27.2.08

Prémio Arte Y pico por su creatividad y diseño



Amigos, recebi mais um prémio!!! Qualquer dia, o meu blog fica com as estantes partidas só com tantos prémios e miminhos!!! É tão bom lembrarem-se de nós! Obrigado, Maria!

Vou fazer as minhas nomeações da praxe:

1) Adri, a minha sobrinha kida! E parabéns pelos teus 17 anos!!;
2) A Mesa de Luz - já deves estar com a estante cheia, também!!!;
3) Maria, porque tu mereces tudo de bom que o universo te deixa;
4) Ana Freire, porque és super criativa e uma amiga super louca;
5) blogue de escrita criativa, porque escrevem todos bem e são todos doidos.

Jorge Vicente

25.2.08

slacker (richard linklater)



(imagem de slacker, de richard linklater)

quando kevin smith ainda estava no liceu e não era o kevin smith que todos nós conhecemos, decidiu ir ao cinema ver slacker, de richard linklater. o choque foi tremendo e foi a partir daí que tomou a decisão de ser realizador. a razão: o facto de richard linklater ter demonstrado que se poderia fazer filmes de alta qualidade, tremendamente pessoais, com um baixo orçamento. e não foi só kevin smith: slacker teve um impacto profundo dentro da comunidade indie dos estados unidos.

a premissa do filme é bastante simples: a vida da comunidade jovem (e sem destino) de austin, no texas: os chamados slackers, ou segundo reza o wikipedia, "a person who avoids work or military service, or (primarily in North American English) an educated person who is antimaterialistic and viewed as an underachiever" (ver aqui). o argumento é quase inexistente, dividindo-se nas milionésimas partes das histórias pessoais das personagens que vão passando. se num momento, assistimos a uma conversa entre dois namorados, passados três minutos, a câmara vai para outro lado, para os pensamentos de uma outra personagem que passa pelos namorados na rua. e assim sucessivamente, de personagem em personagem, de rua em rua, com uma simples conversa, uma simples partilha, assistimos ao modus vivendi de toda uma geração, a que se convencionou chamar geração x.

sem personagens principais ou secundárias, pode-se dizer que todos eles são o corpo do filme. e a alma.

jorge vicente

23.2.08

As minhas canções

A Maria pediu-me que escrevesse aqui músicas marcantes que dancei. Não sei o que se pode chamar músicas marcantes: para a história da música, para a minha história pessoal, para a história da humanidade.

Fico-me apenas por músicas que me acompanharam no liceu e na universidade, músicas já antigas, algumas, mas que me marcaram:

1) "God Only Knows" (Beach Boys)



2) "Love Songs on the radio" (Mojave 3)



3) "Flowers in December" (Mazzy Star)



4) "Decades" (Joy Division)



5) "Stairway to Heaven" (Led Zeppelin)



6) "Across the Universe" (Beatles)



Passo este desafio a:

1) Mesa de Luz;
2) Ana Maria Costa;
3) Alice;
4) Mónica Correia;
5) Constantino Alves;
6) pontapé nos colhões.
Jorge Vicente

In Nomine



(quadro de George Grosz, "Metropolis", 1916-1917)

um auto-retrato. da cidade. e das trevas queimadas que anunciam o fim da história. a água fecha o que jamais pôde ser fechado. fechado por dentro, limitando a ascese e o corpo. fica o silêncio. e o grito ascendido.

do anjo, apenas o olho azul aberto. tudo o mais recua e avança, como se a cidade fosse feita apenas. e não desenhada.

Jorge Vicente

22.2.08

Thank You for Smoking (Jason Reitman)



(imagem do trio da morte, em Thank You for Smoking)

para quem gosta de fumar (e, também, para quem não gosta), recomendo vivamente este filme: Obrigado por Fumar, de Jason Reitman. É uma crítica mordaz à sociedade norte-americana, ao império das tabaqueiras que não pretendem saber da saúde dos seus clientes, de todos os lobbies existentes nessa mesma sociedade (o lobby do armamento, do alcool, da saúde, etc), mas também é uma crítica à própria incapacidade crítica da sociedade, à falta de liberdade e capacidade de decisão. Porque fumamos? Porque não fumamos? Onde estará a nossa capacidade crítica que nos leva a pensar que fumar faz mal? Em que ponto estará a nossa capacidade de decisão? No fundo, aquela simples palavra que sempre nos têm transmitido ao longo dos anos relativamente à América: liberdade.

