22.2.09

meister eckhart



(fotografia de kenro izu, "#1114B", s/d)


"O alimento que tomamos transforma-se em nós, mas o alimento espiritual que recebemos transforma-nos em si próprio; assim o amor divino não é absorvido por nós, pois isso faria duas coisas. Mas o próprio amor divino absorve-nos e tornamo-nos um com ele." (1)

meister eckhart


(1) ECKHART, Meister apud SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 256.

walt whitman



(fotografia de kenro izu, "#1060B", s/d)


"Por vezes com alguém que amo encho-me de fúria
com receio de transbordar amor não retribuído,
Mas agora penso que não existe amor não retribuído,
A paga é certa, de uma maneira ou de outra.
(Amei ardentemente certa pessoa e o meu amor não
foi retribuído,
No entanto devido a ele escrevi estas canções.)" (1)

walt whitman


(1) WHITMAN, Walt apud SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 254.

21.2.09

uma mensagem...



(fotografia tirada logo depois da libertação de auschwitz). (auschwitz, polónia, 27 janeiro de 1945). A fotografia pode ser vista aqui.


Esta mensagem foi encontrada na parede da cave de uma casa bombardeada na 2ª Guerra Mundial. Quem a escreveu foi uma vítima do Holocausto:


"Creio no Sol - mesmo quando ele não brilha;
Creio no amor - mesmo quando ele não se mostra;
Creio em Deus - mesmo quando Ele não fala." (1)


(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, Medicina e Milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 250.

20.2.09

a importância da assertividade



(fotografia de kenro izu, "#1010B", s/d)


"As pessoas que sorriem sempre, que nunca contam os seus problemas a ninguém e negligenciam as suas próprias necessidades são as que têm mais probabilidades de ficar doentes. Para elas, o problema principal é frequentemente aprender a dizer que não sem culpa. Muitas só conseguem viver por si próprias e dizer aos outros o que realmente sentem depois do choque do diagnóstico." (1)

bernie s. siegel


(1) SIEGEL, Bernie S. - Amor, Medicina e Milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 243.

in nomine



(mouraria, retirado daqui)


"eu d'esta gloria só fico contente
que a minha terra amei, e a minha gente"

António Ferreira (8)

o meu olhar abarca todo o mural
da cidade, como se ela existisse
apenas em pedra, sem as pessoas
e sem o rumor dos mercadores,
ardendo no repasto dos seus olhos,
ávidos do sacrifício das águas
e pedindo que o país não seja
mais do que um sonho infantil.

lá em baixo, na cidade antiga,
as mulheres da vida encostam os
seios no colo da Virgem e escrevem
poemas, como se de orações fossem
feitas a frieza dos barcos, navegados
por homens e não por peixes.

o olhar da mouraria é feito do meu
olhar, o olhar do castelo na altura
do são pedro, o olhar das gentes que
se enfeitam e que descansam o sal no
coração da areia, esperando que Deus
traga a morte na próxima revolução das
ondas.

Jorge Vicente



(8) FERREIRA, António in RIBEIRO, José Silvestre – História dos estabelecimentos scientificos, litterários e artísticos de Portugal nos successivos reinados da monarquia: 5º volume. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1876. p. 295.

19.2.09

satisfação no trabalho



(fotografia de walter iooss, "lou brock, boston, massachusetts", 1967)


"Não existem dúvidas de que a satisfação no trabalho é importante para a saúde. Tal como salientou Hans Selye, a maior autoridade mundial sobre stress: «Se faz o que gosta, na realidade nunca trabalha. O seu trabalho é o seu divertimento.» (1)

bernie s. siegel

(1)SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 238.

18.2.09

genesis



(fotografia de franco fontana, "untitled, swimming pool", 1983)


"Now the serpent was more subtil that any beast of the field which the Lord God had made" (1)

genesis


(1) citação do genesis apud PULLMAN, Philip - The Amber Spyglass. London: Scholastic Press, 2001. ISBN 0-439-99414-4. pg. 233.

"eleanor rigby" (john lennon / paul mccartney)



(fotografia de beth y. edwards, "anne", 2002)


"Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people

Eleanor rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Lives in a dream
Waits at the window, wearing the face that she keeps in a jar by the door
Who is it for?

