27.7.11

"sexto andar" (carlos tê / hélder gonçalves)



(imagem do filme de olga chernysheva, "windows" (2007)


"uma canção passou no rádio
e quando o seu sentido
se parecia apagar
nos ponteiros do relógio
encontrou num sexto andar
alguém que julgou
que era para si
em particular
que a canção estava a falar.

e quando a canção morreu
na frágil onda do ar
ninguém soube que ela deu
o que ninguém
estava lá para dar

um sopro um calafrio
raio de sol num refrão
um nexo enchendo o vazio
tudo isso veio
numa simples canção" (1)

clã


(1) retirado do cd dos clã, cintura (2007)

22.7.11

o processo da leitura



(fotografia de andré masson, "andré masson in his studio", 1976)


"A leitura é um processo de natureza interactiva que depende tanto do texto como do sujeito que o lê. Desdobra-se em procedimentos coordenados abrangendo operações de percepção, linguísticas e conceptuais, desenvolvendo-se mediante a aplicação contínua e simultânea de duas formas de processamento da informação, inversos e complementares, do âmbito da Psicologia Cognitiva: ascendentes/guiados por dados/indutivos (a leitura é de tipo linear, partindo exclusivamente do estímulo visual) e descendentes/orientados conceptualmente/dedutivos (parte-se do todo para as partes, aproveitando os «conhecimentos prévios» do leitor). No processo de leitura não intervêm apenas os sinais que compõem o texto mas também aspectos cognitivos, inclundo a memória e a razão com operações de indução e de dedução ou de análise e síntese. Da leitura deverá resultar o estabelecimento de conexões entre os diversos elementos textuais, integrando os conhecimentos prévios do leitor e a informação implícita e explícita no texto conduzindo, então, à compreensão textual. A compreensão implica algumas ideias-chaves: a noção de que compreender é integrar e interpretar, é criar significado; envolve processos ascendentes e descendentes; a profundidade do processamento textual aumenta a sua compreensão; a perspectiva adoptada pelo leitor condiciona a compreensão. De facto, a compreensão textual não é linear, já que o entendimento de um segmento de discurso depende do entendimento dos segmentos seguintes. A compreensão dos enunciados linguísticos envolve quatro princípios fundamentais: a segmentação (todo o indivíduo é capaz de segmentar sinais do fluxo contínuo da língua), a categorização (relativa às formas das palavras e das suas categorias sintáticas), a combinação (capacidade de criar estruturas sintagmáticas) e a interpretação (atribuição de um significado a palavras e frases de acordo com as convenções estabelecidas)." (1)

ana lúcia silva terra


(1) TERRA, Ana Lúcia Silva – As políticas de informação e de comunicação da União Europeia: uma leitura diacrónica e exploratória no âmbito da ciência da informação [Em Linha] Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2008. [Consult. 13 Apr. 2011 02.43]. Disponível em WWW: https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/11215/3/Ana%20Terra_tese.pdf pg. 62.

18.7.11

mikael hafstrom, the rite (2011)



(imagem do filme the rite de mikael hafstrom)


Meus queridos amigos,



parece estranho estar a falar-vos de um tema tão incomum no meu blog, de um tema que não me passava pela cabeça sequer mencionar porque contrário ao meu caminho de paraíso. Parece estranho, mas aconteceu. O últime filme que eu vi, The Rite, abordava o tema da possessão demoníaca e levantava a seguinte questão: será que o Diabo existe? Será que as possessões demoníacas são reais ou serão apenas produto de uma imaginação criadora desvinculada da Vida? Será que são patologias? Este filme, baseado livremente num caso real, levanta essas questões e a resposta, pelo menos para quem vê é que o Diabo existe mesmo e as possessões demoníacas são bem reais. O livro sobre o qual é baseada a história narra o percurso de um padre americano, Gary Thomas, que aprende as artes do exorcismo e a verdadeira dimensão do Mal. Segundo alguns críticos, existem sérias diferenças entre filme e livro. A espectacularidade de um contrasta com a discrição de outro, embora ambos apresentam provas cabais de que algo está mal contado nas artes da psicologia. Não existem explicações psicológicas para certos fenómenos e para certas dimensões da espiritualidade que ainda [nos] são negadas.

