In Nomine
(fotografia de Huib Limberg)
10.
atropa belladonna
tudo começou com a árvore. a minha estadia na casa. o silêncio do quarto da avó e a promessa de que lhe visitaria um dia destes. ela tem um pacto com o pó, vive rodeada de papéis velhos, daqueles que apenas nos lembramos quando surge um poema ou um recado escrito na vastidão da madrugada.
a árvore fica na parte de fora da casa. é velha, mais velha que os quadros e as fotografias que dominam todo o espaço. imagens de velhos antepassados, que mataram ou foram mortos. a jovem aristocrata que não sabia rezar as novenas e que implorava ao demo poder amar todos os homens. o jovem mestre que rasgava o corpo e que escrevia cartas de amor à divindade. a árvore, sempre a árvore, que era uma representação da riqueza e do poder. onde antes houvera um país.
na casa, não faltava nada. o brilho dos olhos da avó que eram os ramos e as raízes do meu mundo à deriva. e que não se salvaria se a árvore permanecesse como um troféu, a escrita sempre inconstante da memória.
nada permance no olhar do discípulo. apenas a madeira tingida a negro.
atropa belladonna
Jorge Vicente
4 comentários:
Já voltei. Agradeço os comentários. Vamos continuar a postar palavras de outros que desejávamos serem nossas...
Um abraço
Excelente este post na escolha da imagem e palavras.
E a figura "avó" sempre presente em todos nós.
Um abraço*
o teu nome.
a casa.
beijo.
/piano.
querido jorge, só hoje li este poema. foi a melhor coisa que me aconteceu depois de férias. muito obrigada, meu bom amigo. abraço-te.
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