30.7.07

Santo Agostinho



(fotografia de Kerry Skarbakka)


"os milagres não acontecem em contradição com a natureza, mas apenas em contradição com o que conhecemos da natureza" (1)








(1) AGOSTINHO, Santo apud BRENNAN, Barbara Ann - Mãos de luz: um guia para a cura através do campo de energias humana. São Paulo: Pensamento, [1997]. ISBN 85-315-0413-9. pg. 37.

In Nomine



(fotografia de Kira Lynn Harris, White Pines, Byrdcliffe, Bedroom 3, 2004)

8.

na casa da minha avó, havia paredes e mobílias velhas, pequenos segredos guardados por dentro, cheios daquelas memórias simples que evocamos sempre que ouvimos trovoada.

na casa da minha avó, escondíamo-nos debaixo dos lençóis brancos, feitos de tecido antigo, da época da monarquia, numa era em que a pedra representava a montanha e o rio a memória.

na velha casa, a serra parecia parir fogo e a criança que era em mim pensou tratar-se de vulcão. eram apenas faíscas que se lançavam da cruz alta, com o fantasma d'el rei d.fernando olhando serenamente para o repouso silente dos homens.

no velho moinho e na velha casa, a minha avó dormia. e o rei guardava a serra, mirando o seu belo trabalho artístico e ajuntando os meus lábios ao rasto dos dedos que esculpiam a pedra.

Jorge Vicente

22.7.07

José Félix



(fotografia de Keisha Scarville, Untitled: Bride #6, 2004)

"ainda tenho nos dedos percebida
a flor despida
no sopro das pétalas" (1)

José Félix

(1) FÉLIX, José - Geografia da árvore: a reinvenção da memória. Funchal, Múchia, 2003. ISBN 972-8622-02-3. p. 25.

Pierre Niely



(fotografia de Kelli Connell,The Valley, 2006)

"tout la femme est berceau"

Pierre Niely

José Félix



(fotografia de Carla Anderson, Money Road, Money, Lefflore County, Mississippi, 1994)

"o nome é a sombra do que somos.
se no-lo tirassem continuaríamos a irradiar a luz
do vulcão da memória, magma em combustão
silenciosa.
chamo-me um eco de representações.
o nome é um espelho sem reflexo.
é tudo no nada que representa
na dramaturgia da água. (1)

José Félix

(1)FÉLIX, José - Geografia da árvore: a reinvenção da memória. Funchal, Múchia, 2003. ISBN 972-8622-02-3. p. 79.

21.7.07

Lêdo Ivo, Uma Lira dos Vinte Anos



(fotografia de Lêdo Ivo, publicada em acervos).

Acabei de ler um livro de poesia. Há já algum tempo que não o fazia, apenas lia poemas esporádicos, de alguns autores, tirados ao acaso ou escolhidos a dedo. Alguns tirados do excelente livro da Assírio & Alvim, Rosa do Mundo que é uma excelente enciclopédia da história poética da humanidade. Outros ia encontrado, um pouco por aqui, um pouco por ali.

O livro que li é da autoria de Lêdo Ivo e chama-se Uma Lira dos Vinte Anos. Foi publicado em 1962 e reúne as primeiras obras poéticas do autor, escritas entre 1940 e 1946. É um livro interessante, embora não tenha despertado muito a minha sensibilidade, um pouco devido à linguagem, talvez. Mas, acima de tudo porque as sensibilidades poéticas são diversas e porque um poeta não tem obrigatoriamente de agradar a toda a gente. No entanto, houve poemas que me agradaram muito e, por essa razão, decidi colocá-los no meu blog. Se quiserem pesquisar nas mensagens anteriores, encontrá-los-ão de certeza.

Mas, quem era Lêdo Ivo? Segundo o site Releituras, Lêdo Ivo era jornalista e escritor de prosa e poesia. Nasceu em Alagoas, mais propriamente em Maceió, em 1924, e partiu para o Recife em 1940, onde começou a colaborar com a imprensa local e a conviver de perto com os intelectuais daquela época. Em 43, partiu para o Rio, cursou Direito e passou a colaborar com a imprensa carioca. Publicou os seus primeiros livros de poesia. Em 53, partiu para Paris, tendo regressado aos sol do Brasil um ano depois, em 1954. Continou a sua carreira jornalística e literária. Nunca chegou a exercer advocacia e recebeu vários prémios ao longo da sua longa carreira.