Jorge Vicente

21.2.08

"High Fever Blues" (Bukka White)



(quadro de Li Dafang, "Two Stones", 2007)

"I'm taken down with the fever
And it won't let me sleep
I'm taken down with the fever
And it won't let me sleep
It was about three o'clock
Before he would let me be

I wish somebody
Would come and drive my fever, away
I wish somebody come and drive my fever away
This fever I'm havin'
Sho' is in my way

The fever I'm havin'
Sho' is hard on a man
The fever I'm havin'
Sho' is hard on a man
They don't allow my lover
Come and shake my hand

I wonder what's the matter with the fever?
Sho' is hard on a man
I wanna know what's the matter?
How come this fever hard on a man?
Doctor said, I had the fever
'That your lover has another man'

Doctor get yo' fever gauge
And put it under my tongue
Doctors get yo' fever gauge
And put it under my tongue
Doctor says, 'All you need, yo' lover in your arms.'

I want my lover
Come and drive my fever, away
I want my lover
Come and drive my fever away
Doctor says she'll do me more good in a day
Than he would in all of his days" (1)

Bukka White



(1) retirado da colectânea Diggin' Deeper: Legendary Blues Treasures, vol. 4.

Water (Deepa Mehta)



(a pequena Sarala, em Water)

Água (Water) de Deepa Mehta é, talvez, um dos mais belos filmes que vi nos últimos meses, talvez anos. É uma história muito bonita, passada na Índia, e narra a história de uma jovem menina de nove anos, que casa e enviúva bastante nova, sendo obrigada a ir para um ashram de viúvas, para aí permanecer até ao fim da sua vida. Nunca poderá voltar para a sua vida anterior, nunca poderá voltar para casa dos pais, terá de viver uma vida de resignação, abandono e lamentação. Uma espécie de meio-viva, porque metade da sua alma foi levada pelo marido, que nunca conheceu.

E é o retrato da Índia onde, a par com esses dramas profundos e tremendamente injustos, aparece uma réstea de esperança: o grande Mahatma Ghandi, libertador, um dos avatares da humanidade que prega a não-violência e o amor. Até para quem parece estar arredado dele. Como as viúvas. E essa presença, que só vemos fisicamente na parte final do filme, é central e tão forte que faz ter esperança que tudo se resolva na direcção daquilo que é certo e justo.

Muitas vezes, durante o filme, apetecia-me mesmo pôr-me em posição de lótus e deixar o Ganges entrar dentro de mim.

Este post é dedicado a todos aqueles que querem viver uma vida de amor e alegria.

Jorge Vicente

20.2.08

O grotesco na arte 2



(quadro de Xia Xiaowan, "Untitled", 1998)

"This is because the grotesque is in its essence a function of that ultimate unknown, the unconscious. All of those weird images, those distortions, those impossible juxtapositions, have their origin in the unconscious, and find their expression in dreams, fantasies, reveries, and lightbulbs over the head. (...)

By now it should be abudantly clear that no objective definition of the grotesque can ever be made. However, this is far from a denial of its existence. It is undoubtably a form of human experience. This experience is fundamentally subjective and interior. (...) Our perception of the grotesque is personal and emotional. What's more, it is subject to radical change over time. Generally, this takes the form of an internal adjustment which favors a new interpretation. We may become accustomed to the grotesque aspects of a thing, developing such a tolerance to it that it no longer appears at all unusual" (1)

Aaron Ross



(1) ROSS, Aaron - "The art of Salvador Dali: from the grotesque to the sublime" [Em linha]. [Consult. 19 Fev. 2008] Disponível em www: http://www.dr-yo.com/grot.html

