12.3.09

"avó, quando morreu o teu filho" de joan neet george



(pintura de edgar arceneaux, "cancer", 2008)


"Avó, quando morreu o teu filho
quente ao teu lado
na tua cama estreita,
a sua respiração forçada mantinha-te
inquieta
e acordava-te quando
suspirava
e parava.

Abraçaste-o durante a madrugada amarga
e de manhã
vestiste-o, penteaste-lhe os cabelos,
as tuas lágrimas subiam, mas não choraste
até ele finalmente jazer
entre as íris no túmulo,
a sua alma inexplicavelmente fugida para
[Deus. Ámen.

Mas avó, quando o meu filho morreu
querido Jesus, morreu duramente.
Um motor ao lado
da cama estirilizada
roncava, e assobiava e zumbia
enquanto ele cantava a sua dor -
notas graves e notas agudas
em compassos lentos
deslizando através da nuvem de drogas.

As minhas lágrimas, redundantes,
caíam lentamente
como glucose ou sangue
de um frasco.
E quando ele morreu
os meus olhos estavam secos
e deuses de bata branca
viraram costas." (1)

joan neet george


(1) GEORGE, Joan Neet apud SIEGEL, Bernie S. - Amor, medicina e milagres. 1ª ed. Lisboa: Sinais de Fogo, 2004. ISBN 972-8541-47-3. pg. 294, 295.

9 comentários:

  1. impossível não recordar os últimos dias de vida do meu avô ao ler este poema. um abraço, amigo jorge.

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  2. Passar aqui de manhã cedo, como quase sempre passo, é um murro no estômago, é um despertar para sentimentos encobertos.
    paula

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  3. A morte, a partida nunca conseguida de nós.

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  4. Tanto o poema como a imagem são bastante inquietantes mas de qualidade.
    Bjs e resto de bom fim de semana
    TD

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  5. Um abraço para ti.
    Gostei de passar por aqui e ler, e recordar...

    Bjs

    Dolores

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  6. e eu os últimos dias da minha avó, querida amiga.

    um grande beijinho
    jorge

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  7. ainda bem, paula.

    é para isso que servem estes textos. para nos alertarem, para sentirmos, para vivenciarmos com a pele o dom das palavras, palavras essas que podem ser de murro ou de carícia suave.

    um grande abraço
    jorge

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  8. nunca conseguida...

    um grande beijinho, arabica
    jorge

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  9. cara teresa,

    aqui nem é tanto a qualidade (ou a falta dela) que é importante, mas o poder da mensagem. o que diz, o que se sente, o que se transmite.

    um grande beijinho luminoso
    jorge

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