30.6.08

aragem



(quadro de michael kenna, "falaise d'aval la nuit, eratat, france", 2000)

não, não existe o silêncio
apenas penumbra que se expele
do silêncio do mar

das curvas das rochas e do canto dos pássaros,
que surgem desfraldados no nevoeiro seco

em círculos infinitos
em busca da água

e do peixe, sempre o peixe, que se esconde
no mastro das algas.

jorge vicente

(poema de 2002)

29.6.08

what life...



(fotografia de michael kenna, "tracks 100 to 117, grand central station, new york, usa", 2000)


"acreditando fundamentalmente que esta vida é única, as pessoas modernas não desenvolveram uma visão a longo prazo. por isso, nada as impede de saquearem o planeta para satisfação de fins imediatos ou de viverem de uma maneira egoísta, a qual pode demonstrar-se fatal para o futuro. (...) sem nenhuma fé real ou autêntica em algo depois da morte, a vida da maioria das pessoas está despojada de qualquer significado." (1)

sogyal rimpoche



(1) RYMPOCHE, Sogyal apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 90.

and, downstairs, glimpses of people

pedaços de pessoas que esperam o dinheiro ao fim do mês

e a ausência de si mesmos

25.6.08

"hit or miss" (dave smalley)



(fotografia de michael kenna, "swings, catskills mountains, new york", 1977)


"so you want to become a hero
stop the world -- become a hero
we just can't find one anywhere
can't find one anywhere

so you're thinking you're a victim
stop the world cause you're a victim
well, you can find one anywhere
you can find one everywhere

life's just a hit or miss
all the time, just a hit or miss
sometimes you take a swing and miss
a swing and a miss
well sometimes, we take a swing and hit!

now you're thinking about the future
try to picture some kind of future
you just can't see one anywhere -- can't see it anywhere

well we need to find us a hero
can you tell me where are the heroes
who can clean up everywhere
hey g.i. joe, where are you now?
and if I could count the times
that I looked up to the sky
and asked someone to save me. . ." (1)

down by law


(1) retirado do cd dos down by law, punkrockacademyfightsong, de 1994)


are you the one who will save me - the light?

19.6.08

meditação



(fotografia de hiroshi sugimoto)


"a finalidade da meditação é despertar em nós a natureza, «semelhante ao céu», da nossa mente, para conhecermos aquilo que realmente somos, a nossa consciência pura e imutável subjacente à totalidade da vida e da morte. (...) mas não acham extraordinário que as nossas mentes não consigam permanecer tranquilas durante mais do que alguns momentos sem procurarem imediatamente alguma distracção? (...) estamos fragmentados em muitos aspectos diferentes, não sabemos quem realmente somos, nem quais os aspectos de nós próprios em que podemos acreditar ou com quem havemos de nos identificar. são tantas as vozes contraditórias, as ordens e os sentimentos que lutam entre si para controlar as nossas vidas interiores, que ficamos como que espalhados por todo o lado, em todas as direcções... e a nossa casa fica vazia. assim, a meditação consiste em fazer com que a mente volte para casa." (1)

sogyal rimpoche




(1) RIMPOCHE, Sogyal apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 71

18.6.08

violência e estado novo



(fotografia de bill brandt,"jean dubuffet", 1960)

"o estado novo mostrou um elevado grau de racionalidade política nesta esfera, tentando alcançar um óptimo de terror, e não um cru máximo de terror, evitando, assim, os ardis do terror e do contraterror" (1)



(1) MARTINS, Hermínio - Classe, status e poder e outros ensaios sobre o portugal contemporâneo. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1998. ISBN 972-671-051-0. p. 68.

a oposição dos socialistas durante o estado novo



(fotografia: Mário Soares)