All the lonely people
Where do they all come from ?
All the lonely people
Where do they all belong ?

Father mckenzie writing the words of a sermon that no one will hear
No one comes near.
Look at him working. darning his socks in the night when there's nobody there
What does he care?

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?

Eleanor rigby died in the church and was buried along with her name
Nobody came
Father mckenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave
No one was saved

All the lonely people
Where do they all come from?
All the lonely people
Where do they all belong?" (1)

the beatles

(1) retirado do cd dos beatles, revolver (1966)

17.2.09

galileu



(pintura de jacob von oost I, "the reading lesson", circa 1660-1655)


"Não se pode ensinar a um homem uma coisa qualquer. Pode-se apenas ajudá-lo a encontrá-la dentro de si" (1)

galileu



(1) GALILEU GALILEI apud SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 223.

16.2.09

isn't she great, andrew bergman



(imagem de isn't she great)


jacqueline susann tinha um sonho: ser famosa. durante grande parte da sua vida, esse desejo concretizou-se através da arte da representação: participou em algumas peças de teatro e anúncios publicitários e teve pequenos papéis em filmes. no entanto, foi só após o casamento com irving mansfield, um agente publicitário, que o nome de jacqueline susann começou a ser falado. mansfield tinha um olho para o marketing e, através de pequenos golpes publicitários, construiu a imagem de susann (a sua cara aparecia nos jornais e começou a ser presença regular no morey amesterdam show).

e, a partir daí, a carreira de susann foi ganhando forma, foi-se construindo até se transformar numa pequena celebridade, estatuto que conseguiu quando publicou o seu segundo romance, valley of the dolls, um romance que narrava de forma brutal e chocante o universo de hollywood e da broadway. o livro foi rejeitado por quase todas as editoras e apelidado de pornográfico e chocante. no entanto, permanece como um dos livros mais vendidos de toda a história da literatura.

o filme de andrew bergman, isn't she great, tenta fazer uma biografia de susann, mas o que apresenta é tão contrário à realidade que temos dificuldade em gostar do filme. e, no entanto, bette midler é irrepreensível e representa a frivolidade de toda uma indústria no seu esplendor.

jorge vicente



(trailer de isn't she great)

às vezes, é bom ser um grande "traste"!



(retirado daqui)


recebi ontem um interessantíssimo desafio proposto pela poetisa alexandra oliveira: o desafio consiste em sermos "trasteadores" oficiais, o que quer dizer: escolhemos um determinado produto da nossa região e divulgamo-lo aos nossos conhecidos. embora os "trasteadores" oficiais tenham sempre uma empresa por trás, nós poderemos fazer a nossa publicidade, não é? afinal, não somos nós os melhores divulgadores dos produtos da nossa terra?

como se processa esta divulgação? da seguinte maneira:

1º - quem receber o desafio, coloca o seu produto para sorteio no seu blog;
2º - desafia 3 amigos ou bloguistas a fazerem o mesmo;
3º - faz o sorteio no dia 28 de fevereiro e envia o produto a quem ganhar!!!

como é que se entra no sorteio? basta colocar um comentário aqui no meu blog a dizer que quer participar no sorteio!!!! mas vocês podem perguntar: porque é que é 28 de fevereiro? simplesmente porque é o último dia do mês!!! agora, espero arranjar o tempinho para ir comprar o meu presentinho!!!!

em princípio, o meu produto vão ser queijadas de sintra, da SAPA, as verdadeiras, umas das mais antigas da vila mais linda de portugal!!!!!

passo o desafio a mais três pessoas:

- Ana Vicente (Mesa de Luz);
- Lumife;
- arlete piedade.

por isso, joguem e divulguem o que a nossa terra tem de bom!!!

um grande abraço a todos
jorge vicente

13.2.09

in nomine



(pintura de mohammad ali talpur, "leeka 1", s/d)


sente o olhar antigo
aquele que recebeste
quando renunciaste às
nuvens

sente os olhos acordarem
à medida que percorres as
paredes caiadas de um silêncio

talvez inquietante, talvez
demasiado lento, como se
o percorrer da chuva não

acabasse jamais e todo o
alentejo se prometesse nos
teus olhos serenos.

