31.8.08

o mundo real



(quadro de milton avery, "evening stroll", 1962)


"O mundo real é um símbolo, tal como o resto do que a percepção oferece. (...) O teu mundo é visto através dos olhos do medo e traz à tua mente os testemunhos do terror. O mundo real não pode ser percebido excepto através dos olhos que o perdão abençoa, de modo que vejam um mundo onde o terror é impossível e onde testemunhos do medo não podem ser achados." (1)

in um curso em milagres.

(1) in um curso em milagres apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 183.

29.8.08

Os Quatro Elementos



(quadro de pierre-auguste renoir, "nude", 1910)


2.

"Fine vapors escape from whatever is doing the living" (John Ashbery) (1)





em agosto, não há fábricas,
as mulheres vestem aquele tom
rosado que sempre as caracteriza,

- será a distância da memória,
de um tempo em que as
meninas de renoir eram a imagem
do corpo esperando o fruto? -

os homens nadam sobre as algas
esperando o adelgaçar das ancas
e dos peitos.

é agosto, eu sei,
as fábricas estão fechadas
mas o corpo permanece
no rasto de suor que
alimenta as rochas.


jorge vicente



(1) ASHBERY, John apud PULLMAN, Philip - The Amber Spyglass. London: Scholastic Press, 2001. ISBN 0-439-99414-4. pg. VII.

john ashbery



(imagem de anish kapoor, "twelve etchings", 2007)


"Fine vapors escape from whatever is doing the living.
The night is cold and delicate and full of angels
pounding down the living. The factories are all lit up.
The chime goes unheard.
We are together at last, though far apart." (1)

john ashbery



(1) ASHBERY, John apud PULLMAN, Philip - The Amber Spyglass. London: Scholastic Press, 2001. ISBN 0-439-99414-4. pg. VII.

rainer maria rilke



(quadro de shirazeh houshiary, "untitled", 2007)


"O stars,
isn'it from you that the lover's desire for the face
of his beloved arises? Doesn't his secret insight
into her pure features come from the pure constellations?" (1)

rainer maria rilke


(1) RILKE, Rainer Maria apud PULLMAN, Philip - The Amber Spyglass. London: Scholastic Press, 2001. ISBN 0-439-99414-4. pg. VII.

27.8.08

"black corridor" (michael moorcock)



(fotografia de ester partegàs, "what you are, the world is", 2007)


"Space is infinite.
It is dark.
Space is neutral.
It is cold.

Stars occupy minute areas of space. They are clustered a few billion here. A few billion there. As if seeking consolation in numbers.
Space does not care.

Space does not threaten.
Space does not comfort.
It does not sleep; it does not wake; it does not dream; it does not hope; it does not fear; it does not love; it does not hate; it does not encourage any of these qualities.
Space cannot be measured. It cannot be angered, it cannot be placated. It cannot be summed up. Space is there.
Space is not large and it is not small. It does not live and it does not die. It does not offer truth and neither does it lie.
Space is a remorseless, senseless, impersonal fact.
Space is the absence of time and of matter." (1)

hawkwind



(1) retirado do cd dos hawkwind, space ritual, de 1973.



este tema dos hawkwind, "black corridor", é mais uma introdução do que uma canção propriamente dita. introduz "space is deep" que é, provavelmente, um dos temas mais conhecidos da banda. uma das razões porque escolhi esta letra/poema (?) deve-se ao tema do espaço: o que é o espaço? será ele limitado ou infinitamente grande? terá ele cor? ou será um amontoado de estrelas e de vazio, a preto e branco?

26.8.08

Os Quatro Elementos



(quadro de tracey emin, "self growth", 2002)

OS QUATRO ELEMENTOS

I.

terra

1.

no princípio, a matéria juntou-se
ao corpo e criou o chão mátrio
do qual nascem todas as coisas.

ainda não havia homens na terra,
apenas um globo de luz vermelha
que prendia a árvore e a raíz.

os olhos de plutão são sempre brilhantes
e mais claros que a argila escorrendo
o vaso.

