The Gersch (The Gersch)
Desde tempos imemoriais que a música vem assumindo um lugar relevante na sociedade humana. Já nas sociedades tribais, se dançava para os deuses, se invocavam os poderes do céu para trazer boas colheitas. Na Idade Média, o Deus dos cristãos era venerado através do canto gregoriano. No barroco, Bach compunha as suas cantatas e deliciava quem o ouvia. Toda a história da música clássica é uma história de beleza, arte e constante inovação.
Depois, com o passar dos anos, vieram os blues, o jazz, a música contemporânea, a country, o rock. E o mundo nunca mais foi o mesmo. A música tornou-se um negócio rentável, que rende milhões. E a partir daí, experimentaram-se vários estilos, desde aproximações ao jazz feita pelo rock, etc, etc.
E, mesmo no chamado heavy metal, existem muitas inovações, apesar de muita gente considerar o heavy metal um género menor. Eu, pessoalmente, considero que essa opinião se deve à suposição comum de que o género se limita a apostar numa postura agressiva, com pouca musicalidade, e primária. E isto apesar de muitos dos melhores guitarristas da actualidade serem deste quadrante musical. Em parte, esta suposição é verdadeira. Quem for a qualquer bar metaleiro que se preze, encontra garrafas pelo chão, palavrões, algumas discussões filosóficas sobre a existência, literatura, filosofia, etc. E isto enquanto dançam ao som de Iron Maiden, Sepultura, os clássicos Led Zeppelin, Black Sabbath e o último dos Opeth. No entanto, poucos conhecem, mesmo dentro das tribos que se aglomeram dentro do metal, que existem bandas que vão para além de, que inovam, que dizem não e se rebelam contra o que consideram ser o cânone musical. No início da década de 90, houve o fenómeno do death metal e do black metal, movimento pouco comercial, mas que, na minha opinião, se perdeu porque apostou em barulho em vez de musicalidade. Claro que havia mestres dentro do género. A primeira formação dos Napalm Death era composta de músicos geniais que só faziam barulho (dentro dos Napalm, claro está). Muitos dos membros dessa primeira formação apostaram depois em projectos de música electrónica, abraçaram o free jazz, o ambient, etc. Enfim, inovaram. No entanto, nos últimos anos, tenho assistido a um verdadeiro festival de sons alternativos dentro do metal. Desde os mais experimentalistas vindos do movimento drone, como os Sun OO) e Earth, passando pelo sludge melódico dos Isis e viajando até ao Japão para assistir ao verdadeiro caos musical dos Boris, que tocam desde metal, drone, música psicadélica e rock experimental.
O disco que ouvi ontem é feito por músicos que gostam de inovar e que não gostam de se rever nos cânones. Tudo o que é feito de acordo com o cânone pode ser bom, mas cansa. Passado pouco tempo, são paus mandados das editoras e dos gostos das massas. Quem inova, é íntegro mesmo que a inovação não passe de uma constante reinvenção do ser interior. Porque, na minha opinião, a originalidade não é criar diferente, mas sim sermos iguais a nós próprios e aos nossos próprios ideiais, sendo livres de fazer o que bem nos apetecermos.
O disco em questão é de um projecto chamado The Gersch. Dois dos seus membros são criadores assumidos: B. Clifford Meyer, membro da banda de post-hardcore Isis, uma das minhas bandas favoritas dos últimos tempos, e Jonathan Ruhe, membro da banda de rock independente Ho-Ag. A música dos Gersch aposta numa sonoridade hardcore com fortes influências dos Melvins, Sleep, Black Sabbath, Kyuss, Sonic Youth, Black Flag e Pink Floyd. Ou seja, um emaranhado de sons que faz deste projecto mais uma interessantíssima aventura musical de B. Clifford Meyer.
(imagem retirada do myspace da banda)
O site deles no myspace aqui
Jorge Vicente
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