28.12.07

"Ballade de Mercy" (Corvus Corax)

Uma das músicas mais belas do colectivo alemão Corvus Corax, provavelmente a mais popular das bandas europeias de inspiração medieval, nomeadamente entre a comunidade gótica. Para além das feiras, já foram convidados para festivais de metal tão famosos como Wacken, Wiesen (será este o nome??), etc. Não será tão imprescindível como Eduardo Paniagua, Jordi Savall e o seu Hisperion XX, e outros, mas é bastante divertido e bem disposto. O ideal para feiras medievais que apontem para o entretenimento, em detrimento do rigor histórico e da erudição.



Jorge Vicente

Unsane, "Windshield"

Talvez seja eu que esteja enganado, mas esta música dos Unsane, "Windshield", tocada em Lausanne, a 10 de Setembro deste ano, faz-me lembrar os Melvins. Ou talvez não esteja enganado. Tanto os Unsane como os Melvins fazem parte da Ipecac, a editora de Mike Patton, e é natural que o som seja similar. Muitas editoras alternativas têm um som característico e esta não deve fugir à regra.



Jorge Vicente

27.12.07

Jay and Silent Bob Strike Back (Kevin Smith)



(imagem de Silent Bob e Jay)

Eu penso que este filme de Kevin Smith é um pouco mais comercial do que os outros filmes que eu vi do mesmo realizador, mas não deixa de ser interessante e hilariante. E é sempre um prazer acrescido ver Jason Mewes, Kevin Smith, Jason Lee, Brian O'Halloran, Jeff Anderson e Will Ferrell no ecrã, sendo este último realmente divertido no papel do polícia protector da vida animal. Só Ben Affleck está igual a si próprio, o galã sem o galanteio digno de uma risada. Nem todos podem ser perfeitos.

Resumindo: é uma loucura completa, non-sense, com referências a todos os seus filmes anteriores e ao universo de Hollywood em geral. Pode não ser a comédia mais certinha, douradinha, mas é de Kevin Smith.



Jorge Vicente

23.12.07

As crianças segundo o espiritismo (Allan Kardec)



(fotografia de Gordon Baer. Retirada daqui).

"De facto, ponderai que nos vossos lares nascem possivelmente crianças cujos Espíritos vêm de mundos onde contraíram hábitos diferentes dos vossos e dizei-me como poderiam esses seres estar no vosso meio, trazendo paixões diversas das que nutris ou inclinações e gostos, inteiramente opostos aos vossos. Como poderiam incorporar-se entre vós, sem ser como Deus o determinou, ou seja, passando pelo crivo da infância?" (1)

Allan Kardec

Parece-me bem que Allan Kardec já terá alguns conhecimentos sobre crianças índigo...


(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 183.

Alma vs. Cérebro (Allan Kardec)



(fotografia de Maxime du Camp, "Kalabscheh. Ptolémée Caesarion", 1850)

"O Espírito, ao encarnar, traz certas predisposições. Se se admitir que a cada uma corresponda um órgão no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será efeito e não causa. Se nos órgãos estivesse o princípio das faculdades, o homem seria uma máquina sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade dos seus actos. Então, seria forçoso admitir-se que os maiores génios, poetas ou artistas, só o são porque o acaso lhes deu órgãos especiais, de onde resultaria que, sem esses órgãos, não teriam sido génios; assim, o maior dos imbecis poderia ter sido um Newton, um Virgílio ou um Rafael, se tivesse sido dotado de certos órgãos. Esta suposição seria ainda mais absurda se a aplicássemos às qualidades morais. Assim, segundo esse sistema, um Vicente de Paulo, se a natureza o tivesse dotado deste ou daquele órgão, teria podido ser um celerado; por sua vez, o maior dos celerados apenas precisaria de um certo órgão para ser um Vicente de Paulo. Pelo contrário, se admitir que os órgãos especiais, se realmente existirem, são consecutivos, desenvolvendo-se por efeito do exercício da faculdade tal como os músculos se desenvolvem por efeito do movimento, e não tereis nada de irracional. Sirvamo-nos de uma comparação trivial à força de ser verdadeira: através de certos sinais fisionómicos reconhecemos que um homem tem o vício da bebida. Serão esses mesmos sinais que fazem dele um ébrio, ou será a ebriedade que imprime nele aqueles sinais? Podemos dizer que os órgãos recebem o cunho das faculdades" (1)

Allan Kardec

(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 178,179.

