31.3.08

midnight movies: from the margin to the mainstream (stuat samuels)



(imagem de el topo)

durante mais ou menos dez anos, as sessões da meia-noite nos estados unidos foram o palco de uma imensa actividade cultural. durante esse período de tempo, foram exibidas no grande ecrã produções cinematográficas que alteraram o modo como entendemos o cinema. as produções eram, na maior parte das vezes, alternativas, o segundo mundo de hollywood - aquilo que está por trás e que influencia o trabalho de todos aqueles que pensam estar à frente.

foi nesse palco cultural que surgiram filmes como el topo, de alejandro jodorowski, pink flamingos, do enfant terrible john waters, night of the living dead, do mestre george romero, the harder they come, do realizador jamaicano perry henzell, rocky horror picture show e eraserhead, do grande david lynch. esses os filmes mais influentes, ou pelo menos, aqueles que stuart samuels estipulou como sendo os mais influentes saídos das midnight sessions. a maior parte destes filmes não foram pensados como sendo filmes noctívagos, para serem passados em sessões da meia-noite, mas as regras do mercado cedo impuseram que tais filmes deveriam ter esse horário o que levou a milhares de jovens americanos a invadirem as salas de cinema alternativas. as sessões da meia-noite eram sinónimo de inovação e ousadia estética; ou então, sinónimo de insurreição e rebeldia, como se pode verificar através de pink flamingos, um clássico do cinema de mau-gosto, tão do agrado dos amadores de cinema alternativo.

com o advento do vídeo, tais sessões perderam o significado. aquilo que era um encontro de partilha de um filme podia ser feito no interior da nossa casa. também foi uma revolução: tornou o cinema mais pessoal, mas retirou o carácter social que certos filmes indirectamente tinham. e o carácter ousado dessas produções foram-se tornando cada vez mais mainstream: o que, nos anos 70, iria ser relegado para as sessões da meia-noite, era agora aclamado pelos media: quentin tarantino e o seu kill bill, as rudezas de american pie, as modernas comédias americanas, com um longo historial de estupidez e mau-gosto. contudo, aquilo que afasta a maior parte dos filmes do nosso tempo (pelo menos, aqueles que poderiam ter sido um clássico alternativo) dos antigos é o talento: tirando algumas excepções como tarantino, a maior parte dos realizadores que vieram depois nunca conseguiram chegar aos calcanhares dos mestres de outros tempos.

jorge vicente



(imagens de eraserhead, retiradas do documentário midnight movies)

29.3.08

a lei da atracção



(quadro de Sean Landers, "What If I Go...", 2004)

"o amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados. a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica" (1)

allan kardec






(1) KARDEC, Allan - O livro dos espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 458, 459.


que interessante saber que allan kardec já falava da lei de atracção antes da física quântica ter sido inventada. bem sei que newton inventou a lei de atração dos corpos, mas o mundo espiritual ainda estava afastado dessas teorias físicas. uau!

as esmolas, segundo allan kardec



(fotografia de bruce gilden, "homeless man in sleeping bag outside a government building", 2000)

"
888. que se deve pensar da esmola?

«condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada fisica e moralmente: embrutece-se. uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns.» (1)
"

allan kardec



(1) KARDEC, Allan - O livro dos espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 458.

28.3.08

sherrybaby (laurie collyer)



(maggie gyllenhaal em sherrybaby)

eu gosto muito de maggie gyllenhaal como actriz, as suas escolhas têm sido, até agora, espectaculares e penso que será uma das grandes actrizes do futuro. ou será já uma das grandes actrizes do futuro. um dos primeiros filmes que vi dela foi adaptation, de spike jonze (o mesmo de being john malkovich), mas o papel foi pequeno. de seguida, vieram happy endings (sedutora e irresistível), stranger than fiction (um papel luminoso) e este sherrybaby. confesso que, como filme, talvez preferisse adaptation ou stranger than fiction (a ousadia de ambos é inquestionável), mas a interpretação dela em sherrybaby é brilhante.

