7.10.09

rui effe



(pintura de amina broggi, "abstand nehmen", 2007)

"era costume clara vestir-se para abrir a janela,
mostrar-se enfeitada de contos e histórias pequenas.
ontem abriu a janela nua dos capítulos roucos que a mascaravam
para que descobrisse quão mortal também era.
rendeu-se à verdade dos prantos falecidos dos poemas mais tristes
e deixou-se cair sombra nos braços mudos da morte.
disse ainda adeus ao abandonar-se das capas rijas
dos livros das histórias pequenas mais compridas,
enviou um beijo aos muitos que do terreiro a viam,
deslizou
serpenteou-se pelo parapeito a dentro,
para lá da janela, desapareceu.
...
nas folhas em branco dos livros plantar-se-á clara
para que nas noites mais calmas e nas pausas das leituras
todos se lembrem dela" (1)

rui effe



(1) EFFE, Rui apud Umbigo. Lisboa. ISSN 1645-4804. Nº 25 (Junho 2008), p. 26.

5 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Abriu uma janela toda nua?!? Depois admiram-se que os carros batam!

jorge vicente disse...

sim, e os carros batem sempre.

como as pessoas. nuas.

uma grande abraço
jorge

mariabesuga disse...

hão-de lembrar-se... os que costumavam vê-la abrir a janela vestida e enfeitada de contos histórias pequenas.
quem assim se mostra terá sempre lugar no espaço memória das emoções...

um abraço, Jorge

Anónimo disse...

e quem disse que em frente à janela passam carros?
Gostei do texto, aliás muito mesmo, apesar de a imagem não lhe fazer jus.
;)

jorge vicente disse...

um abraço, maria!

jorge