21.12.07

Legs Akimbo vs. Kevin Smith

Parece mentira, mas quando a Legs Akimbo, das Team Plastique, começou o seu jogo interactivo com o público, pedindo-os para desenharem um pénis de homem e um pénis de cavalo, num papel, veio-me logo à cabeça o filme subversivo de Kevin Smith, Clerks II. De facto, uma das últimas cenas envolve erotismo intra-espécies, como bem salientou a personagem interpretada por Zak Knutson. Foi uma cena monumental, claramente subversiva, digna dos mais loucos realizadores norte-americanos.

Por isso, quando o jogo começou, foi muito divertido para mim porque tudo o que me apetecia desenhar um cavalinho com uma máscara no focinho e um garanhão louco tentando fazer o seu trabalho. Claro que não desenhei quase nada. Primeiro, porque não tenho talento para rabiscos. Depois, porque não tive tempo. Mas, foi muito interessante e muito didáctico. Não no sentido do filme, mas no sentido da subversão e da brincadeira. A capacidade de sermos crianças e gozarmos com as coisas mais asquerosas e nojentas que possamos pensar. E é acho que é nesse aspecto que residiu o talento de Legs Akimbo ontem no Lounge Bar, ao pé do Cais do Sodré. Ser criança outra vez, ser pequenina, não ter tabus, não esconder a língua debaixo de redomas de vidro, esperando que os adultos fiquem zangados. Ela disse que ensinava crianças pequenas e, sendo verdade, tem todo o sentido. Ninguém que ensine adultos velhos, sem espírito de brincadeira, consegue fazer o que ela (e as Team Plastique) fazem.

O único defeito do espectáculo (e foi um defeito bastante grande) é que foi muito curto, tirando o rebuçado quando ele ainda estava dentro da boca. Apenas com o exercício, algumas canções das Team Plastique e a canção do alfabeto, é muito pouco. Mas, é apenas para abrir o apetite para o regresso da banda completa, penso eu de que...

Espero que ela volte cá, conjuntamente com a rainha do glamour nova-iorquino, Angel Eyedealism (que estava na assistência a ver - e ajudar - no show) e fazerem um espectáculo juntas. Era tão fixe e seria tão divertido.

Obrigado, Legs, pela boa disposição de ontem e por tudo.

Jorge Vicente

Galaecia



(fotografia de Paulino Castiñeira Trillo, "Solpor en Redonda - Anochecer en Fisterra desde Redonda (Corcubión)"

Uma das maiores riquezas musicais e culturais que o nosso país tem é a tradição vinda dos celtas, preservada, acima de tudo, através da música. Já existem muitas bandas que tentam preservar estas tradições musicais e, ao mesmo tempo, salvaguardar as danças e os costumes. Podemos encontrá-la no Festival Inter-Céltico, no Andanças, no blog Tradballs, que promove espectáculos de folk tradicional, nos concertos dos Mandrágora, Monte Lunai, Ronda dos Quatro Caminhos, etc. Isto, para falar dos grupos portugueses. Porque penso que, na Galaecia, essa tradição ainda está mais vincada. Faz parte das pedras, das ondas, das ermidas antigas que anunciam Sant'Iago. É a música da Beira Atlântica no seu esplendor:

A frol d'augoa
(tradicional/Luar na Lubre)

"Madrugada de San Xoán,
madrugada a máis garrida,
que baila o sol cando nace
e ri cando morre o día

-?Onde vai nosa señora,
onde vai Santa Maria?
-Vai cara a banda do mar,
vai cara a banda da ría.

?Qué dis a virxe, que dis,
que dis Santa María?
?Cal será a meniña, cal
que colla a frol d'augoa fria?

-Non será dama nen deuda,
que será a princesa Aldina,
a princesa namorada
filla do rei de Galicia
tan feitiña e tan bonita
c'aqueles seus ollos craros
do color d'augoa da ría
soio ti, Aldina, serás
quen leve a frol d'augoa fria.

ergute do leito, nena,
ven cara a banda do mar
qu'aunque ti veñas soiña
en compaña has de tornar.