Foi um dos poetas mais importantes da geração de 45, que advogava o regresso a uma forma de poesia clássica, embora se mantivesse livre e bastante pessoal. Foi um mestre na criação de uma nova linguagem, inventando novas semânrticas para palavras que já existiam. (ver biblio)

Jorge Vicente

20.7.07

In Nomine


(quadro de Paulus Potter, "Cattle and sheep in a stormy landscape", 1647)

7.

o casario estendia-se muito para além do silêncio das casas. era noite e a madrugada adormecia os homens, pequenos pontos vermelhos que iluminavam a grande noite alentejana. o vento carpia nuvens de fogo, alimentado por corpo de trovoada, que circundava os homens. e as suas paredes de cal, construídas quando o sol ainda era pleno e a grande estrela do oriente iluminava silves, a bem-amada.

o casario estendia-se e a queimada carpia no incêndio de deus, mais antigo que as casas, mas submisso ao amor e à memória.

Jorge Vicente

José Félix


(quadro de Caspar David Friedrich, Hafen von Greifswald, século XIX)

"as ruas em búzios de conversa
só dizem de pescarias e navegações
de lemes e de redes, de alcatruzes e de polvo
até que a âncora encalhe e prenda
e solte e agarre às rochas
e um adeus curto adie a fala
até à próxima maré" (1)

José Félix




(1) FÉLIX, José - Geografia da árvore: a reinvenção da memória. [S.l], Múchia, 2003. ISBN 972-8622-02-3. p. 95.

19.7.07

José Félix



Cquadro de William Adolphe Bouguereau, Child at Bath, 1886)

"há uma casa e um país à deriva e o idioma possível é a infância" (1)
José Félix




(1) FÉLIX, José in Geografia da Árvore

18.7.07

Ligando a Luz: Kryon



(imagem da capa do livro de Vitorino de Sousa, Ligando a Luz: Kryon)


Depois de ter lido o livro de Ana Paula Ivo, Eu sou o Vosso Mestre Maior, já comentado neste blog, resolvi dar uma espreitadela ao primeiro livro-fase Kryon de Vitorino de Sousa. Tal como o livro anterior, este livro é canalizado, desta vez por uma entidade extradimensional chamada Kryon. Kryon é, segundo as palavras de Rodrigo Romo, "um conjunto de seres - todos a partir de 8D - que trabalham no resgate da Malha Magnética sensorial dos corpos subtis, de 8D em relação a 3D"(1). Ou seja, um conjunto de seres extra-terrestres que trabalham juntos assumindo uma energia única e indivisível.

O livro, ao contrário da obra de Ana Paula Ivo, não é um livro com exercícios. Relata apenas os acontecimentos que levaram Vitorino de Sousa à descoberta de Kryon, as suas primeiras canalizações, o trabalho por ele desenvolvido, as várias Reuniões de Família, etc. Não é um livro muito interessante e está cheio de erros tipográficos (pelo menos, a edição que eu comprei quando o livro saiu) o que, se não dificulta a leitura, pelo menos dá a ideia de que a editora descurou a obra. Na parte do conteúdo, os mesmos pecados que corroem as obras deste género, e especialmente, algumas obras da editora Novalis: espiritualidade cor de rosa e que apenas serve para adoração de novos deuses em substituição dos antigos. Ou a velha pergunta: para que interessa orar pelo Deus Antigo se temos Kryon a falar pela nossa boca e pelos nossos ouvidos, como um bailarino dançante?

Contudo, o livro tem um aspecto positivo, embora muito melhor explorado no documentário The Secret: a co-criação. Isto é, a noção de que nós co-criamos a nossa realidade, que transformamos o mundo à nossa volta e que conseguimos ter aquilo que queremos. Mas, para isso, quem precisa de Kryon? Quem precisa de novos Deuses e de Novas Energias, do modo como eles a caracterizam? Mas, mais não vou dizer porque senão ainda sou processado pelo autor da obra (risos).

Jorge Vicente



(1) citação da iniciação feita por Rodrigo Romo apud SOUSA, Vitorino de - Ligando a Luz: Kryon. Editorial Angelorum Novalis: Carcavelos, 2004. ISBN 972-8680-65-1. pg. 26.