"Moonshine" (E. Lawler)



(quadro de Xia Xiaowan, "Fading no Longer", 1994)

"I've got to leave this town, I've got to go before the sun goes down
I've got to leave this town, I've got to go before the sun goes down
'Cause I done got tired of these coppers running me around

I stayed in jail last night and all last night before
I stayed in jail last night and all last night before
I would have been there now if my daddy hadn't sprung the do'

I stay in so much trouble, that's why I've got to go
I stay in so much trouble, that's why I've got to go
But when I get out this time, I won't sell moonshine (1) no more

I done packed my trunk and done shipped it on down the road
I done packed my trunk and done shipped it on down the road
Now I won't be bothered with these big bad bulls no more

Just keep me a-moving going from door to door
Just keep me a-moving going from door to door
I done made up in my mind not to sell moonshine no more" (2)

Memphis Minnie

(1) moonshine é o calão norte-americano para álcool produzido em casa. Aplicava-se, acima de tudo, a sítios onde a produção era ilegal. fonte: wikipedia.
(2) retirado da colectânea Diggin' Deeper: Legendary Blues Treasures, vol. 5.

19.2.08

Mae Day: the Crumbling of a Documentary (Kevin Smith e Scott Mosier)




Mae Day: the Crumbling of a Documentary foi o primeiro trabalho realizado por Kevin Smith, quando ainda era estudante da Vancouver Film School. Não é um trabalho brilhante, como se poderá ver em baixo, mas apresenta uma particularidade interessante. Como Smith e Mosier não conseguiram entrevistar Mae Day, decidiram fazer um documentário sobre o seu próprio falhanço. Curioso, no mínimo.

Segundo as palavras do próprio realizador, foi a peça que começou a sua carreira cinematográfica, embora de forma periclitante e amadora. Como acontece à grande maioria dos filmes realizados por (ainda) estudantes.

Jorge Vicente

o filme aqui

O grotesco na arte



(quadro de Shi Chong, "Woman", s/d)

"Time and again, we are confronted with images which defy our aesthetic conventions, and are therefore relegated to the shadowy realm of the grotesque. We never succeed in defining the grotesque with any degree of certainty, but merely categorize those works which stimulate certain emotional reactions as grotesque, absurd, abnormal, et cetera. Indeed, the nature of the concept is such that any attempt to establish its contours with the rational faculties is doomed to failure" (1)

Aaron Ross



(1) ROSS, Aaron - "The art of Salvador Dali: from the grotesque to the sublime" [Em linha]. [Consult. 18 Fev. 2008] Disponível em www: http://www.dr-yo.com/grot.html

18.2.08

Apresentação do livro 10 Rostos no After Eight, dia 14 de Fevereiro

Amigos,
no passado dia 14 de Fevereiro, foi apresentado no bar After Eight a antologia de poesia 10 Rostos da Poesia Lusófona, como já foi aqui mencionado. A apresentação correu bem, chegámos cedo ao local: eu, a Maria Petronilho, o Joaquim Evónio, a pintora Bé Cabrita e a sua amiga Luísa.

O bar é muito bonito e acolhedor. Já estava preparado para o evento, com os comes e bebes bem dispostos na salinha da apresentação. Depois, chegaram os amigos, os convivas, os familiares, que nos acompanharem num sarau de poesia e de partilha.