jorge vicente

10.2.09

in nomine



(pintura de paul césar helleu, "ellen et sa tante", 1887)

o poema: a apoteose do encontro
o assumir das palavras brancas
na teurgia que procede ao corpo.

tudo existe
tudo é
na sílaba dos dedos.

jorge vicente

martin buber 2



(pintura de jean-baptiste-camille corot, "two sisters in the prairie", 1860"


"A revelação não procede do subconsciente; é dona do subconsicente... apodera-se do elemento humano e remodela-o: a revelação é a forma pura do encontro." (1)

martin buber

(1) BUBER, Martin apud SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 209.

in nomine



(pintura de edgar degas, "a standing dancer, her hands behind her back", s/d)


procura o curso da água
se te acercares do rosto
da cidade.

todos os homens
beijarão as tuas preces à
medida que sobrevives ao
ventre do teu vestido dançando
ao som do alaúde.

retomo o silenciar da romaria
sem, ao menos, chorar as ondas.

Jorge Vicente

(Silves 2005-08-12)

9.2.09

in nomine



(pintura de christopher richard wynne nevinson, "waves", circa 1917)

tenho um profundo respeito (reverência)
pelo rio que deserda as ondas
como se uma névoa de espuma
o alumiasse e o obrigasse a
voltar para trás.

todo esse respeito profundo (palavra)
cala e segue a água:
a presença súbita das algas,
uma corrente feroz,
o carmelo que se ergue no silêncio
perene das rochas.

não há respeito (há voz)
nas palavras que seguem o ritmo
da escritura.

jorge vicente

in nomine



(pintura de otis william oldfield, "white dress, white nightie", circa 1936)


não sei silenciar o amor
mas apenas verter em sal
a memória da casa desfeita.

das paredes, só morre o futuro
dos dedos. sei que sou profeta
e que acordo a pítia quando
ela se revela no desembrulhar
do olhar claro.

jorge vicente

a noite abrir-nos-à



(escultura de margarita checa, "energy", s/d)


9.

a noite abrir-nos-à naquilo que vomita. naquilo que fere. naquilo que fica depois. é assim tudo o que transcende a sombra. aquilo que ela representa. o múltiplo de dois. a essência vestida ao contrário.

amanhã, acordarei e escreverei um poema onde possa dizer: alimenta-me de silêncio e escreve-me um poema sem palavras. iremos juntos ao cinema e abrirei o véu da tela para que possas descortinar o céu atrás das ruas da cidade. os olhos serão pedaços de chamas deitados na pedra-mármore ou na escrita-papel. não há ruas que possam existir se não puderes abandonar a escrita e chamar pelo meu nome. a sombra só será verdadeira se o poema for o único modo de existir.

não é. a sombra é tudo aquilo que não conseguimos dizer pelo corpo. a roda. a ciranda dos pássaros. a beleza da esteva em noite de caminheiros: tudo isso existe sem a poesia e sem as palavras.

jorge vicente

6.2.09

in nomine



(fotografia de sky bergman, "55 da série the naked and the nude", 1990)


por entre as oliveiras,
dois corpos estendidos
e assumindo o brilho
do véu que o olhar
do anjo esconde.

é noite e antevejo nos
olhos o sereno murmurar
do deus em fogo.

jorge vicente

"rock show" (peaches)



(fotografia de david lachapelle, "britney", s/d)


"Rock show
You came to see a rock show
A big gigantic cock show
You came to see it all
Rock show
You came to hear it
You came to sneer it
You came to do it all

Do you wanna get it for credit?
Forget it
Don’t bet it
Call in the medic
It's pathetic
You’ve gotta let it go

Let's go
Rock show
C'mon

Rock show
You came to see a rock show
This ain't a fucking talk show
You came to see it all
Rock show
You came to fear it
You came to sear it
You came to do it all

Do you wanna get it for credit?
Forget it
Don’t bet it
Call in the medic
It's pathetic
You’ve gotta let it go

Do you wanna get it for credit?
Forget it
Don’t bet it
Call in the medic
It's pathetic
You’ve gotta let it go

