2.5.08

eternidade das penas



(quadro de sueo serisawa, "the demon", 1956)

"guerras de palavras! guerras de palavras! ainda não basta o sangue que tendes feito correr! será ainda preciso que se reacendam as fogueiras? discutem sobre palavras: eternidade das penas, eternidade dos castigos. ignorais então que o que hoje entendeis por eternidade não é o que os antigos entendiam e designavam por esse termo? consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o texto hebreu não atribuía esta significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziram por pena sem fim, irremisssíveis. eternidade dos castigos corresponde à eternidade do mal. sim, enquanto existir o mal entre os homens, os castigos subsistirão. importa que os textos sagrados se interpretem no sentido relativo. a eternidade das penas é, pois, relativa e não absoluta. chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam da túnica da inocência e desde esse dia deixará de haver gemidos e ranger de dentes. limitada tendes, é certo, a vossa razão humana, porém, tal como a tendes, ela é uma dádiva de Deus e, com o auxílio dessa razão, nenhum homem de boa-fé haverá que de outra forma compreenda a eternidade dos castigos. pois que! fora necessário admitir-se por eterno o mal. somente deus é eterno e não poderia ter criado o mal eterno; do contrário, forçoso seria tirar-se-lhe o mais magnífico dos seus atributos: o soberano poder, porquanto não é soberanamento poderoso aquele que cria um elemento destruidor de suas obras. humanidade! humanidade! não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da terra, procurando aí os castigos. chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo." (1)

platão



(1) PLATÃO apud KARDEC, Allan - O livro dos espíritos. 90ªed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2007. ISBN 978-85-7328-086-9. p. 524.

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