16.6.11

mansões




(pintura de michael abrams, "caeruleus #10", 2011). Retirado daqui.


A estranha sensação de ouvir uma voz,
Ainda que pronunciada nas mais variadas formas.
Um poema, um esconjuro, o grito de um lobo.

A estranha sensação dessa voz se ouvir mais perto.
O coração abater. Mais rápido. Mais suave.
Mais lento que uma pluma beijando a pedra.
Opera-se-me a graça da Natureza.

A estranha sensação de o meu coração desaparecer.
Todo o meu corpo desaparece, só resta a pedra.
Abatem-se os corpos ao som da enxada do espanto.

A estranha sensação de tudo acontecer.
Todo o meu corpo é uma mansão,
Com imensas escadas de Ser.
Só resta a pedra.

Jorge Vicente

in Ascensão do Fogo. São Mamede de Infesta: Edium Editores, 2008.

4 comentários:

  1. Meu querido Jorge, este é um dos poemas que eu gosto mais do teu livro.
    Conjugas o ser no verbo do sentir.
    «A estranha sensação de o meu coração desaparecer.
    Todo o meu corpo desaparece, só resta a pedra.
    Abatem-se os corpos ao som da enxada do espanto.»
    Lindo, grande poeta. Sabes o quanto admiro a tua poesia.
    Bjito amigo em teu coração.

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  2. obrigado, querida amiga :)

    lembro-me bem como é que surgiu este poema: da leitura de um livro sobre mística. senti quase o corpo estremecer por dentro ao escrevê-lo :)

    muitos beijinhos
    jorge

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  3. uma mansão com enormes claustros .... :)
    gostei
    TMQ

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  4. Obrigado!

    Um abraço!
    Jorge Vicente

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