neste filme, maggie interpreta o papel de uma ex-toxicodependente que sai da prisão e tenta recuperar a filha, que está a viver em casa do irmão e da cunhada. a aproximação é difícil, não se podem apagar anos de afastamento, mesmo que esse afastamento não tenha implicado ausência de amor ou falta de desejo de estar com. as coisas são como são, as pessoas fazem erros, tentam remediar, mas pode ser tarde de mais. a personagem interpretada por maggie tem o mundo todo com quem lutar e ainda tem de lutar consigo mesma. em que medida um ex-toxicodependente está apto a recuperar a vida se ainda não se libertou dos seus fantasmas.

a mesa de luz fala muita vez do seu cinema e dos seus filmes. este filme pertence ao meu cinema e, talvez, ao dela.

jorge vicente



(excerto de sherrybaby)

26.3.08

i am legend: awakening - story 3: isolation (brooke burgess)



(imagem de I Am Legend de Brooke Burgess)

para vocês, uma curta-metragem de brooke burgess, que descobri há minutos. é bastante interessante e merece ser vista, embora esteja uns furos abaixo de broken saints.

jorge vicente

broken saints (brooke burgess)



(imagem de broken saints, de brooke burgess)

quando quatro homens, vindos dos mais remotos cantos do globo, um dia juntarem as mãos, todos saberemos que o sol mudará de lugar e que o céu se afastará para dar origem a uma nova ordem global. os quatro homens, ou melhor, três homens e uma mulher serão uma forma algo afastada de quatro anjos do apocalipse, aqueles mesmos de que fala o livro dos livros.

não existe nenhuma razão para não acreditar, a não ser que tudo seja cinema e que o nosso mundo seja mais perfeito do que pensamos. esta história é a história de quatro mundos: o mundo do informático e do terrorista árabe, que se encontram numa experiência génetica no meio dos estados unidos; do budista e da jovem índia branca, levada na infância para a remota ilha de lomalagi (será que esse paraíso existe)? os quatro encontram-se e serão os portadores da mensagem dos deuses, embora algo involuntariamente. Por isso, são chamados de anjos descaídos, santos perdidos ou broken saints.

este filme é de animação e é um dos filmes mais originais que vi nos últimos tempos. bastante longo, com mais de 250 horas de duração, divide-se em várias séries ou pequenos episódios. a sua forma assemelha-se muito à banda desenhada, algumas vezes mais simples, outras vezes tremendamente arrojada. a mensagem é, também ela, simples, mas complexa: devemos salvar o mundo antes que seja tarde de mais.

jorge vicente



(clip de broken saints)

25.3.08

o livre-arbítrio, segundo allan kardec



(fotografia de Bruce Gilden, "Homeless man lies in the middle of the street, tokyo", 1999)

"sem o livre-arbitrio, o homem não teria nem culpa por praticar o mal, nem mérito em praticar o bem. e isto a tal ponto está reconhecido que, no mundo, a censura ou o elogio são feitos à intenção, isto é, à vontade. ora, quem diz vontade diz liberdade. nenhuma desculpa poderá, portanto, o homem buscar, para os seus delitos, na sua organização física, sem abdicar da razão e da sua condição de ser humano, para se equiparar ao bruto." (1)

allan kardec



(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 448.


e a que homens se equipararão os governantes chineses e do mundo? ao bruto? à formiga? ao princípe? all the souls are getting shorter. and the road to samsara broader. close to the ground. without homeland.

Jorge Vicente

24.3.08

a verdadeira religião, segundo allan kardec



(fotografia de Marc Yankus, "robert, confession", 2004)

"842. por que indícios se poderá reconhecer, entre todas as doutrinas que alimentam a pretensão de ser a expressão única da verdade, a que tem o direito de se apresentar como tal?

