10.7.11

poema 33 de "hierofania dos dedos"



(mouraria, retirado daqui)


"eu d'esta gloria só fico contente
que a minha terra amei, e a minha gente"

António Ferreira (8)

o meu olhar abarca todo o mural
da cidade, como se ela existisse
apenas em pedra, sem as pessoas
e sem o rumor dos mercadores,
ardendo no repasto dos seus olhos,
ávidos do sacrifício das águas
e pedindo que o país não seja
mais do que um sonho infantil.

lá em baixo, na cidade antiga,
as mulheres da vida encostam os
seios no colo da Virgem e escrevem
poemas, como se de orações fossem
feitas a frieza dos barcos, navegados
por homens e não por peixes.

o olhar da mouraria é feito do meu
olhar, o olhar do castelo na altura
do são pedro, o olhar das gentes que
se enfeitam e que descansam o sal no
coração da areia, esperando que Deus
traga a morte na próxima revolução das
ondas.

Jorge Vicente



(8) FERREIRA, António in RIBEIRO, José Silvestre – História dos estabelecimentos scientificos, litterários e artísticos de Portugal nos successivos reinados da monarquia: 5º volume. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1876. p. 295.

4 comentários:

Graça Pires disse...

O olhar da Mouraria feito o teu olhar...
Um poema muito belo!
Beijos, amigo.

jorge vicente disse...

Obrigado, muito obrigado, amiga.

Já é um poema bem antigo...

Muitos beijinhos
Jorge

tecas disse...

Ai que saudade eu tenho de ir à Mouraria. Belíssimo poema, com o olhar no bairro mais bairro de Lisboa. Quando eu for a Lisboa, vou-te " cravar" para me levares lá:)
Bjito amigo em teu coração, grande poeta.

jorge vicente disse...

vens tu, a alice, a luísa azevedo e quem mais quiseres!!!

e vamos à mouraria, a alfama!!! e levo-te a um barzinho lindo em alfama :)

muitos beijinhos! sempre!
jorge