Erguete do leito, nena,
ven cara a banda da ría,
qu'anque ti soiña veñas
tornarás em compañia.

Na torre do real palacio,
aunque inda está lonxe o día,
móvense os liños dun leito;
algunha xente se erguia
!é a princesa! ! Deul-a-garde!

Era a moi garrida Aldina
que vai dia de San Xoán
catal-a-frol d'augoa fría."

LUAR NA LUBRE


(retirado do CD dos Luar na Lubre, Lo Mejor de Luar na Lubre: XV Aniversario (2001)



("O Son do Ar" tocado pelos Luar na Lubre)

19.12.07

Um jogo

A Mesa de Luz submergiu-me com a sua luz e mandou-me isto:

a) 5 bens materiais QUE TIVESTE NO PASSADO.
Já não os tens e sentes saudades ou nostalgia por eles.
1. Um leitor de LP's de jeito
2. Um CD da Hildegard Von Bingen e dos Love.
3. os meus carrinhos.
4. a minha chupeta quando era bebé.
5. os meus jornais antigos (estou a deitar alguns fora.

b) 5 bens materiais QUE POSSUIS ACTUALMENTE
que mais gostas e sem os quais não consegues viver.
1. Portátil.
2. CD's
3. Livros
4. Caneta.
5. Papel para escrever.

c) 5 bens materiais QUE PENSAS EM ADQUIRIR
nos próximos 5 anos.
1. A colecção inteira dos Monty Python
2. A colecção inteira da L Word.
3. Muito dinheiro por causa dos meus livros lol
4. L'Atalante em DVD
5. Let Me Compare Mythologies do Leonard COhen

d) 5 bens materiais QUE GOSTASTE DE OFERECER
a cinco pessoas diferentes.
1. Hugs Hugs Hugs
2. um livro do John Updike
3. uma dedicatória num livro
4. um dos meus livros favoritos
5. dinheiro e apoio a pessoas amigas que precisam de ajuda.

e) 5 bens materiais QUE SONHAS EM TER
mas que sabes não vir a adquirir.
1. O Queen Mary.
2. Jennifer Connelly (já é casada)
3. The Holy Grail, mas como não existe, é batota
4. todos os livros existentes no mundo inteiro
5. ser primeiro-ministro e demitir o Ministro da Saúde

Bem, fiz uma batota do caraças. Mas, enfim.

Não mando para 5 pessoas, mando para quem quiser fazer.

Lumife, Alice, Ana Costa, xavier Zarco, Piano, toda a gente que quiser.

Jorge Vicente

18.12.07

Zombie Terrorist (Partyline)



(poster de um concerto das Partyline, na Austrália)

Para os meninos e meninas que apreciam bom punk, aqui vão umas garotas que cantam muito bem e vestem-se ainda melhor. Tive a felicidade de ouvi-las cantar na Galeria Zé dos Bois, na Primavera deste ano, e foi muito interessante. A primeira parte esteve a cargo dos Trouble Vs. Glue, já referido neste blog, só que essa banda, enfim...

Mas, as Partyline foram um espectáculo, super divertidas, loucas e com um óptimo sentido de humor. O álbum que eu comprei chama-se Zombie Terrorist. A minha canção favorita: "Trophy Wifey".


O site delas aqui.
O myspace da banda aqui.
A biografia delas aqui.



Jorge Vicente

Almas Gémeas (Allan Kardec)



(fotografia de Jonah Freeman, "Making Nature - April and Samantha Early Evening", s/d)

"A teoria das metades eternas encerra uma simples figura, representativa da união de dois Espíritos simpáticos. Trata-se de uma expressão usada até na linguagem vulgar e que não se deve tomar à letra. Os Espíritos que a utilizaram não pertencem decerto a uma ordem elevada. O campo das suas ideias é necessariamente limitado, e exprimiram os seus pensamentos com as palavras que teriam utilizado na vida corporal. Não se deve aceitar a ideia de que, criados um para o outro, dois Espíritos tenham fatalmente que se reunir um dia na eternidade, depois de terem estado separados durante um lapso de tempo mais ou menos longo" (1)