Let's go
Rock show
C'mon

Rock show
Let's go
Rock show
Let's go
Rock show
Let's go
Rock show
C'mon" (1)

peaches

4.2.09

made, jon favreau



(imagem de made, de jon favreau)


por vezes, sabe bem ver um filme que não nos obrigue a pensar, e pensar já é uma actividade que nos obriga a tanto, a conversar com o nosso patrão, a decidir se vamos por aqui ou por ali, a decidir sobre se haveremos de tomar café ou um chá quente, a decidir sobre dormir ou estar acordado.

este filme não é tanto isso, não é tanto um filme de deitar e jogar fora, é mais um pequeno filme, honesto, simples, despretencioso, mas também sem aquele poder de pele que o grande cinema alternativo norte-americano tem. narra a história de dois amigos que vão fazer um trabalho para um mafioso local, interpretado por peter falk. o grande peter falk. recebem uma certa quantidade de dinheiro que os vai possibilitar cumprir as suas missões. tudo o que têm de fazer é estar atentos, cumprir a sua parte e regressar ao pequeno mundo de onde saíram, embora mais ricos.. tudo corre mal, como era suposto acontecer num filme, e as peripécias vão se acumulando.

o que gostei: jon favreau. honesto, bom actor, compõe uma personagem que poderíamos conhecer da rua. peter falk: mas ele dispensa apresentações, não é? ou não fosse ele um dos anjos de wim wenders... lembram-se?

jorge vicente



(entrevista a jon favreau)

biodançando por aí...




o cássio amaral, amigão e poeta brasileito do araxá (terra de dona beija!...) mandou-me uma daquelas correntes ou jogos que se transmitem via blogs.

as regras são as seguintes:

1: escolha um cantor (Hank Williams);
2: a cada pergunta feita, terá que colocar a resposta. Só que a resposta tem que ser o título de uma música (e é aqui que entra a biodança porque vou escolher músicas que ouço lá);
3: repassar a 7 blogs (esta, não vou cumprir - têm todos que me ler e roubar o que está aqui (risos) );

Perguntas:
a) és homem ou mulher? yellow submarine. Não tenho um género específico, ando sempre debaixo de água!!

b) Descreve-te: Deixa a Vida Me Levar. apesar de hoje ser mais difícil porque são os espirros que me estão a levar... mas o zeca pagodinho é um mestre da boa disposição.

c) O que as pessoas pensam de ti? Fields of Gold. Um interior de ouro. De preferência, a versão da Eva Cassidy.

d) Como descreves o teu último relacionamento? Isn't a Pity (George Harrison). Acabou.

e) Descreve o momento actual (da tua relação) Jambalaya. Só me apetece ser um cowboy e dançar. Apesar de não ter uma relação-amor, tenho uma relação-amizade com muitas pessoas especiais. É o poder do grupo e da roda.

f) Onde querias estar agora. Banana Boat Song (Harry Belafonte). Esta música é uma música tropical. Por isso, gostava de estar a comer bananas nos trópicos e, de preferência, num sítio com muita água e com algum calor (não muito).

g) O que pensas do amor. Here Comes the Sun (The Beatles). É o sol. apenas. que ilumina tudo e todos.

h) Como é a tua vida. Pra me encontrar (Marisa Monte). Ainda não me encontrei. Só quando encher os poemas de água, de pele, de todas as formas do universo, esse encontro comigo próprio acontecerá. Mas, como disse Rolando Toro em Janeiro quando esteve em Portugal, nós nunca nos conhecemos perfeitamente. Resta o abraço e o olhar compartilhado.

i) O que poderias se pudesses ter um só desejo. If (Pink Floyd). Se tivesse um só desejo, pediria uma capacidade ilimitada de aceitação do que a vida me oferece: amor, liberdade, poemas mas, também, choro, lágrima, ferida.

j) Escreva uma frase sábia. Canta, Canta Minha Gente (Martinho da Vila). O Martinho é que sabia o poder do canto e da alegria. Nada é mais sábio do que sorrir.