Será que é o inconsciente colectivo a falar às pessoas, mudando-lhes mesmo a fisionomia corporal? Será que é algo mais antigo e ligado a um inconsciente ainda não revelado? Será que os demónios existem de facto? Eu tenho a minha teoria, mas essa não é muito abonatória da teologia católica, embora não seja de todo contrária à existência de entidades negativas que influam [ou possam influir] no destino dos homens. Se existem anjos [ou seres tendencialmente da luz] também existem seres tendencialmente das trevas. O que duvido é que sejam realmente demónios de tradição cristã pois tal seria um certificado de falsidade às outras religiões.

Penso que o espiritismo dá uma resposta mais verdadeira a esta questão. Alan Kardec não acreditava na presença do Demónio, mas sustentava a existência de seres incorpóreos negativos. Assim, pode ver-se neste excerto que:

"Satanás é, evidentemente, a personificação do mal sob forma alegórica, visto não se poder admitir que exista um ser mau destinado a lutar, de poder a poder, com a Divindade, tendo por única preocupação contrariar-lhe os desígnios. Como precisa de figuras e imagens que lhe impressionem a imginação, o homem pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos que lembram as qualidades ou os defeitos humanos. É assim que os antigos, ao quererem personficar o tempo, pintaram-no com a figura de um velho munido de uma foice e de uma ampulheta. Representá-lo com a figura de um mancebo seria um conta-senso. O mesmo se verifica com as alegorias da fortuna ou da verdade, entre outras. Os modernos representaram os anjos, ou puros Espíritos, com uma figura radiosa, de asas brancas, emblema da pureza. Satanás, aparece com chifres, com garras e com os atributos da animalidade, emblema das paixões vis. O povo, que toma as coisas à letra, viu nesses emblemas individuades reais, como vira outrora Saturno na alegoria do Tempo." (1)

E quem vive incorporiamente utiliza todas as formas religiosas ou não para fazer sofrer quem acredita. Deixemos os espíritos de lado e meditemos na Vida

Entretanto, vejam o filme e Anthony Hopkins :)

Jorge Vicente

KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 96.



(trailer do filme the rite)

17.7.11

a vida vivida por escolha



(desenho de marc chagall, "les adolescents", 1975). Retirada daqui.

"Uma vida vivida por escolha é uma vida de acção consciente. Uma vida vivida por acaso é uma vida de reacção inconsciente" (1)

neale donald walsh



(1) WALSCH, Neale Donald - Conversas com Deus: livro 2. 5ª ed. Cascais: Sinais de Fogo, 2002. ISBN 972-8541-10-4. pg. 37.

15.7.11

"sete mares" (sétima legião)



(fotografia de hiroshi sugimoto, "s. pacific ocean, tearai" 1991). Retirado daqui


"Tem mil anos uma história
de viver a navegar...
Há mil anos de memórias a contar
ai, cidade à beira-mar
azul

Se os mares são só sete
há mais terra do que mar...
Voltarei amor com a força da maré
ai, cidade à beira-mar
ao Sul

Hoje
Num vento do Norte
Fogo de outra sorte
Sigo para o Sul
Sete mares

Foram tantas as tormentas
que tivemos de enfrentar...
Chegarei amor na volta da maré
ai, troquei-te por um mar
azul

Hoje
Num vento do Norte
Fogo de outra sorte
Sigo para o Sul
Azul" (1)

sétima legião


(1) retirado do lp da sétima legião, mar d'outubro (1987)

10.7.11

poema 33 de "hierofania dos dedos"



(mouraria, retirado daqui)


"eu d'esta gloria só fico contente
que a minha terra amei, e a minha gente"

António Ferreira (8)

o meu olhar abarca todo o mural
da cidade, como se ela existisse
apenas em pedra, sem as pessoas
e sem o rumor dos mercadores,
ardendo no repasto dos seus olhos,
ávidos do sacrifício das águas
e pedindo que o país não seja
mais do que um sonho infantil.

lá em baixo, na cidade antiga,
as mulheres da vida encostam os
seios no colo da Virgem e escrevem
poemas, como se de orações fossem
feitas a frieza dos barcos, navegados
por homens e não por peixes.

o olhar da mouraria é feito do meu
olhar, o olhar do castelo na altura
do são pedro, o olhar das gentes que
se enfeitam e que descansam o sal no
coração da areia, esperando que Deus
traga a morte na próxima revolução das
ondas.

Jorge Vicente



(8) FERREIRA, António in RIBEIRO, José Silvestre – História dos estabelecimentos scientificos, litterários e artísticos de Portugal nos successivos reinados da monarquia: 5º volume. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1876. p. 295.