Allan Kardec



(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 164

17.12.07

Napalm Death, Scum e a vanguarda musical

Podem achar estranho que escreva sobre os Napalm Death, uma das bandas mais agressivas de heavy metal que já ouvi. Podem achar estranho e não concordar, salientando que o heavy metal é um género menor, indigno de quem quer apreciar música séria e inovadora. Provavelmente, pensarão que é música de alguém que não está muito integrado na sociedade e se encontra desiludido com o estado do mundo. Muitas das vezes, isso é verdade. Muitas das bandas de metal limitam-se a descarregar fúrias de sons, com pouca musicalidade e com pouco talento.Ou pelo menos, com aquele talento que nós não podemos compreender. Os Napalm Death, em princípio, encaixam-se na perfeição nesse estereótipo: caos musical, grunhos, guitarras estridentes sem nenhuma musicalidade. Ou seja, uma banda desinteressante e chata.Pelo menos, para mim.

No entanto, foram os Napalm que me fizeram aceitar cada vez mais os músicos de metal, foram eles que me fizeram ver que os músicos de metal, mesmo aqueles que integram bandas muito pesadas e chatas, podem ser excelentes, ao nível dos maiores inovadores do jazz e da música contemporânea.

Senão vejamos:
Justin Broadrick, na guitarra. Membro dos Godflesh (banda industrial experimental), Jesu (banda de rock experimental), Head of David (metal industrial), Sunn O)))(rock experimental), Fall of Because (metal industrial), Final (dark ambient), Ice (electrónica experimental), Techno Animal (electrónica experimental), God (rock experimental/free jazz, com colaboração de John Zorn), etc.

Mick Harris na bateria. Membro dos Painkiller (free jazz), Scorn (industrial e, mais tarde, electrónica), Lull (ambient),etc. Colaborou, também, com alguns músicos de electrónica experimental.

Nik Bullen no baixo e voz. Membro dos Scorn.

Bill Steer, na guitarra. Membro dos Carcass (death metal), Firebird (hard rock).

Lee Dorian, na voz. Membro dos Cathedral (doom), Teeth of Lions Rule the Divine (rock experimental/drone).

E o que é interessante é que a maior parte destes projectos vale realmente a pena, não sendo, como em muitos outros casos, aproximações ao mainstream. Os membros da formação inicial dos Napalm Death eram músicos fantásticos, que transformaram um género menor como o metal num género que podia ser inovador, vanguardista e tremendamente artístico.



(vídeo dos Painkiller, com John Zorn, Bill Laswell e Mick Harris)

Jorge Vicente

14.12.07

And now something completely different!! Terry Jones na FNAC do Chiado, dia 13 de Dezembro de 2007

Foi uma surpresa quando me disseram que o Terry Jones vinha cá, para apresentar a autobiografia dos Monty Python, traduzida para português e prefaciada pelo mui querido Nuno Markl. Foi uma amiga que me avisou do evento e eu claro que aceitei. Afinal de contas, os Monty Python são uma das minhas referências culturais mais importantes e um autêntico ícone pop. Não vi todos os episódios do mítico Monty Python's Flying Circus, mas aqueles que eu vi tenho-os quase todos na minha memória.

Por tudo isso, por aquilo que eles nos ofereceram, pelo Brian, pelo cavalo de tróia arremessado do castelo saxão no filme Monty Python and the Holy Grail, por todas as horas de boa disposição, pela genialidade, saúdo Terry Jones e a sua voz esganiçada (lol) e agradeço-lhe por ter estado connosco, com o Nuno Markl, o Nuno Artur Silva e dezenas de pessoas que acorreram à FNAC do Chiado para ver de perto um dos pythonianos do nosso coração.

Algumas fotos, tiradas por Ana Freire:









(a última foto foi tirada por Isabel Refacho)

13.12.07

A questão do tempo (Allan Kardec)



(fotografia de Émile Joachim Constant Puyo, "Apparition", 1900-1925)

"Os Espíritos vivem fora do tempo, tal como o compreendemos. A duração, para eles, deixa, por assim dizer, de existir. Os séculos, para nós tão longos, não passam aos olhos deles de instantes que se movem na eternidade, do mesmo modo que os relevos do solo se apagam e desaparecem para quem se eleva no espaço" (1)

Allan Kardec



(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 143.