Jorge Vicente

"hush" (Watch Me Burn)



(pintura de John Piper, "Dungeness Girls", 1933)


"Hush
Rest your head on me
I will let you sleep
You're safe on your knees
You're safe with me
Hush" (1)


(1) retirado do cd dos watch me burn, at the stake (2007)

1.2.09

"simple twist of fate" (bob dylan)



(fotografia de aaron schuman, "once upon a time in the west", 2008)


"They sat together in the park
As the evening sky grew dark,
She looked at him and he felt a spark tingle to his bones.
'Twas then he felt alone and wished that he'd gone straight
And watched out for a simple twist of fate.

They walked along by the old canal
A little confused, I remember well
And stopped into a strange hotel with a neon burnin' bright.
He felt the heat of the night hit him like a freight train
Moving with a simple twist of fate.

A saxophone someplace far off played
As she was walkin' by the arcade.
As the light bust through a beat-up shade where he was wakin' up,
She dropped a coin into the cup of a blind man at the gate
And forgot about a simple twist of fate.

He woke up, the room was bare
He didn't see her anywhere.
He told himself he didn't care, pushed the window open wide,
Felt an emptiness inside to which he just could not relate
Brought on by a simple twist of fate.

He hears the ticking of the clocks
And walks along with a parrot that talks,
Hunts her down by the waterfront docks where the sailers all come in.
Maybe she'll pick him out again, how long must he wait
Once more for a simple twist of fate.

People tell me it's a sin
To know and feel too much within.
I still believe she was my twin, but I lost the ring.
She was born in spring, but I was born too late
Blame it on a simple twist of fate." (1)

bob dylan


(1) retirado do cd de bob dylan, blood on the tracks, de 1975.

Beijo: poema de sónia regina e jorge vicente



(pintura de robyn geddes, "mystery II", 2005)


beijo – sonia regina e jorge vicente


1.

a tua mão fala.
anima ao gesto,
os meus lábios;

a tua boca me olha.
mais que uma parte
de mim compreende

a profundidade .

sonia regina


2.

o teu corpo
fala.
as mãos sentem
o gineceu
da flor
no colo
dos lábios.

a flor
amanhece.
cala no gesto da
abelha
o alimento de todos
os dedos..

jorge vicente


3.

o teu gesto
fala.
meu corpo
move-se
no movimento
do mel.

a flor
desabrocha.
da abelha,
a cera
na pele
dos lábios.

sonia regina


4.

o teu silêncio
suspira.
é o beijo que
se submete
à génese do
grito.

é apenas um
poema que
renasce da
ventania dos
dedos.

jorge vicente


5.

o teu suspiro
murmura.
é um grito
pendurado
nos lábios
sem beijo.

é apenas um
poema que
venta, tangente
à ponta dos
dedos.

sonia regina


6.

os dedos sussuram
o om e o que resta
dentro da pele.
o coração,

a silenciosa
vertigem do
campo verde
e da casa por
dentro dos olhos.

jorge vicente


7.

a memória rumoreja.
na retina
a vertigem
do olhar,

o cicio
do coração
no silêncio
da mente.
a pele é testemunha.

sonia regina


8.

testemunho a pele
e o orgasmo dos
dedos. as mãos são
as ventosas da árvore
e o tronco

o bramir suave do
pai encharcando o
sol.

jorge vicente


9.

a pele racha, casca
intumescida de
capilares enfartados
da seiva de prazer
nos dedos

pulsa o sol, brando,
no beijo imenso
que testemunha
a escrita.

sonia regina


10.

há um beijo imenso
que pulsa e vibra no
cordão das asas.
um ponto: um ponto
apenas no alto da
estrela,

uma linha luminosa que
separa o lugar dos anjos
para o lugar da palavra.

jorge vicente


11.

a poesia firme atenta
ao pulso, no cordão
das asas perspicazes.

desenrolado, o ponto
de vida [corpo
de canções escritas
numa linha luminosa,
com sensualidade
e ternura] sorri.

nas palavras, os fios
embaralhados.

sonia regina


12.

os fios são os cordões
dos beijos a pele da
carne em fiadas de linhas
e gotas de esteva

alumia o serão dos verões
e serás alumiado pela palavra
maior, o verso escrito por
entre as páginas de um
corso carnavalesco.