9.7.07

In Nomine



(quadro de Léon Arthur Tutundjian, "Untitled", 1928)

6.

com um gesto, Rilke abriu o rochedo defronte da casa, que se estendia com a sua voz frágil e antiga. a erosão faz da pele o seu receptáculo, um refúgio de conchas dobrado ao contrário. eclodindo e eclodindo, alimentando a árvore ainda nascente.

Rilke é o relâmpago e o poema o som claro das lápides pedindo a morte.

Jorge Vicente

Lêdo Ivo - excerto



(fotografia de Albert Renger-Patzch, "Das Bäumchen ["Sapling"]", 1929)

"(...) Cantar é descobrir o ignorado, é desvendar o mundo,
é querer durar, é não morrer diariamente,
é dar configuração verdadeira ao imaginário.
Nossa missão é continuar a tarefa dos que vieram antes
para que Ela, a Poesia, não desapareça
e transmita o intraduzível" (1)

Lêdo Ivo

(1) IVO, Lêdo - Uma lira dos vinte anos. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1962. p. 160.

5.7.07

Sonêto dos Vinte Anos (Lêdo Ivo)



(quadro de Cameron Martin, "Under The Sun Every Day Comes And Goes", 2003)

"Que o tempo passe, vendo-me ficar
no lugar em que estou, sentindo a vida
nascer em mim, sempre desconhecida
de mim, que a procurei sem a encontrar.

Passem rios, estrêlas, que o passar
é ficar sempre, mesmo se é esquecida
a dor de ao vento vê-los na descida
para a morte sem fim que os quer tragar.

Que eu mesmo, sendo humano, também passe
mas que não morra nunca êste momento
em que eu me fiz de amor e de ventura.

Fêz-me a vida talvez para que amasse
e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,
trazendo a aurora para a noite escura. (1)

Lêdo Ivo

(1) IVO, Lêdo - Uma lira dos vinte anos. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1962. p. 120.

In Nomine



(desenho de Salvador Dalí, "Icarus", 1963)


5.

que aguarde, a flor silenciosa
o seu lento murmúrio de
folhas,

a voz transparente,
acalentada pelo desejo
de seguir a rota do
verso



a flor de esteva amanhece
e rompe os passos do
anjo em ascensão

Jorge Vicente

2.7.07

Cura à distância, o poder da oração e outros assuntos



(quadro de James Ayers, "Strong Medicine", aqui.

Será possível curar alguém à distância, através de uma simples oração, um pensamento positivo, o trabalho da mente tendo como objectivo principal a cura imediata (ou mediata) de um determinado sintoma? Durante muitos anos, pensou-se que tal fosse apenas uma loucura de santos, místicos ou membros de uma congregação religiosa. Porém, nos últimos anos, nos Estados Unidos, vários cientistas, tanto no domínio da Medicina, como da Física Quântica, têm estudado o fenómeno e verificaram que pode existir um efeito positivo de cura quando alguém ora por nós.

Não é por acaso que os Antigos recitavam mantras durante horas a fio, não é por acaso que existem palavras de poder, palavras que assustam e que têm uma força interior enorme. As várias tradições religiosas e místicas atestam isso, ao longo dos vários séculos. A própria tradição cristã reflecte um pouco esse ideal, através das inúmeras rezas e orações que enchem a vida dos fiéis: o terço, as missas aos defuntos, etc. Tentamos com o poder da nossa voz influir no destino de uma só pessoa. Sabe-se que, antigamente, rezavam-se aos mortos para ajudar na purificação da sua alma que, provavelmente, ainda estaria no purgatório. Tais vozes, tais orações eram mantras e tinham o poder que as vozes lhes conferiam.

Larry Dossey, médico, escreveu um artigo justamente sobre isso. Ele é um investigador do poder da oração na saúde e na cura. Desenvolveu já vários estudos e descobriu que a oração tem realmente uma força poderosíssima, podendo mesmo influir no restabelecimento da saúde. No entanto, as investigações ainda estão na fase laboratorial. Mas, pelo menos, vários passos já estão a ser dados. E ainda bem.

O artigo em questão chama-se: "Nonlocal mind, distant healing, and
prayer", aqui.

Jorge Vicente