a noite abrir-nos-à
(pintura de francisco de goya, "witches in the air", s/d)
entrega a flor boa
e viola-me, como se eu
fosse um castelo sem pedras
e sem lugares. ama-me como
se dissesses adeus e te despedisses,
sem renunciares ao ínfimo sacrifício
da paixão.
ficou-me da lembrança clara dos
mortos a cantiga que desfolhaste
ao cair do teu amor. lembro-me das
chamas, dos olhares sem corpo,
do lírio vergastado e do amor
empilhado. os perfeitos julgavam
olhar no meu sorriso sem paz
o reaproximar do canto. sem uma
voz que socorra a chama e a invoque.
venham de mim todos os mortos
e todos os sacrifícios e todas
as pedras encostadas ao deus
moribundo. apenas visto a cor
da cinza, com os lábios encostados
em nada, senão em tudo.
montségur, lá no alto,
agiganta-me no pranto
e lança tudo sem ao menos
perguntar a lágrima
jorge vicente
2 comentários:
Belo em toda a sua tristeza pujante e confessada...
Um beijo, Jorge
é a tristeza de quem viveu o drama de montségur e dos cátaros.
sei que foi há muitas centenas de anos, mas as pedras contam tanto às estrelas...
um grande beijinho
jorge
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