro é o reflexo da faca deixada no lugar da humanidade.
(tapeçaria holandesa do século XVIII, representando um jogo. retirada daqui)
"Os clínicos raramente se apercebem como falam com pacientes de cancro de uma maneira diferente, quando comparada com os seus outros doentes. Dizemos a um paciente de ataque cardíaco como mudar de estilo de vida - dieta, exercício, etc. - dando-lhe a esperança de participar na recuperação da saúde. Mas se o mesmo paciente se maquilhasse, pusesse uma cabeleira e voltasse na semana seguinte dizendo: «tenho cancro», a maioria dos médicos diria: «Se estes tratamentos não resultarem, nada mais poderei fazer por si.» Temos de aprender a dar aos pacientes a opção de participar na recuperação de qualquer tipo de doença." (1)
bernie s. siegel
(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 24.
porque a cura constitui um caminhar para a vida e, porque não, sermos crianças sempre.
(quadro de henri lebasque, "les deus baigneuses près de la plage", s/d)
"Os profissionais continuam a agir como se as doenças apanhassem as pessoas, em vez de entenderem que as pessoas apanham doenças por se tornarem susceptíveis às sementes da doença às quais estamos todos expostos constantemente. Apesar de os melhores clínicos terem tido sempre consciência disso, a medicina em geral raramente estudou as pessoas que não adoecem. A maior parte dos médicos raramente têm em consideração como a atitude de um paciente em relação à vida modela a quantidade e qualidade dessa vida." (1)
bernie s. siegel
(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 21.
(quadro de hippolyte petitjean, "femmes dans le foret", 1897)
"Shall I compare thee to a Summers day? Thou art more lovely and more temperate: Rough windes do shake the darling buds of Maie, And Sommers lease hath all too short a date: Sometime too hot the eye of heaven shines, And often is his gold complexion dimm'd, And every faire from faire some-time declines, By chance, or natures changing course untrim'd: But thy eternall Sommer shall not fade, Nor loose possession of that faire thou ow'st, Nor shall death brag thou wandr'st in his shade, When in eternall lines to time thou grow'st, So long as men can breathe or eyes can see, So long lives this, and this gives life to thee." (1)
william shakespeare
(1) SHAKESPEARE, William apud ROTHENBERG, Jeff - Ensuring the Longevity of Digital Information [Em Linha]. Santa Monica: [s. n.], 1999. [Consult. 10. Out. 2008]. Disponível em: http://www.clir.org/pubs/archives/ensuring.pdf
(quadro de henri toulouse-lautrec, "allegorie - le printemps de la vie", 1883)
"A família e a profissão médica deviam ser capazes de educar e instruir quanto ao comportamento de sobrevivência adequado quando a adversidade, sob a forma de doença, acontece na vida. A questão não se refere a viver eternamente nem a pôr Deus à prova, mas a utilizar todas as forças físicas e emocionais disponíveis para curar. A mente e o corpo não são unidades independentes, mas sim um sistema integrado. A forma como agimos e o que pensamos, comemos e sentimos relacionam-se com a nossa saúde. Os médicos deviam ser capazes de ensinar esse comportamento aos doentes." (1)
bernie s. siegel
(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pgs. 13, 14.
nada existe mais glorioso que derramar sangue em estado de graça:
assumimos que somos aquilo que deus nos fez. seres de terra. e não de fogo. com mãos que crescem e que sentem prazer. com dedos que esfolam e que vomitam debaixo de um poema.
existe sempre um grito, um grito claro e de voz acesa, que exalta e assume a morte - a morte que é nossa e dos outros
(quadro de benton murdoch spruance, "resurrection", 1941)
"Pre-emptive penance and absolution were doctrines researched and developed by the Consistorial Court, but not known to the wider church. They involved doing penance for a sin not yet committed, intense and fervent penance accompanied by scourging and flagellation, so as to build up, as it were, a store of credit. When the penance had reached the appropriate level for a particular sin, the penitent was granted absolution in advance, though he might never be called on to commit the sin. It was sometimes necessary to kill people, for example: and it was so much less troubling for the assassin if he could do so in a state of grace." (1)
philip pullman
(1)PULLMAN, Philip - The Amber Spyglass. London: Scholastic Press, 2001. ISBN 0-439-99414-4. pg. 75.
You don't wear continental clothes, or Stetson hats.
Well I tell you one dog-gone thing. It makes me feel good to know one thing. I know i'm a lover.
Matter of opinion.
That's all right, Mama was. Papa too. And I'm the only child. Lovin' is all I know to do.
You know what, Otis?
What?
You're country.
That's all right.
You straight from the Georgia woods.
That's good.
You know what? You wear overalls, and big old brogan shoes, and you need a haircut, Tramp.
Haircut? Woman, you foolin'...ooh...I'm a lover. Mama was. Grandmama, Papa too. Boogaloo. All that stuff. And I'm the only son-of-a-gun this side of the Sun. Tramp!
You know what, Otis? I don't care what you say, you're still a tramp.
What?
That's right. You haven't even got a fat bankroll in your pocket. You probably haven't even got twenty-five cents.
I got six Cadillacs, five Lincolns, four Fords, six Mercuries, three T-Birds, Mustang, ooooooohhh...I'm a lover. Mama was. Papa too. I tell you one thing.
Well tell me.
I'm the only son-of-a-gun this side of the Sun.
You're a tramp, Otis.
No I'm not.
I don't care what you say, you're still a tramp.
What's wrong with that?
Look here. You ain't got no money.
I got everything.
You can't buy me all those minks and sables and all that stuff I want.
I can buy you minks, rats, frogs, squirrels, rabbits, ...anything you want, Woman.
Look, you can go out in the Georgia woods and find them, Baby.
Oh, you foolin'.
You're still a tramp.
That's all right.
You a tramp, Otis. You just a tramp.
That's all right.
You wear overalls. You need a haircut, Baby. Cut off some of that hair off your head. You think you a lover, huh?" (1)
otis redding
(1) retirado do cd de otis redding, the dock of the bay, 1968 e deste site.