«será aquela que mais homens de bem e menos hipócritas fizer, isto é, pela prática da lei de amor na sua maior pureza e na sua mais ampla aplicação. esse o sinal por que reconhecereis que uma doutrina é boa, visto que toda doutrina que tiver por efeito semear a desunião e estabelecer uma linha de separação entre os filhos de Deus não pode deixar de ser falsa e perniciosa." (1)

allan kardec



(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 435.


serão todas? ou nenhuma? ou serão os homens que desenvolveram a religião os verdadeiros culpados? only in our hearts we have the answer.

Jorge Vicente

23.3.08

limites da liberdade, segundo allan kardec



(fotografia de Arthur Tress, "Office Workers Returning Home", New York, 1966)

"
826. em que condições poderia o homem gozar de absoluta liberdade?

«nas do eremita no deserto. desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumpre respeitar; não mais, portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta.»" (1)

allan kardec



(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 430.

21.3.08

"Urban Guerilla" (David Brock; Robert Calvert)



(fotografia de Dieter Appelt, "Autoportrait", 1978)

"I'm an urban guerilla
I make bombs in my cellar
I'm a derelict dweller
I'm a potential killer
I'm a street fighting dancer
I'm a revolutionary romancer
I'm society's cancer
I'm a two-tone panther
So let's not talk of love and flowers
And things that don't explode
We've used up all of our magic powers
Trying to do it in the road

I'm a political bandit
And you don't understand it
You took my dream and canned it
It is not the way I planned it
I'm society's destructor
I'm a petrol bomb constructor
I'm a cosmic light conductor
I'm the people's debt collector
So watch out Mr. Business Man
Your empire's about to blow
I think you'd better listen, man
In case you did not know" (1)

HAWKWIND



(1) retirado do CD dos Hawkwind, Doremi Fasol Latido, de 1972.


os hawkwind são uma das bandas mais emblemáticas do rock progressivo dos anos 70, com claras referências ao universo da ficção científica e do psicadelismo. este álbum, doremi fasol latido, onde se inclui a música "urban guerilla", foi um dos em que entrou lemmy, o futuro vocalista dos motorhead. bastante diferente do universo pesado e caótico da futura banda de lemmy, os hawkwind são uma banda bastante influente e com uma genealogia bastente interessante (quem quiser procurar a genealogia, está à vontade. a colectânea friends and relations está na net, à disposição de quem a quiser vasculhar).



(o vídeo de "urban guerilla")

jorge vicente

19.3.08

"House of Heroes" (Jussi Rautio; Jyri Vahvanen)



(quadro de Tim Murphy, "Blue Ride", s/d)

"The man and the ghost will meet again
In the night when it snows, never quiet, never cold

Hear their calling, lost lords to cast the ride, white spears in their hands, pointing towards the sky

The ancient echoes from the wielded jaws, the bones and the scales, the forgotten lore

The calm of the night, lighting the flame
In the night when they haunt the curtain shall fall

Heroes and fools, all together, all the same, statues of the restless
Gallery of the drowned and the pale

The man and the ghost will meet again on the marshes of the old, though silent when it snows" (1)

BATTLELORE



(1) retirado da colectânea 13th Street: the Sound of Mystery, Vol. 3.

os direitos das mulheres, segundo allan kardec



(quadro de Rufino Tamayo, "Luna Y Sol", 1990)

"(...)
a) assim sendo, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher?

«dos direitos, sim; das funções, não. preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. ocupe-se do exterior o homem e do interior a mulher, cada um de acordo com a sua aptidão. a lei humana, para ser equitativa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. todo privilégio a um ou a outro concedido é contrário à justiça. a emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização. sua escravização marcha de par com a barbaria. os sexos, além disso, só existem na organização física. visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. devem, por conseguinte, gozar dos mesmos direitos»" (1)

Allan Kardec



(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 428.



interessante como allan kardec dizia estas coisas em 1857...

17.3.08

o "comunismo", segundo as palavras de allan kardec



(quadro de William Holbrook Beard, "School rules", 1887)

"811.

Será possível e já terá existido a igualdade absoluta das riquezas?

«Não; nem é possível. A isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres

a) Há, no entanto, homens que julgam ser esse o remédio aos males da sociedade. Que pensais a respeito?

