yoga de corpo e alma
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escrito por jorge vicente às 17:25 8 comments
(desenho de polly jean harvey feito por grozdana tilotta, retirado daqui)
polly jean tinha um pequeno pássaro
que voava um pouco acima dos seus olhos:
dizia-lhe segredava-lhe bem junto aos
versos que o poeta não tem nome.
quando nasce, amanhece junto à
janela que fica ao bordo do cais,
perto dos bares, dos botequins da
cidade velha (não havia palavras
nessa altura, apenas o silêncio da
palavra pai ou da palavra mãe).
polly jean escrevia e o pequeno pássaro
sentava-se junto ao trono. um pequeno
pedaço de madeira que ornamentava
a cama desarrumada e os olhos desfeitos.
para onde olhas, para onde escreves
e por onde o teu corpo passa. junto à
cidade, há apenas cadeiras onde nos
podemos sentar e mesas vazias
onde te podes esconder do
rosto das pessoas.
o pássaro cantava e apenas uma
sombra alumiava o quarto: poderíamos
dizer que na cidade anoitecia e que a
liturgia dos pequenos corpos e das
grandes pessoas alumiava o espanto
dos poetas. se eu puder amar (escreveu
polly jean no seu diário de maio de noventa
e oito), traz-me um bocado de pele
para eu brincar ao amor.
jorge vicente
escrito por jorge vicente às 11:17 2 comments