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10.2.10

crítica ao meu livro




"Se no primeiro livro, Ascensão do Fogo, o poeta Jorge Vicente escrevia de forma a que a pele dos poemas deixasse antever o ritmo da criação das palavras, o binário a quaternário, e a sua tatuagem em nós era sem dor apesar das impressões em profundidade que libertava na língua neste segundo livro, Hierofania dos Dedos, que é de desvendamento e de ocultação do poema, este é personagem inteiro da casa-poesia, oculto ou manifesto, orgânico. O mais que se pode dizer é que há um som de alaúde, redondo, que percorre este livro página a página em que «uma montanha é um corpo e uma mulher o vaso que alimenta as neves - o saber iniciático da mãe» (poema 18). O espaço de intervalo dos poemas é o caminho do poeta, por descobrir, e o nosso"

Cristina Veora

(in Público, dia 5 de Fevereiro de 2010, suplemento Ípsilon

15.9.09

"lyra's oxford", de philip pullman



depois de ter publicado aquela que é considerada uma das mais importantes trilogias de fantasia, his dark materials, philip pullman decidiu revelar mais um pouco desse estranho, mas delicioso, mundo de lyra. desta vez, não apela ao nosso mundo nem aos incontáveis mundos paralelos que constituíam, a par com a exploração do daimon grego, aquilo que caracterizava a obra de pullman. neste livro, o escritor inglês narra uma pequena história acontecida no estranho mundo de lyra. é muito interessante, apesar de estar uns furos abaixo da trilogia (como seria de esperar).

jorge vicente

6.9.09

philip pullman, the amber spyglass




não deixa de ser interessante constatar que, num mundo dominado pelas aventuras de harry potter e por milionésimas versões d'O Senhor dos Anéis, se façam obras tão singulares e tão inteligentes como a trilogia de philip pullman his dark materials. tal como já foi dito antes (ver aqui), esta obra é uma das mais espectaculares e controversas da moderna literatura fantástica e não deve muito a tolkien. de facto, o que o autor pretende é criar uma espécie de realismo mágico, ou, para estarmos de acordo com as palavras de pullman, realismo puro e duro.

"I have said that His Dark Materials is not fantasy but stark realism, and my reason for this is to emphasise what I think is an important aspect of the story, namely the fact that it is realistic, in psychological terms. I deal with matters that might normally be encountered in works of realism, such as adolescence, sexuality, and so on; and they are the main subject matter of the story – the fantasy (which, of course, is there: no-one but a fool would think I meant there is no fantasy in the books at all) is there to support and embody them, not for its own sake.

Dæmons, for example, might otherwise be only a meaningless decoration, adding nothing to the story: but I use them to embody and picture some truths about human personality which I couldn't picture so easily without them. I'm trying to write a book about what it means to be human, to grow up, to suffer and learn. My quarrel with much (not all) fantasy is it has this marvelous toolbox and does nothing with it except construct shoot-em-up games. Why shouldn't a work of fantasy be as truthful and profound about becoming an adult human being as the work of George Eliot or Jane Austen?"

(retirado daqui)

e é justamente neste ponto (assim como em outros) que o autor difere da maior parte da literatura fantástica contemporânea: a importância dada às personagens, ao seu crescimento, à sua história, à sua evolução. a importância do daimon, retirada do imaginário greco-latino, é aqui fundamental: o daimon simboliza o nosso demónio / espírito interior, aquilo em que acreditamos, a nossa identidade, a nossa força, mas também as nossas fraquezas. foi muito interessante descobrir que, apesar de, no mundo de lyra, os génios / daimons estarem visíveis para toda a gente, no nosso próprio mundo, eles também existem, mas precisamos de os procurar. em civilizações tão antigas como a africana, os homens primitivos marcavam nas madeiras os animais de poder, ainda hoje visíveis nos totéms. num sistema de desenvolvimento pessoal como a biodança, dança-se os animais da natureza: o hipopótamo, que simboliza o nosso lado bonacheirão e de prazer de viver; a garça, que simboliza a liberdade, o tigre o nosso lado mais vital e a cobra, que simboliza o nosso lado mais sensual e rastejante. no fundo, temos dentro de nós milhares e milhares de animais.

outro aspecto muito interessante do livro, especialmente neste último the amber spyglass e que me deixou maravilhado foi a ida ao reino dos mortos: não me lembro de nenhum romance fantástico que tenha evocado de maneira tão inteligente o imaginário da grécia: o hades, o rio aqueronte, a barca de caronte, as harpias. e, claro, a crítica ao imaginário cristão simbolizado pela morte do criador, pelo retorno de lúcifer ao reino da Autoridade, aqui simbolizado por Lorde Asriel.