9.12.07

Óbidos Vila Natal



(uma das árvores de Natal, na rua das Árvores, em Óbidos. Fotografia de Ana Freire)

Óbidos é uma das mais belas vilas do nosso país, a chamada "vila-presépio" na medida em que parece um autêntico presépio, encimado por um castelo altaneiro e bem-disposto. A vila é bela todo o ano, mas no Natal ganha um sabor especial, feita dos sonhos e do espírito natalício de centenas de pessoas que decidiram organizar, no ano passado, o primeiro "Óbidos Vila Natal". Esta festa regressou este ano e é digna das mais belas aldeias de encantar das histórias de princesas. Lá, podemos encontrar o mui querido Pai Natal, as suas renas magníficas, os ursinhos, os duendes e gnomos que trabalham arduamente para divertir as crianças que passam pela vila mágica, os diabretes, os pinguins, os esquimós, os doces de gengibre que ganham vida própria e passeiam no meio das crianças, o carrossel mágico, os póneis, as pistas de gelo e, por todo o lado, as músicas que nos ensinam a amar o Natal e a sermos crianças todo o ano.



(mais uma árvore, fotografada por Ana Freire)

Foi a esse sítio magnífico que decidi passar a tarde, eu e mais alguns amigos. Combinámos em Lisboa por volta das 13.30 e partimos para a aventura, sabedores (ou não) das maravilhas que íamos encontrar. Eu não estava à espera de nada. Não sabia se iria ser belo ou não, se iria ganhar aquele estatuto de magia que as autênticas aldeias da fantasia têm. Por essa razão, foi muito especial para mim. Quando chegámos, deparámo-nos logo com muitas árvores de Natal, construídas por escolas, restaurantes, cafés, organizações, instituições e que estavam distribuídas ao longo de uma rua que iria dar às bilheteiras. Foi tão bonito e presto aqui homenagem a todas as pessoas que ajudaram a construír aquelas verdadeiras preciosidades. Acho que o Natal é mesmo isso, darmos o melhor de nós a todas as pessoas, mesmo que não resulte da forma mais convencional. Afinal de contas, uma árvore é mais do que uma árvore.



(ainda outra árvore, por Ana Freire)

Depois, partimos para o castelo, sem antes tomarmos uma ginginha num dos cafés de Óbidos e espreitarmos as imensas lojinhas que estão espalhadas ao longo da Rua Direita. Partimos para o Castelo, então, e iniciou-se a descoberta. Entrámos num reino mágico e só nos apetecia que esse reino não tivesse fim, que os duendes e os diabretes fossem bem reais e que os nossos pedidos fossem todos atendidos até ao dia 24 deste mês, mesmo que esse pedido seja apenas um pedido de fantasia. Mas, nada é de fantasia. As renas existem, o Pai Natal existe, os duendes existem. Os nossos pedidos serão atendidos, o que é preciso é criarmos o Nosso Natal todos os dias e pedirmos apenas aqueles pedidos que o nosso coração mandar.



(os bonecos de neve, por Ana Freire)

O site do Óbidos Vila Natal aqui.
<

(a rua do Pai Natal, por Ana Freire)

Jorge Vicente

A Reencarnação Parte II



(fotografia de Ansel Adams, "Gottardo Piazzoni in his Studio", 1932)

"Temos visto algumas pessoas raciocinarem deste modo: não é possível que Deus, soberanamente bom como é, imponha ao homem a obrigação de recomeçar uma série de misérias e tribulações. Porventura, acharão essas pessoas que há mais bondade em Deus condenar o homem a sofrer eternamente, por motivo de alguns momentos de erro, do que em lhe facultar meios para reparar os seus erros?" (1)

Allan Kardec



(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 132.

