a visão biocêntrica
(fotografia de robert doisneau, "la derniere valse de 14 juillet", 1949)
"A visão biocêntrica não se confunde com a idéia de um Deus antropomórfico. Esse Deus está morto. Ela surge da vivência do sentir-se vivo, do sentir-se como parte da criação, como expressão da auto-poiese cósmica.
Aqui, o sentir-se vivo é o fundante, é o que fortalece e revela a identidade como expressão natural, espontânea e histórico-social da vida, surgindo como singularidade, como auto-poiese particular da auto-poiese cósmica. O Mestre é a Natureza em nós.
Do sentir-se vivo é que surge a percepção do si-mesmo, de um sentimento de vida, o qual vem da Biologia em direcção à Psicologia (...), da transformação do animal em espírito enraizado, ou corporeidade vivida. É a mudança do selvagem em linguagem e sua volta a um lugar anterior e fonte de sua aparição concreta em um mundo natural e espontâneo - a vida animal. Ao voltar à fonte animal, à natureza, conecta-se a uma verdadeira conspiração pelo ato de viver. (...)
Sinto com profundidade a conspiração pelo ato de viver, a existência de uma essência humana libertária, em algo vital que impulsiona o ser à vida e a algum lugar do infinito, cuja origem não está na consciência ou em qualquer forma de representação mental e sim em nossa raiz animal e selvagem, mundo bruto e indiviso. Encontramos aí a vida como possibilidade muitas vezes bloqueada, reprimida, negada, porém sempre presente. Só desaparece com a destruição do ser." (1)
Cezar Wagner de Lima Góis
(1)GÓIS, Cezar Wagner de Lima - Biodança: identidade e vivência. Fortaleza: Edições Instituto Paulo Freire do Ceará, 2002. p. 39.