«São sistemáticos esses tais, ou ambiciosos cheios de inveja. Não compreendem que a igualdade com que sonham seria a curto prazo desfeita pela força das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa chaga social, e não corrais atrás de quimeras.»" (1)

Allan Kardec




(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 424, 425.


muito sábios eram os espíritos. conseguiram descobrir os grandes defeitos de uma sociedade comunista ainda antes de ela se manifestar na sua plenitude. no entanto, tal ideal não é para ser posto de parte. o ideal da igualdade só existirá quando todos os homens se juntarem as mãos, de livre e espontânea vontade, para criarem um mundo melhor. até lá, lutamos com a nossa solidariedade e o nosso amor.

Jorge Vicente

"The Soil" (Dreadful Shadows)



(quadro de Richard Baker, "Thrilling Murder", 2008)

"Shades are rising above my head
Voices whisper a name
A coat of ice is covering me
A breath of decay drifts away

«The soil is your father, don't try to escape
Give in our will and awake»

Paralyzed by agony
When bones broke through my skin
My splintering skull was the last thing I felt
I leave my mortal remains

«A spiral of darkness will lead to your home
Open the gate to that world
The soil is your father, don't try to escape
Give in our will and awake»" (1)

DREADFUL SHADOWS



(1) retirado do CD dos Dreadful Shadows, Beyond the Maze, de 1998.

os dreadful shadows são uma das bandas mais interessantes dentro do panorama gótico. pena que tantas optem por uma vertente mais simplista, mas bastante mais apelativa para a maioria dos adolescentes e jovens adultos deste mundo. os evanescense, os h.i.m. e tantas outras que se limitam a aproveitar as inovações do passado.

15.3.08

Die Fälscher (Stefan Ruzowitsky)



(imagem de die fälscher)

por vezes, tenho a sensação que os críticos de cinema se deixam invadir por aquele grande pecado: assimilarem o filme apenas na sua dimensão técnica e intelectual e esquecerem a dimensão emotiva. claro que podem contrapôr: essa dimensão emotiva não passa de uma técnica de manipulação das emoções, tão própria de certo tipo de cinema. é verdade, mas, também não nos podemos esquecer que o nosso corpo é feito de emoções e de vivências e, muitas vezes, vê-las representadas no grande ecrã faz-nos sonhar, rir, chorar, sentir nesse mesmo corpo o que o actor transporta. por isso, chaplin é mais bem-amado do que jean-luc godard, ingmar bergman mil vezes superior a manoel de oliveira (perdoem-me os amantes da obra de manoel de oliveira): a emoção está toda lá, em calvero (limelight, de chaplin), nas lutas entre marianne e bergman (no filme trolösa, realizado por liv ullman, mas com argumento de ingmar bergman), e tantos outros.

e, por isso, dïe falscher é um bom filme. talvez não o melhor filme para ganhar os óscares de melhor filme estrangeiro, mas sempre um filme interessante e que nos preenche a nível emotivo. conta a história de um judeu falsificador de documentos que é apanhado e levado para um campo de concentração. lá, conhece outros reclusos e é obrigado, conjuntamente com os outros, a falsificar dinheiro para os nazis. as condições nesse campo de concentração são mais bem avantajadas do que os outros: "os trabalhadores judeus trabalham para nós e dão-nos aquele dinheiro que o partido quer. por isso, têm de ser bem tratados" - dizem os alemães. no entanto, o drama subsiste. a guerra é a guerra e o racismo, o ódio, a barbárie alemã continua, mesmo que pareça um sítio melhor. nunca há sítios bons para morrer, digo eu.

o filme foi agraciado com um óscar de melhor filme estrangeiro este ano. e os críticos lá disseram: mais um filme sobre o holocausto? os tipos de hollywood dão o óscar a todos os filmes que falem sobre o holocausto. manipulação das massas, por certo! e o povo não percebe. e nós dizemos: não nos interessa saber se um determinado filme manipula ou não as nossas emoções, desde que o faça de forma inteligente e séria (não me estou a referir aos filmes norte-americanos hiper melodramáticos), não nos interessa racionalizar demasiado nem ver o filme apenas na sua dimensão de entretenimento. o que nos interessa é sentir, aquela palavra mágica que os críticos têm tanto medo de soletrar.