"a fraqueza dos socialistas foi até há pouco tempo a anomalia mais patente do perfil da oposição em portugal em comparação com outros países da europa latina. o colapso do quinquagenário partido socialista «reformista» nos anos 30 deixou um vazio que não foi possível preencher até ao recente aparecimento da acção socialista e da sua ala de juventude. embora o socialismo democratico gozasse do prestígio que a lealdade política de a. sérgio lhe concedia, os socialistas indidividuais gravitavam à volta da oposição «republicana» ou à volta do pc. actualmente, a social-democracia, tal como outros movimentos da esquerda não comunista, goza de um clima político mais favorável, de um padrão de recrutamento mais estável nas universidades e de algum reconhecimento e apoio internacional." (1)

hermínio martins



(1)MARTINS, Hermínio - Classe, status e poder e outros ensaios sobre o portugal contemporâneo. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1998. ISBN 972-671-051-0. p. 65.

17.6.08

o passado?




"através de uma cerimonialização selectiva mais intensiva do passado, saturando o país com celebrações intermináveis das descobertas e de outros momentos gloriosos da «fé e império», a história torna-se ela mesma um instrumento de chauvinismo" (1)

hermínio martins



(1) MARTINS, Hermínio - Classe, status e poder e outros ensaios sobre o portugal contemporâneo. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1998. ISBN 972-671-051-0. p. 62.

14.6.08

"unknown legend" (neil young)



(fotografia de zoe strauss, "painted over billboard, coal", 2001-2006)

"she used to work in a diner
never saw a woman look finer
i used to order just to watch her float across the floor
she grew up in a small town
never put her roots down
daddy always kept movin' so she did too

somewhere on a desert highway
she rides a harley-davidson
her long blonde hair flyin' in the wind
she's been runnin' half her life
the chrome and steel she rides
collidin' with the very air she breathes
the air she breathes

you know it ain't easy
you got to hold on
she was an unknown legend in her time
now she's dressin' two kids
lookin' for a magic kiss
she gets the far-away look in her eyes

somewhere on a desert highway
she rides a harley-davidson
her long blonde air flyin' in the wind
she's been runnin' half her life
the chrome and steel she rides
collidin' with the very air she breathes
the air she breathes" (1)

neil young




(1) retirado do cd de neil young, harvest moon, de 1992.

13.6.08

"hallelujah (i am the preacher)" (cook, greenaway)



(fotografia de william christenberry, "do you believe in jesus, i do", 1966)

"hallelujah

i am a preacher with a message for my people
over the world, scratching on the ground
looking for the peace that nobody has found

i am a spokesman for a better way of living
love is the word and it can be heard
if you are young the message can be sung

let me hear you sing, hallelujah

oh tell it to the man whose power is the sermon on the wall
tell it to the man who says you can misjudge them all
tell it till it can be heard above the wailing of the crowd
tell it on the field of war and hope youll soon be justified

there is a better way of life and its not so hard to find
if you live and let the people in your world speak its mind

i am the pupil who sells his life for freedom
all over the world and it can be heard
if you are young the message can be sung

hallelujah" (1)



(1) retirado do cd dos deep purple, shades 1968-1998 (1999)

12.6.08

"puedo escribrir los versos más tristes esta noche" (pablo neruda)



(fotografia de ralph eugene meatyard, "untitled", 1963)

"Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche esta estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque este sea el ultimo dolor que ella me causa,
y estos sean los ultimos versos que yo le escribo."

pablo neruda, retirado daqui.

os pássaros (escrito por José Gil e Jorge Vicente em 2002)



(fotografia de kate breakey, "the kiss", 2006)

OS PÁSSAROS

os pássaros não sabem voar
de costas
voltadas para o céu.

espero-te claro sobre
uma nuvem transparente.
julho é esta mulher transparente
com um coração ao centro, de néon.

ela ouve as canções do céu
e voa por dentro de ti.

os sonhos nascem de costas
para as pessoas. e as pessoas
são como as nuvens,
transparentes, apenas a memória
é opaca e cinzenta como o inverno.

nem sempre poderemos comprar o pão e o circo.

porque os trapezistas são como os pássaros
e se comem não voam. e, se voam, voam
de costas para nós,
voam de frente para o céu.

os palhaços não sabem cantar
de costas para o mundo.

caminho de frente para o sol
e sou o verão, caminhante e aprendiz.
vou desenhando a carvão o traço
de um avião no céu.

vê como é branco o rasto do amor virtual,
branco e azul, arriscado e forte.

perde-te entre as nuvens e, se desapareceres,
como um arco-íris, volta sempre
que a tempestade vibrar no teu pássaro azul.