As fotos são todas vossas:



(os livros - fotografia por Teresa David)



(Maria Petronilho - fotografia por Teresa David)



(Maria Petronilho e Joaquim Evónio - fotografia por Teresa David)



(Maria Petronilho e Joaquim Evónio - fotografia por Teresa David)



(Jorge Vicente - fotografia por Teresa David)



(Jorge Vicente, Joaquim Evónio e Maria Petronilho - fotografia por Teresa David)

15.2.08

"The Sly Seducer" (Jay-Jay Johanson)



(fotografia de Wang Ning De, retirada daqui)

"The sly seducer came to town
A time when everything was fine
He turned this idyll upside down
Laid sleezy hands upon what's mine

He's dangerous

The sly seducer, the sly seducer, the sly seducer stole my love
The sly seducer, the sly seducer, the sly seducer stole my love

He captures fragile guileless girls
Vampire-teeth in virgin-necks
And paralyses them with words
Touch upon touch til it wrecks

He's dangerous

As the serpents touch
The sly seducer stole my love" (1)

JAY-JAY JOHANSON



(1) retirado do CD de Jay-Jay Johanson, Tattoo, de 1998

"Cherry Chapstick" (Yo La Tengo)



(fotografia de Patrick Alt, "Female Nude in Swimming Pool - Untitled #18", 1984)

"Someone else's date
In someone else's door
There's a girl with cherry Chapstick on and nothing more.
It's such a lurid pose
and she seems this close
But not to me

Clear as day
Crawling home at night
Wondering why the girls don't look at me when I walk by.
And the way they make me feel is way too real to believe

Wondering what it could be like if I could be that smooth
I could think about all that I missed out
It's hard to do

Someone else's date
In someone else's door
There's a girl with cherry Chapstick on and nothing more
It's such a lurid pose
and she seems this close
But not to me

Running around in circles all day long" (1)

YO LA TENGO






(1) retirado do CD dos Yo La Tengo, And Then Nothing Turned Itself Inside-Out, de 2000.

Uma excelente música de uma das mais interessantes propostas musicais dos Estados Unidos.



("Cherry Chapstick")

14.2.08

L'Ami Y'a Bon (Rachid Bouchareb)



(imagem do filme L'Ami Y'a Bon, de Rachid Bouchareb)

Vi esta pequena preciosidade como extra do DVD de Days of Glory: Indigénes de Rachid Bouchareb. Nesta pequena curta-metragem, Bouchareb evoca a memória dos senegaleses que combateram pela França, na 2ª Guerra Mundial, e a posterior traição de que foram vítimas por parte das altas chefias militares francesas. Apesar de ser um filme pequeno e ser de animação, L'Ami Y'a Bon é um excelente filme de crítica social.

Jorge Vicente

Convite para apresentação de 10 Rostos

14 Fev - Lisboa - 22:30 - Apresentação de 10 rostos da poesia lusófona no After Eight

É dia dos Namorados.

O After Eight e os autores Maria Petronilho , Jorge Vicente e Joaquim Evónio têm a honra de convidar todos os clientes e amigos para a apresentação da Antologia





Ponto de encontro às 22:30 do dia 14 Fev

Esta obra da poesia lusófona foi lançada a 19 Set 2007, na Bienal do Rio de Janeiro e apresentada no Laranjeiro - "Alma Lusa", em 19 Jan 08, contando com a presença do Director de Publicação Fernando Oliveira .

Agora, num lugar de grande tradição cultural da noite lisboeta, é a vez dos três autores que se encontram à data em Portugal colaborarem num serão poético e musical que se espera alegre e agradável.

Os mesmos autores disponibilizarão outras obras da sua autoria numa mesa do canto.

Vamo-nos encontar? Regime de bar-aberto até as 24:00.

Rua Manuel Bernardes n.º 2 (Perto da Praça das Flores)

little fish (rowan woods)



(cate blanchett, em little fish)

little fish é aquilo que se poderia chamar um filme de actriz, com tudo de positivo que esse título implica: uma excelente interpretação, uma fantástica presença de corpo (e de espírito). a história de little fish é simples: tracey heart é uma ex-toxicómana que decide voltar à vida: sonha abrir um cyber café com um colega, nada, trabalha num clube de vídeo e vive com a mãe. porém, tudo muda quando o seu pedido de empréstimo para abrir o negócio é rejeitado: os seus fantasmas antigos voltam a aparecer e os caminhos possíveis estreitam-se.

a actriz em questão é cate blanchett, que decidiu voltar à austrália para fazer este filme. a ver.

