11.8.07

In Nomine




(fotografia de Marco Barsanti)

9.

dizem: as perseguições foram há muito tempo, quando ainda havia paredes dentro da casa e as relíquias dos mártires eram inatingíveis, como um signo de amor que ainda não revelasse a sua face oculta

e são tantas,
tantas que as lágrimas apenas derramam o que resta do meu sangue. e pareço quieto. e pareço firme quando sei que a chama me fará explodir e que o meu corpo já não é a alma toda

dizem: é assim toda a cristandade. a alma não transporta o corpo nem o resume. é uma entidade separada. de fora, o coração, o olho esquerdo e o olho direito, a lágrima, a língua que inventa canções quando o sangue vibra na chama

não, não é o corpo todo. o corpo não renuncia ao amor nem à dádiva de ser tudo perfeito, como se eu fosse uma concha que vivesse mil anos e fosse apenas isso. um lento entrar e sair, assumindo a morte e uma gratidão sem limites

saberia que dormiria a seguir e que atravessava um oceano infindo, num mar que não é meu, mas que pertence a todos os homens.

Jorge Vicente

3 comentários:

Anónimo disse...

Jorge.....


..."à dádiva de ser tudo perfeito, como se eu fosse uma concha que vivesse ..."


obrigada.

------------poeta sensível.

obrigada mesmo.

beijo.



/piano.

vida de vidro disse...

Uma forma de tratar as palavras plena de sensibilidade. A beleza no todo. **

jorge vicente disse...

obrigado a todos. é a unica maneira de tratar as palavras, tão especiais. de maneira simples e sensível.

muitas vezes, os pequenos gestos e as pequeninas palavras (que se tornam grandes) são tudo o que nos resta

um beijo
jorge