um livro maravilhoso.

jorge vicente

23.8.09

ishi, karma e reencarnação




a primeira vez que tive contacto com ishi foi através do seu livro sexo tântrico, publicado pela colares editora em 2002. não o cheguei a comprar, mas despertou-me a atenção até porque a problemática do sexo tântrico estava a ser massificada até ao exagero nos jornais-tablóides nacionais. o livro de ishi parecia-me escrito por um oriental ou, pelo menos, por alguém profundamente influenciado pela verdadeira cultura oriental. anos mais tarde, comprei este karma e reencarnação, mas nessa altura já conhecia razoavelmente bem o trabalho de ishi embora nunca tivesse desenvolvido nenhuma actividade com ele.

ishi é (foi?) o responsável pela academia satsanga, uma das inúmeras academias/escolas de consciência desenvolvidas um pouco por todo o país. de acordo com o site, é "um encontro eclético entre o budismo e a moderna neurociência, de uma forma simples e acessível" (1). nela, desenvolvem-se várias práticas entre as quais: lama Yoga, treino psíquico e desenvolvimento emocional, meditação pura e meditação satsanga.

o livro de ishi, karma e reencarnação é, assim, o produto de um estudo muito profundo sobre toda a filosofia taoísta, budista, sobre o karma e sobre o fenómeno da reencarnação. não tem nem pode ter a profundidade filosófica de um estudo budista, mas é dos melhores que se pode arranjar sobre o tema, escrito por um português. é profundamente maduro, inteligente e perspicaz, até mesmo na crítica que faz a certos aspectos do budismo ou do taoísmo que estão profundamente enraízados na cultura oriental, mas que não se aplicam à nossa cultura, mais voltada para fora, para a vida activa. ou seja, para um povo que não consegue entender a pureza dos ventos dos himalaias.´

jorge vicente




(1) Site da Academia Satsanga [Em Linha]. [Consult. 29. Jun. 2009 04.17] Disponível em WWW: http://ishi.no.sapo.pt/academia.htm

8.6.09

richard murrian, babydoll




richard murrian não é, certamente, o melhor fotógrafo de nús artísticos que já tive a ousadia de espreitar (na estratosfera, encontram-se roy stuart, tony ward e robert mapplethorpe, entre outros), mas é interessante e é muito bom ser presenteado com a ligação forte que existe entre fotógrafo e modelo. neste livro, tal ligação é muito evidente já que o centro das atenções é a modelo nancy, esposa do próprio fotógrafo. mais do que a obra-prima, o amor de certas imagens. mais do que o génio, a empatia entre a objectiva e o corpo.

fotografias recomendadas: as da secção "boy toy" e da secção "saugatuck".

jorge vicente

13.4.09

bernie s. siegel, amor, medicina e milagres




é muito raro encontrarmos na actividade médica médicos que se disponham a aceitar, a propôr um modo alternativo de contacto com o doente, a abrirem o seu coração, a se entregarem de corpo e alma à tarefa maior da medicina: cuidar. muitos se preocupam em curar, curar, curar mesmo que essa cura se resuma a índices estatísticos de aproveitamento. não raro ouvimos: "esse caso é muito interessante", "vê lá bem este caso", etc. um doente não é um caso, tem nome próprio e respira como todos nós, tem uma família a quem ama, gosta de ver o sol nascer e pôr-se todos os dias. é um ser humano integral, com as suas fortalezas e limitações, com o seu modo de encarar o mundo. uma medicina que não integre isso tudo nunca poderá curar seja o que for, apenas adiar o inevitável.

os milagres acontecem quando amamos. e quando deixamos que o nosso coração actue. a prática de bernie siegel é mesmo isso: uma prática de deixarmos que criemos os nossos próprios milagres, amando, vivendo, rindo, chorando e expondo as nossas fragilidades. é engraçado como as coisas são: um dos meus "mestres", rolando toro, diz que o nosso corpo tem um inconsciente vital, que o impele para a vida e que é a mente, os nossos preconceitos, as nossas couraças que nos impedem de viver a verdadeira vida. essa impulsão é que transforma algumas pessoas em grandes lutadoras, em pessoas que vencem qualquer tipo de batalha, de doença, de amor, de trabalho. essa impulsão que nos faz viver até aos cem anos, como dizia bernie.

leiam esse livro: amor, medicina e milagres. é tudo o mais que tenho para dizer.

jorge vicente