jorge vicente



(trailer de big fish)

site de little fish aqui

11.2.08

Isolation (Billy O'Brien)



(imagem de Isolation, de Billy o'brien)

Embora catalogado no (sub)género sempre mal amado do terror, este filme de Billy O'Brien desafia todos os convencionalismos do género. Não é um filme de Hollywood nem tão-pouco um filme de série b. É apenas aquilo que se poderia chamar art-house de terror. Ou seja, um filme independente que, por acaso, tem no terror a sua mola condutora. O enredo é simples: Orla e Dan, uma veterinária e um agricultor, respectivamente, trabalham numa pequena propriedade rural no interior da Irlanda. Ambos fazem experiências genéticas em vacas e touros só que uma delas corre miseravelmente mal o que acaba por ter consequências terríveis.

Quando vi o filme, não me apercebi da dimensão terrífica, embora tivesse adorado o ambiente quase sinistro e pastoso da ruralidade irlandesa. A terra e a paisagem respiravam em todos os cantos do filme. Um misto de Mike Leigh e terror.

O filme ganhou os seguintes prémios:
- Horror Jury Prize do Austin Fantastic Fest (melhor cinematografia, realizador e filme);
- Gerardmer Film Festival (grande prémio e prémio da crítica);
- Leeds International Film Festival (grande prémio de filme fantástico);
- Screamfest (festival trophy, categorias de melhor actriz, melhor filme e melhor realizador).

Jorge Vicente

8.2.08

clerks (Kevin Smith)



(imagem de clerks)

sabe sempre bem ver um filme de kevin smith, ainda por cima quando é aquele que a maior parte dos críticos considera a sua obra-prima: clerks. neste filme, temos a habitual troupe do realizador: dante e randall, jay e silent bob, aqui na sua estreia cinematográfica. dante é o eterno incompreendido, lamentando-se continuamente da vida que leva; randall é o eterno boémio, sem outro objectivo na vida que não seja ver filmes e chatear o amigo; jay o eterno drogado e amador de vaginas; silent bob, o mais atinado do grupo, mas que só fala quando é necessário, sempre de modo inteligente e a deixar os outros de boca aberta.

ou seja, são quatro pessoas que poderiam muito bem ser os nossos irmãos, primos, amigos, companheiros. a verdadeira face da américa.

Para quem gosta de cigarros, vejam esta cena retirada de clerks:



jorge vicente

7.2.08

Philip Pullman, excerto de A Torre dos Anjos



(fotografia de Arthur Tress, "Boy in TV Set, Boston, MA", 1972)

"Will apercebeu-se, pela primeira vez, aos sete anos, de que a mãe era diferente das outras pessoas e que ele tinha de tomar conta dela. Estavam os dois no supermercado e faziam um jogo: só podiam colocar um objecto dentro do carrinho quando não estivesse ninguém a olhar. Era função de Will olhar em volta e murmurar um «agora» e ela tirava uma lata ou um pacote da prateleira e colocava-o silenciosamente dentro do carrinho. Quando as coisas estivessem todas dentro do carrinho, eles estariam a salvo porque se tornavam invisíveis.

Era um jogo divertido e demorou muito tempo porque era sábado de manhã e a loja estava cheia de clientes, mas eles eram bons naquilo e trabalhavam em equipa. Will gostava muito da mãe e dizia-lho com frequência, tal como ela.

Quando chegaram à caixa, Will sentia-se excitado e feliz porque o jogo estava quase a chegar ao fim e eles estavam prestes a vencer. Quando a mãe não conseguiu descobrir o porta-moedas, isso também fazia parte do jogo, mesmo quando ela disse que o inimigo devia tê-la roubado; mas Will estava a ficar cansado do jogo e com fome e a Mãe já não parecia tão feliz; ela estava mesmo assustada; tiveram de voltar para trás e colocar todas as coisas de volta nas prateleiras, só que desta vez tinham de ser supercuidadosos porque os inimigos estavam a persegui-los através do número do cartão de crédito, que agora sabiam qual era porque lhe tinham roubado o porta-moedas...

