(imagem do filme de olga chernysheva, "windows" (2007)
"uma canção passou no rádio e quando o seu sentido se parecia apagar nos ponteiros do relógio encontrou num sexto andar alguém que julgou que era para si em particular que a canção estava a falar.
e quando a canção morreu na frágil onda do ar ninguém soube que ela deu o que ninguém estava lá para dar
um sopro um calafrio raio de sol num refrão um nexo enchendo o vazio tudo isso veio numa simples canção" (1)
(fotografia de andré masson, "andré masson in his studio", 1976)
"A leitura é um processo de natureza interactiva que depende tanto do texto como do sujeito que o lê. Desdobra-se em procedimentos coordenados abrangendo operações de percepção, linguísticas e conceptuais, desenvolvendo-se mediante a aplicação contínua e simultânea de duas formas de processamento da informação, inversos e complementares, do âmbito da Psicologia Cognitiva: ascendentes/guiados por dados/indutivos (a leitura é de tipo linear, partindo exclusivamente do estímulo visual) e descendentes/orientados conceptualmente/dedutivos (parte-se do todo para as partes, aproveitando os «conhecimentos prévios» do leitor). No processo de leitura não intervêm apenas os sinais que compõem o texto mas também aspectos cognitivos, inclundo a memória e a razão com operações de indução e de dedução ou de análise e síntese. Da leitura deverá resultar o estabelecimento de conexões entre os diversos elementos textuais, integrando os conhecimentos prévios do leitor e a informação implícita e explícita no texto conduzindo, então, à compreensão textual. A compreensão implica algumas ideias-chaves: a noção de que compreender é integrar e interpretar, é criar significado; envolve processos ascendentes e descendentes; a profundidade do processamento textual aumenta a sua compreensão; a perspectiva adoptada pelo leitor condiciona a compreensão. De facto, a compreensão textual não é linear, já que o entendimento de um segmento de discurso depende do entendimento dos segmentos seguintes. A compreensão dos enunciados linguísticos envolve quatro princípios fundamentais: a segmentação (todo o indivíduo é capaz de segmentar sinais do fluxo contínuo da língua), a categorização (relativa às formas das palavras e das suas categorias sintáticas), a combinação (capacidade de criar estruturas sintagmáticas) e a interpretação (atribuição de um significado a palavras e frases de acordo com as convenções estabelecidas)." (1)
ana lúcia silva terra
(1) TERRA, Ana Lúcia Silva – As políticas de informação e de comunicação da União Europeia: uma leitura diacrónica e exploratória no âmbito da ciência da informação [Em Linha] Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2008. [Consult. 13 Apr. 2011 02.43]. Disponível em WWW: https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/11215/3/Ana%20Terra_tese.pdf pg. 62.
parece estranho estar a falar-vos de um tema tão incomum no meu blog, de um tema que não me passava pela cabeça sequer mencionar porque contrário ao meu caminho de paraíso. Parece estranho, mas aconteceu. O últime filme que eu vi, The Rite, abordava o tema da possessão demoníaca e levantava a seguinte questão: será que o Diabo existe? Será que as possessões demoníacas são reais ou serão apenas produto de uma imaginação criadora desvinculada da Vida? Será que são patologias? Este filme, baseado livremente num caso real, levanta essas questões e a resposta, pelo menos para quem vê é que o Diabo existe mesmo e as possessões demoníacas são bem reais. O livro sobre o qual é baseada a história narra o percurso de um padre americano, Gary Thomas, que aprende as artes do exorcismo e a verdadeira dimensão do Mal. Segundo alguns críticos, existem sérias diferenças entre filme e livro. A espectacularidade de um contrasta com a discrição de outro, embora ambos apresentam provas cabais de que algo está mal contado nas artes da psicologia. Não existem explicações psicológicas para certos fenómenos e para certas dimensões da espiritualidade que ainda [nos] são negadas.
Será que é o inconsciente colectivo a falar às pessoas, mudando-lhes mesmo a fisionomia corporal? Será que é algo mais antigo e ligado a um inconsciente ainda não revelado? Será que os demónios existem de facto? Eu tenho a minha teoria, mas essa não é muito abonatória da teologia católica, embora não seja de todo contrária à existência de entidades negativas que influam [ou possam influir] no destino dos homens. Se existem anjos [ou seres tendencialmente da luz] também existem seres tendencialmente das trevas. O que duvido é que sejam realmente demónios de tradição cristã pois tal seria um certificado de falsidade às outras religiões.
Penso que o espiritismo dá uma resposta mais verdadeira a esta questão. Alan Kardec não acreditava na presença do Demónio, mas sustentava a existência de seres incorpóreos negativos. Assim, pode ver-se neste excerto que:
"Satanás é, evidentemente, a personificação do mal sob forma alegórica, visto não se poder admitir que exista um ser mau destinado a lutar, de poder a poder, com a Divindade, tendo por única preocupação contrariar-lhe os desígnios. Como precisa de figuras e imagens que lhe impressionem a imginação, o homem pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos que lembram as qualidades ou os defeitos humanos. É assim que os antigos, ao quererem personficar o tempo, pintaram-no com a figura de um velho munido de uma foice e de uma ampulheta. Representá-lo com a figura de um mancebo seria um conta-senso. O mesmo se verifica com as alegorias da fortuna ou da verdade, entre outras. Os modernos representaram os anjos, ou puros Espíritos, com uma figura radiosa, de asas brancas, emblema da pureza. Satanás, aparece com chifres, com garras e com os atributos da animalidade, emblema das paixões vis. O povo, que toma as coisas à letra, viu nesses emblemas individuades reais, como vira outrora Saturno na alegoria do Tempo." (1)
E quem vive incorporiamente utiliza todas as formas religiosas ou não para fazer sofrer quem acredita. Deixemos os espíritos de lado e meditemos na Vida
Entretanto, vejam o filme e Anthony Hopkins :)
Jorge Vicente
KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 96.
"eu d'esta gloria só fico contente que a minha terra amei, e a minha gente"
António Ferreira (8)
o meu olhar abarca todo o mural da cidade, como se ela existisse apenas em pedra, sem as pessoas e sem o rumor dos mercadores, ardendo no repasto dos seus olhos, ávidos do sacrifício das águas e pedindo que o país não seja mais do que um sonho infantil.
lá em baixo, na cidade antiga, as mulheres da vida encostam os seios no colo da Virgem e escrevem poemas, como se de orações fossem feitas a frieza dos barcos, navegados por homens e não por peixes.
o olhar da mouraria é feito do meu olhar, o olhar do castelo na altura do são pedro, o olhar das gentes que se enfeitam e que descansam o sal no coração da areia, esperando que Deus traga a morte na próxima revolução das ondas.
Jorge Vicente
(8) FERREIRA, António in RIBEIRO, José Silvestre – História dos estabelecimentos scientificos, litterários e artísticos de Portugal nos successivos reinados da monarquia: 5º volume. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1876. p. 295.