Reencarnação



(quadro de François Boucher, "The Enchanted Home: A Pastoral Landscape Surmount", s/d)

"Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação. Ressuscitaram-no da doutrina de Pitágoras. Nunca dissemos que a doutrina espírita era uma invenção moderna. Sendo o espiritismo uma lei da natureza, deve ter existido desde a origem dos tempos. Esforçamo-nos sempre por demonstrar que há sinais dele desde a mais remota antiguidade. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose; foi buscá-lo aos filósofos indianos e aos egípcios, que o cultivavam e defendiam desde tempos imemoriais. A ideia da transmigração das almas formava uma crença vulgar, aceite pelos homens mais eminentes. De que modo a adquiriram? Por uma revelação ou por intuição? Ignoramo-lo; mas, seja como for, uma ideia não atravessa séculos e séculos, nem consegue impôr-se a inteligências de elite, se não contiver algo de sério. Assim, a antiguidade desta doutrina seria mais uma prova do que uma objecção. No entanto, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação, há, como também se sabe, uma profunda diferença, assinalada pelo facto dos Espíritos rejeitarem, de maneira absoluta, a transmigração da alma do homem para os animais e reciprocamente." (1)

Allan Kardec




(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 130.

6.12.07

"Sugar Blues" (Downey / Gorham / Lynott / White)



(pintura de Salvador Dali, "Lillas Pastias Tavern", 1969)

"Sugar Blues
Now I'm not the type to worry
Especially if it's concerning my health
Oh no, I'd never worry
I'd much rather do something else
I'm changing my point of view
Ever since I caught me the sugar blues

Oh that sugar
It adds a little sweetness in your life
Oh sugar
Won't you add a little sweetness to my life
You see I'm changing my point of view
Ever since I caught me the sugar blues

See I'm changing my point of view
Ever since I caught me the sugar blues
Yes, I'm changing my point of view
Ever since I got me the sugar blues
You see I'm changing my point of view
Ever since I caught me,
Ever since I caught me the sugar blues
Oh yes
I need me a sugar beet
I'm not the type that would complain
Just give me sugar cane
Give me
Gimme
Gimme
Gimme
Sugar"

THIN LIZZY

(retirado do CD dos Thin Lizzy, Chinatown, de 1980)

Pär Lagerkvist



(pintura de Adalbert Cuvelier, "Along the Scarpe River, near Arras", 1853)

"All is there, only I am no more,
all is still there, the fragrance of rain in the grass
as I remember it, and the sough of the wind in trees,
the flight of the clouds and the disquiet of the human heart.
Only my heart's disquiet is no longer there" (1)

Pär Lagerkvist


(1) LAGERKVIST, Pär apud SCHWANTNER, Joseph - Angelfire / Beyond Autumn / September Canticle / A Sudden Rainbow, 2005)

Joseph Schwantner



(fotografia de Eugene Curvelier, "Forest of Fontainebleau", 1863)

"Beyond Autumn...
the willow's mist
bathes the shadowed land,
in a distant past
long forgotten"

Joseph Schwantner



(retirado do CD Angelfire / Beyond Autumn / September Canticle / A Sudden Rainbow)

Angelfire / Beyond Autumn / September Canticle / A Sudden Rainbow (Joseph Schwantner)



(Joseph Schwantner)

Joseph Schwantner é um compositor norte-americano, nascido em Chicago, Illinois, em 1943.

A sua primeira experiência musical de alguma importância terá sido o grupo de free jazz Offbeat, na qual explorou pela primeira vez e de forma séria a sua capacidade de composição. Esse grupo ganhou em 1959 o National Band Camp Award.

Anos mais tarde, licenciou-se no Conservatório Americano e matriculou-se na Northwestern University para iniciar os seus estudos com Alan Stout e Anthony Donato. Recebeu vários prémios pelas obras que compôs, ensinou em várias universidades, as suas obras foram tocadas por um grande número de orquestras, entre as quais se salientam a New York Philharmonic, a Boston Symphony Orchestra, Los Angeles Chamber Orchestra, etc.