Will sentia-se cada vez mais assustado. Percebeu como a sua mãe fora inteligente ao transformar o perigo concreto num jogo para que ele não se sentisse aterrorizado e como, agora que sabia da verdade, tinha de fingir não estar assustado, para a tranquilizar.

E assim o rapazinho fingiu que ainda estavam a brincar, para que a mãe não tivesse de se preocupar com ele, e foram para casa sem as compras, mas a salvo dos inimigos; foi então que Will descobriu o porta-moedas sobre a mesa do corredor. Na segunda-feira foram ao banco, fecharam a conta e abriram outra numa dependência diferente, por precaução. E assim o perigo passou.

Mas, nos meses seguintes, Will apercebeu-se, a pouco e pouco e contravontade, de que os inimigos da mãe não estavam algures no mundo, mas na cabeça dela." (1)

Philip Pullman

(1) PULLMAN, Philip - A torre dos anjos. 4ª ed. Barcarena: Presença, 2007. ISBN 978-972-23-3058-9. p. 15, 16.

Muito interessante este excerto, retirado do 2º volume do livro fantástico His Dark Materials, de Philip Pullman. O episódio do supermercado fez-me lembrar um texto de Italo Calvino, retirado de Marcovaldo (penso) no qual a família do protagonista (Marcovaldo) se divertia a retirar produtos da prateleira, metê-los no carrinho, passear um pouco com eles e, após algumas peripécias, voltar a colocá-los no mesmo sítio. Em qualquer dos excertos, uma excelente crítica ao nosso modo de vida.

Jorge Vicente

Project BW (Martin Arnaldo)



(imagem de project bw)

pode ser um filme pequenino, mas promete muito. só é pena que martin arnaldo não tenha realizado muitos mais filmes pois tinha imenso para dar. decidiu apostar em spots publicitários e vídeos musicais.

seja como for, project bw fica, apesar de parecer um teste para algo maior. terá sido renaissance de christian volckman?

jorge vicente



o site de martin arnaldo aqui.

6.2.08

The Host (Joon-Ho Bong)



(imagem de The Host)

Quando fui ao clube de vídeo para alugar The Host, avisaram-me: o filme não é grande coisa, os efeitos especiais são bastante bons, mas a história é inexistente. Torci um pouco o nariz porque sabia que o filme era sul-coreano e tinha recebido óptimas críticas, embora, muitas vezes, as críticas sejam enganadoras. Pensei cá pelos meus botões: se calhar, o filme não é daquelas americanices, onde os bons têm punhos de ferro e aparece sempre uma actriz vistosa a ajudar o herói a derrotar a besta. Provavelmente, preferem uma história bem conseguida, sem buracos, com os argumentos medidos a esquadro e compasso, onde se dá um início, se desenvolve uma história e se processa um fim. Linear e sem ponta de humanidade.

Quando vi o filme, verifiquei que a maior parte das pessoas estava enganada. Os efeitos especiais são, afinal, a pior coisa do filme. A tal besta é estranha e não tem o tom ameaçador do Alien e do tubarão de Spielberg. No entanto, as pessoas são de carne e osso. Numa das cenas mais fortes do filme, vêm-se os vivos chorarem os mortos, com coroas de flores espalhadas num recinto improvisado. Penso que num filme norte-americano, isso não apareceria. Quem sobrevive, apenas mostra as lágrimas do cinema, típicas de blockbuster, estilo lágrimas típicas de super-herói.

E sempre podemos ver as dimensões sociais, políticas e, acima de tudo, ambientalistas do filme. O último ataque ao animal, através do agente laranja, sem mencionar também o pseudo-vírus que os americanos inventaram, revela muito do tom desta obra: crítica, crítica, crítica. Provavelmente, a fazer lembrar as implicações sociais da Noite dos Mortos Vivos, tanto na sua variante George Romero ou Tom Savini: we are them and they are us.

