23.12.07

Alma vs. Cérebro (Allan Kardec)



(fotografia de Maxime du Camp, "Kalabscheh. Ptolémée Caesarion", 1850)

"O Espírito, ao encarnar, traz certas predisposições. Se se admitir que a cada uma corresponda um órgão no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será efeito e não causa. Se nos órgãos estivesse o princípio das faculdades, o homem seria uma máquina sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade dos seus actos. Então, seria forçoso admitir-se que os maiores génios, poetas ou artistas, só o são porque o acaso lhes deu órgãos especiais, de onde resultaria que, sem esses órgãos, não teriam sido génios; assim, o maior dos imbecis poderia ter sido um Newton, um Virgílio ou um Rafael, se tivesse sido dotado de certos órgãos. Esta suposição seria ainda mais absurda se a aplicássemos às qualidades morais. Assim, segundo esse sistema, um Vicente de Paulo, se a natureza o tivesse dotado deste ou daquele órgão, teria podido ser um celerado; por sua vez, o maior dos celerados apenas precisaria de um certo órgão para ser um Vicente de Paulo. Pelo contrário, se admitir que os órgãos especiais, se realmente existirem, são consecutivos, desenvolvendo-se por efeito do exercício da faculdade tal como os músculos se desenvolvem por efeito do movimento, e não tereis nada de irracional. Sirvamo-nos de uma comparação trivial à força de ser verdadeira: através de certos sinais fisionómicos reconhecemos que um homem tem o vício da bebida. Serão esses mesmos sinais que fazem dele um ébrio, ou será a ebriedade que imprime nele aqueles sinais? Podemos dizer que os órgãos recebem o cunho das faculdades" (1)

Allan Kardec

(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 178,179.

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