De acordo com o Wikipedia, o seu estilo é acessível, eclético e colorido, com fortes influências do Impressionismo Francês e do Minimalismo. Mas, tamnbém da guitarra que foi o primeiro instrumento que aprendeu. Senão vejamos:

"I didn’t realize until many years later just how important the guitar was in my thinking...to get to the bottom line, when I think about my music, its absolutely clear to me the profound influence of the guitar in my music. When you look at my pieces, first of all is the preoccupation with color. The guitar is a wonderfully resonant and colorful instrument. Secondly, the guitar is a very highly articulate instrument. You don’t bow it, you pluck it and so the notes are very incisive. My musical ideas, the world I seem to inhabit, is highly articulate. Lots of percussion where everything is sharply etched, and then finally, those sharply articulated ideas often hang in the air, which is exactly what happens when you play an E major chord on the guitar. There are these sharp articulations, and then this kind of sustained resonance that you can easily do in percussion - a favorite trick of mine! I think it is right in my bone marrow. I don’t think there is any question about that. I think my music would look differently if I were a clarinet player. So it doesn’t mean I sit around thinking about the guitar when I am writing a piece. Not at all! There is something fundamental about how I think about music, that I think comes from my experiences as a young kid trying to play everything I could on the instrument" (retirado da wikipedia)

Obras importantes:

Sinfonia Brevis;
Diaphonia Intervallum (1966);
Chronicon (1968);
Wild Angels of the Open Hills;
Aftertones of Infinity (1979);
A Sudden Rainbow (1986);
Angelfire (2001);
Beyond Autumn (1999);
September Canticle (2002), etc.

Este álbum que eu ouvi apresenta composições mais recentes e é belíssimo, especialmente as peças Angelfire e September Canticle, quase uma composição religiosa. Afinal de contas, estamos em território norte-americano e é já quase uma tradição as suas peças musicais, mesmo as contemporênas, serem acessíveis e de fácil audição, se comparadas com as suas congéneres europeias, mais frias, impenetráveis e caóticas. Alguns dos exemplos mais paradigmáticos desse caos sonoro são Stockhausen, Xenakis, Magnus Lindberg, etc.



(imagem do CD Angelfire / Beyond Autumn / September Canticle / A Sudden Rainbow, de Joseph Schwantner)

A biografia de Joseph Schwantner aqui

o site de Joseph Schwantner aqui



(outra peça de Joseph Schwantner, Velocities)

Jorge Vicente

4.12.07

As crianças e o Espiritismo



(fotografia de Sir Frank Brangwyn, "Study for Eden Philpotts «The Girl and the Fawn»", 1916)

"Se o homem apenas tivesse uma única existência e se, após essa existência, a sua sorte futura ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade da espécie humana, que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna? Com que direito se consideraria isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é para todos. O futuro pertence a todos sem excepção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só se podem queixar de si próprios. O homem deve ter o mérito dos seus actos, tal como deles tem a responsabilidade.

Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que a educação ainda nenhuma influência podia ter tido? Há algumas que parecem trazer do berço a astúcia, a falsidade, a perfídia, até a tendência para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que lhes dão de todos os lados? A lei civil absolve-as dos seus crimes porque, diz ela, agiram sem discernimento. A lei tem razão, porque, de facto, elas agem mais instinto do que intencionalmente. Mas, de onde virão instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? De onde vem a perversidade precoce, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque os seus Espíritos progrediram muito pouco. Deste modo, sofrem as consequências, não pelos seus actos de criança, mas sim, pelos actos das suas existências anteriores. Assim, a lei é uma só para todos e todos são atingidos pela justiça de Deus." (1)

Allan Kardec

(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 123.


Concordo com tudo o que Allan Kardec disse, mas considero que nos tempos que correm, a situação já não é tão linear como isso. Percebo pouco de psicologia infantil, mas acho que, muitas vezes, confunde-se perversidade com rebeldia e desejo de ser ouvida pelos adultos. Claro que sempre haverá crianças perversas, mas deve-se fazer a distinção. Ainda por cima, na era dos índigos...

Jorge Vicente

A infância do Espírito



(fotografia de Harry Callahan, "Florence", 1957)

"189. Desde o início da sua formação, o Espírito goza da plenitude das suas faculdades?
«Não, porque também no Espírito há infância, tal como sucede no Homem. Na sua origem, a vida do Espírito é apenas instintiva, mal tendo consciência de si próprio e dos seus actos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve»" (1)

Allan Kardec





(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 119.