Jorge Vicente

uma bela descrição do filme aqui



(trailer de The Host)

The Queen (Stephen Frears)



(Helen Mirren, interpretando Elizabeth II em The Queen).

A Rainha (The Queen) não será, com certeza, o melhor filme de Stephen Frears, mas a interpretação de Helen Mirren é luminosa. Por tudo aquilo que ela faz e, acima de tudo, esconde. É uma interpretação recatada, pouco emotiva, como se os sentimentos demorassem um pouco, como se eles apenas existissem no interior do palácio e, mesmo assim, no recanto mais íntimo de uma escrivaninha. A alma demora a surgir e, quando se mostra, é sob o véu encoberto de uma timidiz monárquica.

Muito longe da força de Elizabeth I, uma verdadeira mulher-coragem.

Jorge Vicente



(imagem de The Queen)

4.2.08

Maaz (Christian Volckman)



(imagem de Maaz, de Christian Volckman)



(imagem de Renaissance, de Christian Volckman)

Christian Volckman é um dos realizadores de animação mais surpreendentes da actualidade. Ficou conhecido pela obra Renaissance, de 2006, realizada através da técnica motion capture, que consiste na gravação de movimentos de actores reais que, depois, serão utilizados para a animação de modelos digitais em 3D (mais informações aqui).

A curta-metragem Maaz, que vi ontem, foi uma das suas rampas de lançamento. O filme, nitidamente surrealista é, segundo alguns críticos, uma tentativa de adaptação ao estilo de motion capture, resultando num exercício de estilo bastante interessante e belo.

Quanto a Renaissance, poucas palavras também haverá a dizer. Um dos melhores de animação dos últimos anos. Daniel Craig está irreconhecível.

Jorge Vicente

forum de Maaz no imdb aqui.

Maaz no imdb aqui.
Renaissance no imdb aqui.
O site de Renaissance aqui.



(Maaz: filme completo)



(excerto de Renaissance)

1.2.08

a vida contemplativa, segundo Allan Kardec



(fotografia de Arthur Tress, "A Priest at St. John the Divine Seems to Be Flying, New York, NY", 1974)


"657.

Aqueles que se consagram à vida contemplativa terão algum mérito perante Deus, uma vez que não fazem nenhum mal e só pensam n'Ele?

«Não, porque, se é certo que não fazem o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Aliás, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense n'Ele, mas não quer que só se pense n'Ele, pois impôs deveres a cumprir na Terra. Quem passa o tempo todo na meditação e na contemplação nada faz de louvável aos olhos de Deus, porque vive uma vida pessoal e inútil à humanidade. Deus pedir-lhe-à contas do bem que não tiver feito»" (1)

Allan Kardec



(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 269.

The Go-Between (L.P.Hartley)




No final do dia de hoje, tive a sensação de que nada existente no universo da Literatura interessa de facto, a não ser o próprio acto da criação literária e o acto de nos darmos aos outros, de modo gratuito e sem condições, seja através da humanidade de alguns autores seja através das suas personagens, que se nos atravessam na alma e que representam o mundo (o nosso mundo). Falo disto porque José Luís Peixoto ganhou o Prémio Daniel Faria 2008 e acho um pouco estranho já que o Prémio se destina a autores não consagrados. Mas, enfim, isso não interessa quando temos autores como L.P. Hartley a nos apontarem o céu.

O único livro que li dele foi The Go-Between, que acabei hoje. Já o tinha lido na adolescência, na cadeira de Inglês, mas, na altura, não gostei tanto como agora. Talvez a visão da casa onde Leo Colston passou o Verão de 1900 fosse submergida pela paisagem do Nebraska presente em My Ántonia, de Willa Cather, que me maravilhou e assombrou durante anos. E que me continua a inspirar frequentemente. Hoje, aos 33 anos, porém, conheci melhor e compreendi as emoções fortes e quase dionísiacas das personagens de L.P. Hartley, especialmente Ted Burgess, uma força da natureza, embora trágica e muito frágil, ao mesmo tempo.

Um livro a ler (e a amar).

Jorge Vicente