e é por essa razão que a morte de calvero foi a morte mais bela da história do cinema.

p.s.
e, já agora, o título em português é os falsificadores.

jorge vicente



(trailer do filme die fälscher)

12.3.08

a justiça da reencarnação, segundo allan kardec



(quadro de Robert Andrew Parker, "Sunrise", 1976)

"outra dificuldade, no entanto, apresenta aqui o sistema de unicidade das existências. segundo este sistema, a alma é criada no momento em que nasce o ser humano. então, se um homem é mais adiantado do que outro, é que Deus criou para ele uma alma mais adiantada. por que esse favor? que merecimento tem esse homem, que não viveu mais do que outro, que talvez haja vivido menos, para ser dotado de uma alma superior? esta, porém, não é a dificuldade principal. se os homens vivessem um milénio, conceber-se-ia que, nesse período milenar, tivessem tempo de progredir. mas, diariamente morrem criaturas em todas as idades: incessantemente se renovam na face do planeta, de tal sorte que todos os dias aparece uma multidão delas e outra desaparece. ao cabo de mil anos, já não há naquela nação vestígio de seus antigos habitantes. contudo, de bárbara, que era, ela se tornou policiada. que foi o que progrediu? foram os indivíduos outrora bárbaros? mas, esses morreram há muito tempo. teriam sido os recém-chegados? mas, se suas almas foram criadas no momento em que eles nasceram, essas almas não existiam na época da barbaria e forçoso será então admitir-se que os esforços que se despendem para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar almas imperfeitas, porém de fazer que Deus crie almas mais perfeitas.

comparemos esta teoria do progresso com a que os Espíritos apresentaram. as almas vindas no tempo da civilização tiveram sua infância, como todas as outras, mas já tinham vivido antes e vêm adiantadas por efeito do progresso realizado anteriormente. vêm atraídas por um meio que lhes é simpático e que se acha em relação com o espaço em que actualmente se encontram. de sorte que, os cuidados dispensados à civilização de um povo não têm como consequência fazer que, de futuro, se criem almas mais perfeitas; têm, sim, o de atrair as que já progrediram, quer tenham vivido no seio do povo que se figura, ao tempo da sua barbaria, quer venham de outra parte. aqui se nos depara igualmente a chave do progresso da humanidade inteira. quando todos os povos estiverem no mesmo nível, no tocante ao sentimento do bem, a Terra será ponto de reunião exclusivamente de bons Espíritos, que viverão fraternalmente unidos. os maus, sentindo-se aí repelidos e deslocados, irão procurar, em mundos inferiores, o meio que lhes convém, até que sejam dignos de volver ao nosso, então transformado." (1)

Allan Kardec


(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 414, 415.

11.3.08

"My Lost Lenore" (Veland)



(quadro de P. Alfieri, "Girl With Cat", 1970)

"For thy promise bewailed
by her raveneyes
by her beauty and a scarlet sunrise
May thy river bury her silvertears
A fallen angel... enshrined in moonlit seas

Leaving vitality
so serene breeds my darkness
Entreating winterwinds
though I leave... I embrace thee

Winternight
conceal thy precious angellore
I secrete my soul
under thy wings of sorrow
Dark I embrace thy eyes
wander lost on life's narrow path
I reveal my heart
to this beauty dressed in dark

Grieving raveneyes
falls asleep with the sunrise
Delightful midsummer breeze
though I leave... I await thee

Grant me thy last midsummer breeze
May thou ascend from endless sleep
... my desire
Dance me above thy moonli seas
Glance yearningly into the deep
a cold and weary night

Widwinternight
Descending me like flakes of snow
I embrace the cold
for a life that morrows
Dark I embrace thy heart
Wanderer lost beyond veils of dawn
I conceal thy loss
enthralled in life yett still I mourn
My lost Lenore..." (1)

TRISTANIA

(1) retirado do CD dos Tristania, Widow's Weeds, de 1998.

parece que os góticos de hoje estão apaixonados pela fascinante personagem de
O Corvo de Edgar Allan Poe. Lenore persegue-os. Assim como Annabel Lee.