2.12.07

Projecto Sinergia




Ontem à noite e, devido ao adiamento do workshop de biodanza no qual eu ia participar, resolvi parar no Tuatara e assistir ao Projecto Sinergia. Tinha tido conhecimento desse projecto através da mailing list da cantora Teresa Gabriel, que tinha visto actuar também no Tuatara, numa festa organizada pela Quantic Chill Records. Foi em 29 de Setembro deste ano, lembro-me bem, no dia em que o meu amigo e poeta Xavier Zarco, lançou o seu livro Variações sobre tema de Vítor Matos e Sá: invenção de Eros, no Porto.

Convidei o meu amigo Vasco para ir, já que ele mora na zona de Alvalade, e partimos para a descoberta. Uma das principais razões para estar lá era não só ouvir de novo a Teresa Gabriel, mas também assistir às declamações de poemas da Volte-Face, uma troupe de autores/declamadores que tenta promover a reflexão poética sobre os temas do nosso quotidiano. Nas suas intervenções, aliam a declamção, a música e a dança contemporânea, de uma forma muito interessante, embora eu tivesse achado a intervenção de sábado um pouco neutra. Acho que, no meu entender, alguns poemas deveriam ser quase gritados, como se houvesse uma catarse de palavras. No entanto, a declamação do "Jornal da Noite" foi divinal e muito forte. Para além das intervenções, a Volte-Face é também uma revista. Ou melhor, é, acima de tudo, uma revista de acção poética que alia a poesia ao design gráfico de uma forma aboslutamente fantástica, criativa e original. Só depois é que esses textos são trabalhados e declamados perante o público, nas tais intervenções que já referi antes. O site deles aqui.

Eu e o Vasco ainda tivémos umas boas horas a assistir às várias propostas até que vi um debate muito interessante. O debate reflectia sobre a idea de conscious partying, à qual o Projecto Sinergia está directamente associado, e que consiste, pelo menos no caso do Sinergia, num festival indoor onde se reunem DJ's, VGs, cantores, massagistas, curadores, poetas, autores e artistas variados, ONG's, associações humanitárias e ambientais, etc, que se unem para criar um novo tipo de consciência global, positiva e construtiva e que reflicta sobre os problemas do nosso mundo: transgénicos, agricultura biológica, pobreza, aquecimento global, etc. O Projecto Sinergia iniciou-se em Inglaterra há já 5 anos e, pelo que tenho ouvido,tem tidos resultados muito positivos. Afinal de contas, nós não somos apenas aqueles que vão ao cinema, que lêem livros e que dormem e comem todos os dias. Temos uma responsabilide global de ajudar o planeta a sobreviver e de prestarmos o nosso abraço à humanidade. Penso que será isso que a conscious partying significa, independentemente de ter surgido na Inglaterra, na comunidade trance, como penso que surgiu. É muito mais do que isso e o próprio facto de já estar integrado na biodanza ajuda a compreender um pouco o que se passa. Todas as nossas festas são uma partilha. Partilha da dança, da comida, do abraço, da consciência. Ou seja, uma perspectiva muito biocêntrica, de apoio à vida, ao prazer de viver e a todas as formas de vida que existam no planeta.

Espero que todos os músicos, DJ's, conferencistas e artistas que nos deram a conhecer o Projecto Sinergia juntem as suas mãos às minhas. E escrevam um novo poema. Uma nova existência. Uma nova forma de pensar. Ou talvez não escrevam. Talvez a nova forma de pensar seja algo que já esteja a nascer quase espontaneamente. Eu digo isto porque conheço pessoas, adolescentes, para as quais, dar um abraço, juntar-se a causas humanitárias e ambientais é algo natural. A minha sobrinha mais velha, de 16 anos, foi ao Banco Alimentar e não tem qualquer problema em abraçar os amigos. Acho que isso é fundamental e são esses jovens, conscientes e humanistas, que irão mostar à geração anterior que o mundo é um lugar muito bonito para se viver.

Obrigado a este Projecto pelo que fez ontem, no sábado, e vai fazer no futuro.

o site do Projecto Sinergia aqui
o site do Synergy Project aqui

Jorge Vicente