José Gil e Jorge Vicente

(Junho de 2002)

9.6.08

novamente o amor



(fotografia de kelli connell, "convertible kiss", 2002)

"o que é o amor?

é um sentimento que não tem condições, nem limites, nem necessidade. uma vez que não tem condições, não requer nada de modo a ser expresso. não pede nada em troca. não se retracta como forma de retaliação. uma vez que não tem limites, não estabele limites a ninguém. não conhece fim, é eterno. não conhece fronteiras nem barreiras. uma vez que não tem necessidade, não procura tomar nada que não seja voluntariamente oferecido. não procura reter nada que não pretenda ser retido. não procura dar nada que não seja suavemente aceite. e é livre. o amor é livre, pois a liberdade é a essência de deus, e o amor é deus, expresso." (1)

neale donald walsch



(1) WALSCH, Neale Donald apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 37.

amor



(fotografia de kelli connell, "bubblebath", 2002)

"o amor é uma questão de coração que só pode surgir a partir da alegria sentida pela vida e sem um objectivo concreto. mas, sobretudo, primeiro há que despertá-lo em nós mesmos, antes de o podermos encontrar no mundo exterior, pois, nesse mundo exterior somente reencontraremos o que trazemos dentro de nós. fazer e viver são manifestações do ser e sentir. por isso, é um erro crer que o amor depende primordialmente de circunstâncias ou de condições objectivas. na realidade, o amor é a expressão de um estado de alma, um sentimento que se projecta desde o interior para o exterior. somente quando estamos cheios de amor podemos provocá-lo à nossa volta. se nós mesmos não estivermos predispostos ao amor, seremos cegos e surdos perante ele. (...) se cremos que o amor deveria ser assim ou de outra forma, que deveria referir-se a esta ou àquela pessoa ou a uma determinada situação, se tentamos ligá-lo a ideias, condições ou exigências, ele nos abandona e reaparece, transformado em dor, para que tomemos consciência do nosso erro. quando se crê possível ganhar o amor através de boas acções ou forçá-lo com o terror psíquico, e não o conseguimos, reagimos com autocompaixão, com queixas ou desespero, auto-sacrifício, chantagem e ciúmes" (1)

Gotz Blome



BLOME, Glotz apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 37.

auto-cura



(fotografia de edward weston, "portrait of photographer john hagemeyer", 1921)

"os corpos físicos dos seres humanos são entidades milagrosas, com consciência própria, que se auto-regulam de uma forma extraordinárias. e tu passas a vida arquitectando a consciência de acordo com as opiniões, tuas e alheias, acerca do teu corpo físico. de facto, através da ressonância, os pensamentos e as emoções que tu manténs acerca de ti mesmo possuem um enorme impacto sobre a consciência do teu corpo: o medo da doença ou da morte pode, literalmente, programá-lo para que adoeça. estes processos são responsáveis pela corrupção do adn (o que, com frequência, gera o cancro) e das condições normalmente atribuídas ao envelhecimento. escusado será dizer que, ao invés, pensamentos de saúde e de bem-estar programam o corpo físico para que desencadeie os seus próprios mecanismos de cura" (1)

in manual para a ascensão



(1) in Manual para a ascensão apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 31.

o perdão



(fotografia de kelli connell, "the space between", 2002)