jorge vicente


13.

há uma chama na palavra
maior, que derrete beijos.
pingos tornados veios
perfumam a pele, solo
de verões amaciados
no vinho

fibras suportam versos
de carnaval

numa escrita acesa e insone
desfilam páginas obscuras.

sonia regina


14.

a escrita acendeu o fogo
e o alumiou num verão de samba

são os corpo que vencem a poesia
e a dançam numa romagem de água
e chuva. sê como o bambu:

escreve sempre ao sabor do tambor.

jorge vicente


15.

sambam os corpos em brasa, atiçando
a poesia num ritmo de verão acelerado

versos pululam das águas

os poemas que se penduram na escrita
descrevem arcos de palavras, como
bambus ao vento.

sonia regina


16.

danço ao vento e reparto a minha
voz. o pão dado aos vizinhos são
as migalhas dos pombos da minha

rua. um cordel de asa, uma voz sempre
viva - o pião, o tambor de brincar e o
olhar sempre ausente de uma borboleta
passeando.

jorge vicente


17.

venta nos lábios a voz de um verso atento
ao bailado das folhas, mas o dia é de lavra
urbana para a poesia

em frente à igreja já não há pombos, pão
ou migalhas; a oração sussurra, ainda viva
entre os cordéis de lembranças infantis

o passeio de uma borboleta não faz tremer
o pousio dos versos recolhidos nas pálpebras.

sonia regina


18.

o passeio de uma borboleta
amanhece nos meus dedos
e é a palpebra do risco que
desenho no ar

os meus dedos são tudo:
a borboleta pousando,
o sol amanhecendo no
desenho, o poema triturado
na pele e no corpo.

com o dedo amo e renasço
todos os dias, com o dedo
toco os braços de adão
e o faço escrever um verso.

jorge vicente


19.

talvez seja de adão o sopro
que vitaliza as pálpebras,
acordando as letras

contudo

somente teu toque amoroso
o faria renascer, da carne,
num poema

és tu o poeta das manhãs,
com palavras desenhas sóis

cumprem eles as entrelinhas
em elipses suaves; como os
vôos e pousos da borboleta
riscam, coloridos, o ar
da página em branco.

sonia regina


20.

és tu a poetisa da claridade
o beijo dado no amanhecer
da flor selvagem

quando danço, danço com as
palavras e o corpo, os meus
dedos despem-se e voltam a
assinalar o espaço das noites.

és tu a poesia da claridade
e o sol canta como uma vírgula
de luz.

jorge vicente


21.

à vírgula seguem os espaços
e palavras graves agarradas
à linha. cantam, obscurecidas,

com medo do ponto despem-se
de significado exato, dançam

pouco claras como as noites
[o lado agreste dos dias na
mão fechada das trevas] ,

não como a nudez dos teus dedos.

sonia regina


22.

os meus dedos nunca são nus. ou são.
ou são na medida exacta da inocência,
da transparência entre as palavras.

sabes, aquele espaço que existe entre
a letra e a vírgula, entre o coração e
a relva verde do meu quintal.

sabes, existe uma casa onde posso morar
e escrever palavras, daquelas casas que
só existem quando pensamos nelas e as
revemos no olhar da memória.

jorge vicente


23.

até gosto dos espaços, meus dedos se aprazem
com a certeza do porvir. nenhuma espera vazia,
portanto, meu texto tem somente hiatos: evita
lacunas rechaçadas pela lírica.

por vezes nasce um mato no verde chão do meu
quintal e eu não lhe peço licença para extirpá-lo:
é o câncer da grama.

assim cuido do solo, minha casa sorri e nos abriga,
a mim e à minha escrita. vivemos felizes, as três.

e sem muito pensamento contemplamos a lagoa.

sonia regina


24.

a lagoa está parada. interpela-nos o
olhar dos peixes. e os peixes chovem.
chovem como se dependesse deles toda
a água.

eu olho e escrevo um poema. o poema
que se inicia. ou se acaba no olhar de
um verso acabado tarde. talvez os peixes
os entendam. já sei: quando a lagoa, se
abrir,

todos os anjos dormirão nas suas asas.

jorge vicente