jorge vicente

25.8.08

catarina nunes de almeida, a metamorfose das plantas dos pés




a metamorfose das plantas dos pés foi o primeiro livro que li de catarina nunes de almeida, apesar de ter comprado, aqui há tempos, o seu primeiro trabalho: prefloração, vencedor do prémio daniel faria de 2006 e publicado pela quasi no mesmo ano.

foi uma surpresa interessante, os poemas são, na sua maior parte, muito bons e o elemento-natureza é aqui preponderante: a terra, a água, o corpo, as crianças. uma poesia da pele e da sensualidade.

tenho a certeza de que a catarina vai ser uma das futuras referências poéticas deste país. aliás, já o é.

deixo-vos:

"Abriu no colchão as valas possíveis
e enterrou por ordem alfabética
cada parte do corpo: os pêlos
os pântanos as unhas encravadas
e as unhas que outros cravaram pelas coxas.
Estudou cuidadosamente as ondas as horas
para que não restassem dúvidas
sobre os caminhos marítimos
para a noite. Por fim
podou todas as janelas do quarto;
bebeu o vinho;
roeu a carne do quarto
até não sobrar nenhum coração" (1)

catarina nunes de almeida


(1)ALMEIDA, Catarina Nunes de - A metamorfose das plantas dos pés. Porto: Deriva, 2008. ISBN 978-972-9250-44-6. p. 47.

24.8.08

"mothers of the disappeared" (bono, clayton, edge, mullen)



(quadro de kiki smith, "melancholia", from the serie blue prints, 1999)

"Midnight, our sons and daughters
were cut down and taken from us
hear their heartbeat
we hear their heartbeat

In the wind we hear their laughter
in the rain we see their tears
hear their heartbeat
we hear their heartbeat

Night hangs like a prisoner
stretched over black and blue
hear their heartbeat
we hear their heartbeat

In the trees our sons stand naked
through the walls our daughters cry
see their tears in the rainfall" (1)

U2


(1) retirado do CD dos U2, The Joshua Tree (1987).

20.8.08

"incident on stock island" (wayne kramer)



(litografia de Vito Acconci, "Approved - But Don't Be Fooled, This Is a Message from the American Lover", 1977)

"I was working in this cabinet shop on Stock Island
listening to the new Aaron Neville tape.
It was one of those sticky hot summer days.
Suddenly I hear loud angry voices just outside the window.
Kenny! Hold up! Dont do this!
Kennys saying, That motherfucker says I cheated him!
Kenny and his brother Vince come flying thru the window,
eyes blazing, out of control.
Kennys running to the rear of the shop
with Vince right behind him
screaming, Stop! Kenny, stop!
Kenny crashes into the office and jumps on Franklin,
he's an electrician we share shop space with.
Theyre all screaming.
Vince physically restrains his brother
and they both leave the office.
Kennys beside himself with anger.
Vince says
next time, I'm gonna let him kick Franklins ass.
Kenny is still hot and punches out a couple of cabinets.
Vince takes Kenny for a ride in his pickup to cool him off.

Halfhour later, Franklins getting into his stepvan
when Kenny walks up and begins to apologize for going off earlier.
Vince and I are watching from about 30 feet away
out in the hot, tropical sun.
I cant hear what Kennys saying
but I can tell by his body language that hes getting upset.
Franklin starts saying, Fuck you, Kenny, fuck you.
Franklin lets the clutch out a bit and pulls up a few feet
and then says Fuck you, Kenny, fuck you!

I say to Vince, Why dont he just drive on away?

Kenny reaches up in Franklins truck, grabs him by the shirt,
and Franklin's still saying, Fuck you, Kenny!
And Kenny pulls Franklin outta his truck
and slams him down in the dirt,
and Kenny blasts Franklin
three or four very hard hooks to the head,
and Franklin's getting up but Kenny throws an upper cut
that has hospital written all over it.
Yeah, it had hospital written all over it!

Kenny stops and realizes how bad all this is
and says, Fuck this shit and gets in his truck and leaves.
And Franklin, his face is starting to swell up
like an eggplant.
And he walks past me and Vince and says,
thanks a lot, you dickheads.