7.3.08

o voto de silêncio, segundo allan kardec



(quadro de pietro annigoni, "contemplazione del vuoto", 1970)


"772. que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antiguidade?

«perguntai, antes, a vós mesmos se a palavra é faculdade natural e porque deus a concedeu ao homem. deus condena o abuso e não o uso das faculdades que lhe outorgou. entretanto, o silêncio é útil, pois no silêncio pões em prática o recolhimento: teu espírito se torna mais livre e pode entrar em comunicação conosco. mas o voto de silêncio é uma tolice. sem dúvida obedecem a boa intenção os que consideram essas privações como actos de virtude. enganaram-se, no entanto, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras leis de deus» (1)

allan kardec


(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 405.



aqui, como no caso anterior. o recolhimento em vez do isolamento. o silêncio em vez da não-existência. o poema em vez do ruído. porque o poema. o meu poema. só pode ser escrito no meu silêncio - cá dentro.

o voto de isolamento, segundo allan kardec



(quadro de Annigoni, "Untitled", 1990)

"771. que pensar dos que fogem do mundo para se votarem ao mister de socorrer os desgraçados?

«esses se elevam, rebaixando-se. têm o duplo mérito de se colocarem acima dos gozos materiais e de fazerem o bem, obedecendo à lei do trabalho

a) e dos que buscam no retiro a tranquilidade que certos trabalhos reclamam?

«isso não é retraimento absoluto do egoísta. esses não se insulam da sociedade, porquanto para ela trabalham»" (1)

allan kardec



(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 404-405.



não sei até que ponto os monges da grande cartuxa se incluem neste segundo grupo. eles trabalham, brincam, mas votam-se ao poder do isolamento para toda a sua vida. uma vida de comunidade seguindo os moldes das estações, como a liturgia das horas. o inverno, a primavera, o estio, o outono. será egoísmo. será a prática da oração. será a ascese. ou a escada da salvação.

tão longe do deserto do anacoreta, que vivia na gruta. ou demasiado perto. não sei.

jorge vicente

5.3.08

O método Crítico-Paranóico de Salvador Dali, segundo tomo



(quadro de Salvador Dali, "Marsupial Centaurs", 1940)

"The primary function of the paranoiac-critical method is, of course, to produce images of a startling and authentically unknown nature. Contrary to belief, these are not hallucinations. Rather than perceiving an object which does not exist, the paranoiac mind perceives alternate meanings and interpretations of objectively «real» things. The new interpretation may, in fact, be totally viable, and can displace the original perception instantaneously." (1)

Aaron Ross

(1) ROSS, Aaron - "The art of Salvador Dali: from the grotesque to the sublime" [Em linha]. [Consult. 05 Mar. 2008] Disponível em www: http://www.dr-yo.com/grot.html

4.3.08

O método Crítico-Paranóico de Salvador Dali



(quadro de Salvador Dali, "Slave Market with the Invisible Bust of Voltaire", 1940)

"It was in 1929 that Salvador Dali brought his attention to bear on the internal mechanism of paranoiac phenomena and envisaged the possibility of an experimental method based on the sudden power of the systematic associations proper to paranoia; this method afterwards became the delirio-critical synthesis which bears the name «paranoiac-critical activity.» Paranoia: delirium of interpretive association bearing a systematic structure. Paranoiac-critical activity: spontaneous method of irrational knowledge based on the interpretive critical association of delirious phenomena." (1)

Salvador Dali

(1) DALI, Salvador apud ROSS, Aaron - "The art of Salvador Dali: from the grotesque to the sublime" [Em linha]. [Consult. 04 Mar. 2008] Disponível em www: http://www.dr-yo.com/grot.html