"o que poderias querer que o perdão não possa dar? queres paz? o perdão oferece-a. queres a felicidade, uma mente serena, certeza acerca do teu propósito e um senso de valor e beleza que transcende o mundo? queres atenção, segurança e o calor da protecção garantida para sempre? queres uma quietude que não possa ser perturbada, uma gentileza que jamais possa ser ferida, um consolo profundo e duradouro e um descanso tão perfeito que jamais possa ser transtornado? o perdão oferece-te tudo isso, e mais. ele brilha nos teus olhos quando acordas e dá-te alegria para saudar o dia. conforta a tua fronte enquanto dormes e repousa sobre as tuas pálpebras para que não tenhas sonhos de medo ou de mal, malícia e ataque. e, quando acordas de novo, ele oferece-te um outro dia de felicidade e paz. o perdão oferece-te tudo isso, e mais." (1)

Um curso em milagres



(1) Um curso em milagres apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 30.

3.6.08

"give peace a chance" (john lennon / paul mccartney)



(fotografia de kelli connell, "asleep at the wheel", s/d)

"ev'rybody's talkin' 'bout
bagism, shagism, dragism, madism, ragism, tagism
this-ism, that-ism, ism ism ism

all we are saying is give peace a chance
all we are saying is give peace a chance

ev'rybody's talkin' 'bout
minister, sinister, banisters and canisters,
bishops, fishops, rabbis, and pop Eyes, bye bye, bye byes

all we are saying is give peace a chance
all we are saying is give peace a chance

ev'rybody's talkin' 'bout
revolution, evolution, masturbation, flagellation, regulation,
integrations, mediations, united Nations, congratulations

all we are saying is give peace a chance
all we are saying is give peace a chance

Ev'rybody's talkin' 'bout
john and yoko, timmy leary, rosemary,
tommy smothers, bobby dylan, tommy cooper,
derek taylor, norman mailer, alan ginsberg, hare krishna
hare hare krishna

all we are saying is give peace a chance
all we are saying is give peace a chance" (1)

the plastic ono band



(1) retirado do cd da plastic ono band, live peace in toronto, 1969, de 1969.

2.6.08

"tunafish sandwich peace" (yoko ono)



(fotografia de mark citret, "gang ladder", 1992)

"imagine one thousand suns in the
sky at the same time.
let them shine for one hour.
then, let them gradually melt
into the sky.
make one tunafish sandwich
and eat." (1)

yoko ono




(1) retirado do booklet do cd da plastic ono band, live peace in toronto, 1969, de 1969. este poema está inserido no livro de yoko ono, grapefuit works, de 1964. o livro foi publicado originalmente pela wunternaum press.

john lennon



(fotografia de eikoh hosoe, "embrace nº 60", 1970)

"i am he as you are he as you
are me and we are all together" (1)

john lennon




(1) retirado do booklet do cd da plastic ono band, live peace in toronto, 1969, de 1969. este verso é um excerto da canção dos beatles, "i am the walrus"

quadro geral do estado novo



(quadro de shimon balisky, "the partizanes", 1945)

"o regime português, se considerarmos o sector não colonial, quase nunca alcançou o nível do assassínio político e das prisões em massa que eram prerrogativa do seu vizinho mais próximo. todavia, a relativa complexidade e refinamento do seu aparelho repressivo, o nível a que foi elevado no decurso de muitos decénios para fazer frente a protestos e rebeliões de tipo multíplice (greves de camponeses, trabalhadores braçais, operários, demonstrações das massas urbanas, greves de estudantes universitários, conspirações militares e civis e golpes de estado) e o seu articulado sistema de justiça política indicavam que esta «brandura» não derivava nem de uma deficiência organizativa nem tão-pouco de uma escassa incidência dos protestos. para os ambientes intelectuais estranhos ao regime e para a população em causa o terror era uma realidade sempre viva e impendente. é notável o facto de em frança, entre todos os imigrados, os operários portugueses serem considerados os mais relutantes à sindicalização.

com efeito, o caso de portugal até 1974 fornece matéria de estudo no campo da economia do terror. pode haver um coeficiente óptimo de terror que interesse a totalidade da população sem que seja necessári recorrer a um extermínio em larga escala, mas evidenciando e propagandeando ao máximo, com crueldade, a realidade desta situação." (1)

hermínio martins



(1) MARTINS, Hermínio - Classe, status e poder e outros ensaios sobre o portugal contemporâneo. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1998. ISBN 972-671-051-0. p. 44, 45.