I still cant figure out why he didnt just drive on away?
So I get some ice for Franklins face
and he calls the cops
and we all have to give statements
and I wasnt proud of any of us." (1)


(1) retirado do cd de wayne kramer, the hard stuff (1995)

18.8.08

"child in time" (ritchie blackmore ; ian gillan ; roger glover ; ian lord ; ian paice)



(colagem de dash snow, "scared to death, right to hell", 2006)

"Sweet child in time you'll see the line
the line that's drawn between the good and the bad
see the blind man shooting at the world
bullets flying taking toll

If you've been bad, oh Lord I bet you have
and you've not been hit by flying lead
you'd better close your eyes and bow your head
and wait for the ricochet" (1)

deep purple


(1) retirado do cd dos deep purple, anthology, de 1985.

14.8.08

Amor (ou não)



(colagem de dash snow, "bin laden youth", 2006)

"A pessoa que não se ama a si mesma ou que não pode fazê-lo (quer dizer, que não pode ver ou não dá permissão à sua própria divindade), irá desesperadamente em busca de alguém que a faça sentir segura. E, quando vê esta segurança ameaçada, volta a cair na chantagem e no controlo emocionais através da retenção do afecto... em nome do amor! Quando se ouve alguém a dizer a outra pessoa: «Amo-te», o que, frequentemente, quer dizer é: «Tenho medo e preciso de ti para seres o meu escudo de protecção»." (1)

in Um manual para a ascensão


(1) in Manual para a ascensão apud SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 164.

12.8.08

"liza and louise" (fat mike)



(quadro de norbert schwontkowski, "frau mit schirm", 2006)


"Liza's had enough of men,
she says: she won't get burned again,
she says: they don't know how to fuck,
her last boyfriend, the shmuck,
shared with her a nice disease,
kept her passive, on her knees,
till one day she took his car,
and drove it to the city.

Liza had put down a few,
when she met this girl named Lou,
who convinced her to go home with her,
she said: "My name's Louise,
now would you take your clothes off please?
I wanna take you to the moon and back,
so get on your back."

With a flick of the tongue,
she made her scream,
she made her laugh,
she made her dance,
she was happy for the first time,
and you know she wanted more.

Now with her legs spread wider,
she needed to have Louise inside her,
she said: "I'll never forget the first time you kissed me,
now I want you to fist me."
Louise didn't need a second invitation,
she knew just what to do,
she knew just what to do.
Liza had cum a few times before,
but she had never even seen the door,
into the world of pleasures of the flesh,
she felt just like 16,
and her life before now was a dream,
or even a nightmare that's over and done,
just like warm healing rays,
shining from the sun.

they make her beam,
they make her laugh,
they make her dance.
She was happy for the first time,
and you know she wanted more.
You know she wanted more.
You know she wanted more." (1)

NOFX


(1) retirado do cd dos NOFX, white trash, two heebs and a bean, de 1992.

3.8.08

sexualidade



(desenho de raymond pettibon, "no title - wheter you have", 2008)


"Porque rege a sexualidade, os problemas de funcionamento do Chacra Sagrado situam-se, com frequência, na puberdade. O despertar da sexualidade costuma ser um período perturbador. Primeiro, porque o organismo está programado para, nessa época, produzir metamorfoses profundas, o que, só por si, costuma deixar os adolescentes um tanto desorientados. Segundo, porque pais e educadores - geralmente com falta de educação a este nível - raramente estão preparados para ensinar como viver saudavelmente essa fase e utilizar essa energia extremamente poderosa.

Por um lado, fora de casa, a Escola não tem cumprido essa função cabalmente; por outro lado, dentro de casa, talvez os pais, no seu tempo de adolescentes, já tenham visto a sua própria sensualidade e sexualidade recalcadas. Não admira, portanto, que dessa privação recebida dos seus próprios pais, tenha resultado a ausência do estímulo sensual, como carícias, ternuras ou outras formas de contacto físico." (1)




(1) SOUSA, Vitorino de - Manual da leveza: visita de médico ao chacra raíz. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2004. ISBN 972-8680-93-3. pg. 140.



Onde está o verdadeiro significado do toque nas nossas vidas? Será que nos tocamos o suficiente? Será que tocamos suficientemente os nossos amigos, os nossos familiares, quem está ao nosso lado? E não se trata apenas do toque emocional, daquele toque que ama e faz amar; mas, também do verdadeiro contacto físico de pele contra pele.