1.6.08

some of the history repeating



(fotografia de tina modotti, "march of workers, may 1st", circa 1926)


"em 1935 e em 1936 foram promulgados decretos-leis que transformaram todo o sector do emprego público numa reserva de pessoas de provada fidelidade política. era pedido o juramento de fidelidade a todos os indivíduos pertencentes ao funcionalismo público propriamente dito, aos professores, aos funcionários do aparelho corporativo, etc. introduziram-se penas estranhas à jurisdição da normal lei administrativa sujeitas ao poder discricionário do conselho de ministros." (1)

hermínio martins





(1) MARTINS, Hermínio - Classe, status e poder e outros ensaios sobre o portugal contemporâneo. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1998. ISBN 972-671-051-0. p. 42, 43.


é interessante este aspecto do estado novo, se o compararmos com a realidade presente. apesar de termos liberdade, o governo toma decisões anti-democráticas (como obrigar os militares reformados a estarem sujeitos à disciplina militar, disciplina essa que obriga os militares no activo a não emitirem certas opiniões); apesar de acharmos que os cargos admnistrativos não devem ser políticos, aparece sempre um socialista nos cargos mais importantes (ou social-democrata, se for o PSD no governo).

qualquer dia, os professores, os operários, os funcionários públicos e muitos outros trabalhadores serão obrigados a assinar um papel onde jurarão a sua fidelidade ao governo democrático. isto pode parecer um disparate pegado, mas exemplifica bem que a democracia não é algo garantido, nunca é plenamente verdadeira, o povo, muitas vezes, não é ouvido nem achado. bertolt brecht, uma vez, disse que a democracia, muitas vezes, só se desenvolve em ambientes de totalitarismo, onde a repressão obriga ao amor da liberdade. chegando a liberdade, chega também a necessidade de autoridade, a necessidade de organização e, consequentemente, a necessidade do poder, que devora tudo.

jorge vicente

o 28 de maio e a génese do estado novo



(fotografia do 28 de maio, retirada daqui)

"o «significado» do «28 de maio» foi incerto desde o início. primeiramente, a sublevação foi acolhida com simpatia praticamente por parte de todos os partidos políticos minoritários (dos conservadores aos socialistas), como um meio capaz de quebrar a máquina eleitoral com que o partido democrático havia conseguido vencer todas, ou quase todas, as eleições durante dezasseis anos e conquistar, assim, o controle do subgoverno. esta ilusão foi-se dissipando cada vez mais logo que as sanções administrativas, as prisões e as deportações dos chefes aniquilaram os partidos políticos sem os porem, efectivamente, fora de lei. as organizações operárias, as confederações sindicais, os anarquistas, os anarco-sindicalistas e comunistas mantiveram-se bastante neutros: apesar do aumento das perseguições, os partidos «revolucionários» procuraram alhear-se das «rixas políticas portuguesas». mas, por fim, a partir de 1932, tinham deixado de existir como organizações legais" (1)

hermínio martins




(1) MARTINS, Hermínio - Classe, status e poder e outros ensaios sobre o portugal contemporâneo. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1998. ISBN 972-671-051-0. p. 29.


não sabia que os socialistas tinham dado vivas ao golpe militar de 1926, mas tem lógica. a credibilidade da 1ª república estava de rastos e a confusão era tanta que a maior parte das pessoas aspirava a uma viragem. infelizmente, a viragem virou-se para os lados de santa comba dão.

jorge vicente